No início da Primeira Guerra Mundial, os alemães desfecharam violenta ofensiva contra franceses e ingleses, invadindo a Bélgica a caminho de Paris. Na guerra franco-prussiana de 1870 os alemães haviam anexado a Alsácia e a Lorena, mas suas ambições agora eram maiores: a formação de um grande império germânico.
A Alemanha havia declarado guerra à Bélgica pela recusa do seu soberano, o rei Albert, em franquear a passagem do seu território ao exército do Kaiser Guilherme II. Os alemães avançaram rapidamente e em poucos dias conquistaram as fortalezas de Liège e Namur, obrigando o exército belga a refugiar-se em Antuérpia. No final de setembro, após 1 mês de lutas, as forças teutônicas tinham devastado a Bélgica e estavam às portas de Paris, tendo encurralado os exércitos aliados entre os rios Marne e Sena. No entanto, um erro do ambicioso general Von Kluck, que pretendia ser o primeiro a entrar em Paris, permitiu a contra-ofensiva aliada. Von Kluck, comandante do I Exército, havia avançado muito rapidamente, extenuando suas tropas de infantaria, afastando-se dos demais exércitos alemães e das fontes de suprimento. Os franceses, abatidos após sucessivas derrotas, aproveitaram sua última chance e atacaram com todas as forças que restaram. Um fato curioso aconteceu: 6000 soldados que chegaram de trem a Paris foram transportados por 600 táxis, em duas viagens de 60 km da capital francesa à frente de batalha, no Marne. A vitória foi esmagadora, impedindo o avanço até Paris e mantendo os exércitos na região de Champagne por 4 longos anos, em uma desgastante guerra de trincheiras.
O livro “Os Canhões de Agosto”, da escritora americana Barbara Tuchman (excelente indicação do culto e voraz leitor Dr Marco Schmitz) descreve em minúcias o primeiro mês de guerra. O “Milagre do Marne” impediu a completa aniquilação dos aliados, o que mudaria a história do século XX. As atrocidades da guerra, com saques, estupros, fuzilamento de civis, incêndios, bombardeios e destruição de importantes patrimônios artísticos e culturais das nações revela a insensatez dos governantes, a exemplo do que ocorre atualmente na Ucrânia. A região de Champagne, por sua localização geográfica entre a Alemanha e Paris, foi o epicentro de inúmeros combates nos confrontos franco-germânicos.
A Cave Mercier em Epernay, com o imenso barril que foi levado a Paris por ocasião da Exposição Universal de 1889, a mesma que apresentou ao mundo a Torre Eiffel
Após a guerra os franceses construíram a Linha Maginot, extensa rede de fortificações ao longo do Reno da Suiça até a Bélgica, que julgavam inexpugnável. Na Segunda Guerra Mundial as divisões Panzer do General Guderian desviaram da linha, invadiram a Bélgica pelas Ardenas e em poucos dias entraram em Paris. Atualmente, após 67 anos de paz, a magnífica Catedral de Reims, sede da coroação dos reis franceses, as inúmeras caves com quilômetros de galerias subterrâneas, os belíssimos vinhedos e a qualidade do champanhe atraem milhares de turistas de todo o mundo. O livro Vinho e Guerra, de Don e Petie Kladstrup, retrata muito bem os eventos ocorridos nas regiões vinícolas da França, principalmente na Segunda Guerra Mundial.