Depois de toda a idade suportada ano após anos, nossa mente vai evoluindo num sentido e involuindo noutro. Tipo assim (como dizem os mais jovens): acumula-se conhecimento e se locupleta de lembranças irreversíveis (explico, memórias de eventos vividos e não mais passíveis de repetição). A involução é o sofrimento danado de ver as imagens esmaecidas de nossas peripécias da juventude, ainda no vigor físico, sem possibilidade de revivê-las. Isso é atroz. Coisas até simples: dançar muito, pular carnaval, correr, jogar futebol, andar rápido, subir escadas de dois em dois degraus (oh, saudade...).
A diferença boa da idade provecta é podermos mandar tudo às favas sem culpa, pois nada mais nos freia, exceto essa merda da iniquidade do corpo pelado, dos dentes frouxos, dos cabelos pouquíssimos (e muito brancos) e das perspectivas derradeiras de chegar até ali, não mais até lá, por absoluta fragilidade física.
Pensei até numa reciclagem. Restou-me, no entanto, apenas a visão de congelamento, pra reativar-me séculos depois. A ciência está atrasada.
Serei mais objetivo e simples: saudade das confusões dentro das redações, dos vídeos travados obrigando-nos a improvisar no ar e ao vivo, nos entrevistados faltosos à última hora e os sem aviso (e nem desculpas pediam).
Mais objetivo e simples ainda: saudades do futebolzinho, das incursões pela região sul com o time de futebol de salão da emissora (ou o time de futebol de campo com sete jogadores). E assim éramos convidados para jogos e festanças inesquecíveis em Urussanga, Siderópolis, Araranguá, Praia Grande, Sombrio, Orleans, só para citar algumas cidades. O pessoal de televisão, principalmente, era cortejado como artistas famosos. Sentíamos imenso prazer nisso, é claro. Ainda mais sentindo o retorno de um trabalho artesanal, um jornalismo fecundo, voltado aos interesses específicos da região sul.
O futebol era somente o retrato dessa união conjuntural. A assinatura indelével do carinho recíproco nutrido entre os fãs e os (me permitam o abuso) “artistas”.