Muitos pacientes, inconformados com a progressão inexorável de suas doenças crônicas ou revoltados pela perda de um familiar, transferem a culpa para a Medicina. No entanto, o seu avanço foi notável, principalmente nos últimos 150 anos.
Na Idade Média a mortalidade era enorme e a expectativa de vida não passava dos 40 anos. A peste negra de 1348 exterminou 1/3 da população europeia, os ferimentos de guerra eram cauterizados com óleo fervente, procedimento extremamente doloroso e frequentemente ineficaz na prevenção dos processos infecciosos.
Os marujos morriam às centenas vitimados pelo escorbuto nas grandes navegações do século XVI. Os diabéticos não viviam muito tempo, a paralisia infantil (poliomielite) deixava sequelas permanentes e o tétano condenava o doente a um fim lento, doloroso e terrível. As mulheres eram vítimas da febre puerperal, grave e letal infecção pós-parto e a sífilis provocava graves alterações neurológicas nos seus estágios finais. A tuberculose extinguia lentamente a força dos jovens, condenando-os a um fim trágico, como o ocorrido com muitos poetas, músicos e pintores românticos do século XIX. A população indígena das Américas foi quase exterminada em decorrência das doenças virais trazidas pelos colonizadores europeus.
Antes da descoberta dos microorganismos como causa de doenças, os principais enfoques da medicina preventiva e da saúde pública restringiam-se às medidas higiênicas. A introdução dos métodos antissépticos na cirurgia por Semmelweiss e Lister salvou muitas vidas. Após o grande trabalho de Pasteur demonstrando a existência das bactérias e a introdução das vacinações por Jenner, Salk e Sabin, praticamente desapareceram as grandes catástrofes provocadas pela varíola, cólera e difteria, que devastaram regiões inteiras até o século passado. A descoberta da anestesia por dois dentistas de Boston, Wells e Morton, no século XIX, auxiliou na redução da mortalidade e na mitigação do sofrimento. O combate aos processos infecciosos e inflamatórios foi notável com a descoberta da Penicilina em 1928, das Sulfas em 1935 e da Cortisona em 1948.
Os pacientes talvez tenham alguma dose de razão nas suas reclamações, mas não em relação à eficácia da medicina. Se por um lado os recentes avanços nos procedimentos diagnósticos e terapêuticos tornaram-na altamente eficiente, os custos proibitivos e o mau gerenciamento inviabilizaram estas conquistas para grande parte da população.
Sugestões
- Decameron, de Boccaccio, escrito durante a Peste Negra de 1347-48;
- A Peste, de Albert Camus, romance situado na cidade argelina de Oran em 1940 mas baseado em uma epidemia de cólera que dizimou grande parte da sua população em 1849;
- Os Noivos (I Promessi Sposi), livro de Alessandro Manzoni com extensas passagens sobre a peste de 1630 na Lombardia;
- O Requiem de Verdi, em homenagem a Alessandro Manzoni, em especial o “Recordare”;
- O filme “A História de Louis Pasteur”, de 1936;
- Os Micróbios e o Homem, episódio 1“O Inimigo Invisível”. Excelente série da BBC relatando a grande contribuição e o fim trágico do médico húngaro Ignaz Semmelweiss.