Por Benito Gorini
12/11/2024 - 09:32 Atualizado em 12/11/2024 - 09:39
A Coxilha Rica é um distrito rural de cerca de 100 quilômetros quadrados de extensão que abrange os municípios de Lages, Capão Alto e Painel. Localizado no interior da serra, sua paisagem é formada por um extenso planalto de campos ondulados, rios e araucárias. Além de paisagens deslumbrantes tem grande importância histórica. Foi importante via de ligação entre o sul e o sudeste do Brasil no século XVIII. Tropeiros passavam pela região levando o gado de Viamão a Sorocaba. Os Corredores das Tropas, de taipas, constituem um rico patrimônio histórico, arquitetônico e cultural, com mais de 100 km de extensão. Foram construídos por escravos, indígenas e peões, com o objetivo de evitar a dispersão dos animais e também a captura de gado de fazendas locais. Localiza-se entre o Passo de Santa Vitória, no Rio Pelotas, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, e Lages. A cidade serrana tornou-se uma importante base de apoio, com consequente desenvolvimento econômico. A pecuária é muito atuante em várias fazendas centenárias do trajeto, algumas transformadas em hotéis e pousadas. A Coxilha Rica, por sua beleza e tradição, deve ser incluída no destino preferido para quem gosta de aventura e contato com a natureza.
Por Benito Gorini
05/11/2024 - 14:49 Atualizado em 05/11/2024 - 14:53
As termas são conhecidas desde a antiguidade, como bem demonstram as ruínas das Termas de Caracalla em Roma e as Termas do Fórum em Pompeia. O auge das estações termais e de repouso ocorreu no século XIX, celebrizando diversas cidades europeias. St.Moritz, na Suíça, famosa pelas curas milagrosas de suas águas e Davos, pela excelência de seu clima frio e seco, atraíam os portadores de doenças osteo-articulares e pulmonares, na tentativa de mitigar seus sofrimentos. Baden-Baden, na Alemanha, atraía as cabeças coroadas e a aristocracia do século passado em busca das águas curativas e de seu magnífico cassino. A cidade orgulhava-se de suas termas, alardeando o poder de “torná-lo 5 anos mais jovem e alguns quilos mais leve”.
Muito interessante é a visita às cidades austríacas de Hallstatt e Bad-Ischl, nas proximidades de Salzburgo, a terra natal de Mozart. A região é internacionalmente conhecida pelas suas minas de sal do VI século a.C., as mais antigas do mundo. O sal era extremamente valioso por ser o melhor método de conservar os alimentos, sendo a origem do termo salário. A qualidade das fontes termais sobreviveu ao declínio das minas de sal por algum tempo. O grand-mond da época frequentava suas águas, mas a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas causaram um empobrecimento da nobreza. Além disso, a posterior descoberta de antibióticos, quimioterápicos, anti-inflamatórios, insulina e os enormes avanços da medicina no diagnóstico e tratamento das doenças acabaram ocasionando uma grande queda na procura pelas termas como opção paliativa ao alívio dos sintomas. Mas ainda é uma experiência única relaxar em uma estação termal após um exaustivo dia de visitas às inúmeras atrações turísticas da Europa. Ou então mergulhar nas tépidas águas de um resort depois de um cansativo giro de moto pelos fantásticos passos alpinos, como fizemos nos Bagni Vecchi em Bormio, da época do Império Romano. Mas não precisamos ir tão longe para desfrutar desta grande experiência sensorial. O estado de Santa Catarina é pródigo em fontes termais e uma delas, Gravatal, fica ao nosso lado.
Por Benito Gorini
22/10/2024 - 14:12 Atualizado em 22/10/2024 - 14:15
Estamos vivendo em uma época de reparação de grandes injustiças como a matança dos povos originários e a escravidão, fatos que até eram considerados “normais” pelos conceitos da época. Algumas pessoas questionaram esses atos bárbaros, mas enfrentaram muita resistência e oposição por suas ideias muito avançadas para o seu tempo.
O maranhense Antonio Gonçalves Dias, poeta romântico, jornalista e etnógrafo, nasceu em Caxias em 1823 e faleceu no naufrágio do navio Ville de Boulogne, nas costas de seu estado natal, em 1864. Graduou-se na prestigiosa Faculdade de Direito de Coimbra, onde compôs a famosa “Canção do Exílio”. Foi um dos primeiros a defender a abolição da escravatura mas ficou mais conhecido por sua luta em prol da causa indígena. O “I-Juca Pirama” é talvez o ponto mais alto de suas obras e de toda a poesia indianista. “Meu canto de morte guerreiros ouvi, sou filho das selvas na selva cresci, guerreiros descendo da tribo Tupí”, talvez seja o verso mais famoso. É patrono da cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras.
Héctor Roberto Chavero foi um compositor, cantor, violonista e escritor argentino. Nasceu em Pergamino, Buenos Aires, em 1908. Filho de pai quéchua e mãe basca, começou a publicar seus primeiros textos aos 13 anos, quando adotou o pseudônimo de Atahualpa, nome do último imperador inca, morto covardemente pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro. Posteriormente, defendendo fortemente a causa indígena, passou a se chamar Atahualpa Yupanqui, acrescentando o nome de outro imperador. Entre suas músicas mais conhecidas estão “Camino del Índio”, “Los ejes di mi carreta” e uma compilação de “Duerme Negrito”, canção de ninar muito popular. Mas a que mais me agrada é “Los Hermanos”. Alguns trechos são pura poesia: “com la esperanza adelante con los recuerdos detrás”; “nos perdemos por el mundo, nos volvemos a encontrar” e no final “Yo tengo tantos Hermanos que no los puedo contar. Y uma novia (“hermana” em outras versões) muy hermosa que se llama libertad”. Viveu muitos anos no exterior e faleceu em Nimes, na França, em 1992.
Atualmente, com nova mentalidade e revisão de antigos conceitos, me causa profunda decepção e indignação a homenagem a pessoas que causaram tanto mal a outros seres humanos, como uma praça na minha terra natal, Nova Veneza, em honra ao maior bugreiro de nossa história. A propósito, as Manas Bonetti, mosaicistas de grande qualidade com três anos de especialização em Spilimbergo – o maior centro de arte musiva da Itália e um dos maiores do mundo - estão resgatando o legado indígena em uma obra retratando a sua perseguição e morte. No próximo sábado em Urussanga ocorre um manifesto artístico em memória dos povos originários dizimados no sul catarinense.
Por Benito Gorini
15/10/2024 - 13:33 Atualizado em 15/10/2024 - 13:39
Sic transit gloria mundi: A glória no mundo é transitória. Vanitas vanitatum et omnia vanitas: Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Ambas as frases latinas têm relação com a brevidade do tempo na Terra. A última citação serve de introdução para o Eclesiastes, livro bíblico atribuído a Salomão, de temática pessimista mas com profunda reflexão relacionada à supremacia de valores espirituais sobre os valores materiais e superficiais. Enfatiza o uso da sabedoria para uma vida terrena bem vivida. Vários mestres da pintura se inspiraram nesses ensinamentos, produzindo obras primas de grande beleza. Particularmente interessante é a Santíssima Trindade de Masaccio, enorme afresco da Basílica de Santa Maria Novella, localizada ao lado da estação ferroviária de mesmo nome em Florença. Na predela, parte inferior da pintura, encontra-se um esqueleto com a inscrição “Eu já fui o que tu és e o que eu sou tu também serás”, uma lembrança da transitoriedade da vida e da fé como única salvação. Em outras pinturas o esqueleto é substituído pela caveira, o chamado “Memento Mori” - a lembrança que devemos ter sobre a finitude e o momento da morte – e assunto de muitas obras de grandes artistas.
Tommaso di Ser Giovanni di Simone, mais conhecido como Masaccio, nasceu em 1401 em San Giovanni Valdarno, na Toscana, e morreu muito jovem em Roma, aos 27 anos. No entanto, em sua curta existência, revolucionou a arte pictórica ao criar a perspectiva linear, uma nova técnica de pintura que dava a impressão de profundidade em um plano bidimensional. Seus trabalhos mais importantes encontram-se na Capela Brancacci da Igreja de Santa Maria del Carmine. Situa-se em Oltrarno, do outro lado do rio Arno, um pouco distante do Centro Histórico, onde se localizam as principais atrações turísticas da magnífica cidade de Florença, berço do renascimento e repleta de obras de arte. Vários pintores que o sucederam como Botticelli, Piero della Francesca, Leonardo da Vinci e Michelangelo se inspiraram em seus trabalhos.
Por Benito Gorini
08/10/2024 - 14:05 Atualizado em 08/10/2024 - 14:08
Em 1989, quando ocupava a presidência da Sociedade Catarinense de Oftalmologia participei de uma entrevista na extinta TV Eldorado, conduzida por Adilamar Rocha, no auge de sua competente atuação como âncora do jornalismo. O cantor Belchior, divulgando seu espetáculo em Criciúma, também participava do programa. Na breve conversa que tive com o artista deu para perceber a sua inteligência mas também um certo pessimismo e inconformismo. Belchior, nas letras de suas músicas como “Velha Roupa Colorida” - composição saudosista e nostálgica a respeito de sua juventude - faz referência à “She´s leaving home”, dos Beatles, “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan e “Raven”, poema do “poeta louco americano” Edgar Allan Poe. Mas também reconhece que “uma nova mudança em breve vai acontecer”. Outros trechos da música:
“O que há algum tempo era jovem e novo hoje é antigo”. A rapidez do surgimento e substituição de novas tecnologias é impressionante. Os computadores e celulares são exemplos clássicos. Aparelhos de alto desempenho são trocados por modelos mais novos, uma busca desenfreada por novidades e ostentação.
“No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Embora com outra conotação, a metáfora é Interessante e bem apropriada. A multimilionária indústria da moda, através de convincentes campanhas publicitárias, promove mudanças a cada estação e induz as pessoas ao consumismo exagerado.
A propósito, a música de Dylan tornou-se um clássico e uma das composições mais influentes do pós-guerra. Sua temática é sobre alguém que perdeu tudo após viver dias de opulência e glória. Será mera coincidência com a vida de Belchior ? Infelizmente o artista, culto e poliglota, não soube lidar bem com a sua vida privada, passando por sérias dificuldades financeiras no final de seus 70 anos de vida.
Muitas descobertas científicas são frutos do acaso ou da observação de fatos que passariam despercebidos para a imensa maioria das pessoas. Existem centenas de casos, mas selecionei três que sempre despertaram a minha curiosidade.
Eratóstenes, matemático, poeta, geógrafo, astrônomo e bibliotecário, nasceu no ano de 276 a.C. em Cirene, colônia grega da Líbia, e morreu em 194 a.C. em Alexandria. A partir da leitura de documentos presentes na famosa biblioteca, ele notou que ao meio-dia do solstício de verão o reflexo do sol podia ser observado no fundo, de um poço na cidade de Siene, atual Assuã. No entanto, na mesma data e horário esse fenômeno não acontecia em Alexandria. Como já era conhecido que os raios solares chegavam paralelos à Terra, só havia uma explicação: a Terra não era plana. Contratou um homem para medir em passos a distância entre as duas cidades. Com esse dado e o ângulo da sombra projetada por uma vara colocada na vertical em Alexandria, calculou com grande precisão a circunferência da Terra, um simples cálculo trigonométrico. A medida da época era o stadium, que convertida dá um total de 39.700 km, muito semelhante ao valor correto, de 40.075 km. Eratóstenes já sabia disso há mais de 2 mil anos e os terraplanistas não aprenderam até hoje.
Arquimedes, matemático, filósofo, físico, engenheiro e astrônomo grego, nasceu em 287 a.C. em Siracusa, na Magna Grécia de então, contemporâneo de Eratóstenes. Ao tomar banho em uma banheira acabou descobrindo a Lei do Empuxo, ou seja, a força exercida sobre um corpo imerso em um líquido, que é igual ao peso do volume de fluido deslocado. Ficou tão excitado com a descoberta que saiu correndo pelado pela rua exclamando: Eureka!Eureka! Parece que a história não é bem essa, mas é o que ficou para a posteridade, bem como o famoso episódio da destruição pelo fogo de galeras romanas utilizando espelhos côncavos que concentraram a luz solar. Si non è vero, è ben trovato. Arquimedes morreu em 212 a.C. , assassinado por um soldado romano, na tomada de Siracusa, após um cerco de 2 anos.
Sir Isaac Newton, matemático, físico, astrônomo e teólogo, nasceu em Woolsthorpe em 1642 e faleceu em Kensington em 1727. Estava descansando tranquilamente embaixo de uma árvore quando uma maçã caiu sobre sua cabeça (pelo menos é o que dizem). Deve ter ficado um pouco tonto, mas foi o bastante para Newton desenvolver importantes descobertas. No seu livro Principia formulou as leis do movimento e da gravitação universal e em outra obra, Ótica, apresentou uma sofisticada teoria cromática ao observar a dispersão da luz ao passar por um prisma, formando as cores do arco-íris. Seus achados, somados aos de Kepler, sepultaram de vez o conceito geocêntrico. Contribuíram também para reabilitar em definitivo o nome de Galileu Galilei, que quase foi condenado à fogueira por ter aderido ao heliocentrismo de Copérnico.
Varetas, sombras, água, maçãs e cérebros prodigiosos fizeram a diferença.
“Dizem que a mulher é o sexo frágil,
Mas que mentira absurda,
Eu que faço parte da rotina de uma delas,
Sei que a força está com elas”
Concordo plenamente com Erasmo Carlos. No entanto, creio que as próprias mulheres não acreditam nisso. Talvez por milênios de opressão e discriminação. Ou quem sabe por desinteresse, ou acomodação. A verdade é que se houvesse união elas poderiam dominar o mundo, pelo menos na sua parte democrática. Certamente o mundo seria muito melhor. E um grande exemplo é a atitude de um grupo de mulheres inconformadas com o descaso das autoridades e de grande parcela da população com relação aos maus tratos e abandono dos animais. Elas estão tentando reativar uma antiga associação de proteção aos animais ou então criar uma nova ONG. Eu, minha mulher Rute e vários amigos já participamos de ONG`s, mas os resultados não foram os esperados, pelo desgaste físico, emocional, financeiro e a falta de apoio do poder público. Os problemas seriam muito mitigados atualmente se as propostas encaminhadas a uma reunião realizada na Prefeitura Municipal de Criciúma há muitos anos tivessem sido implementadas.
E agora as eleições se aproximam. Exerça seu direito de voto com responsabilidade. Não venda seu voto nem se deixe enganar por propostas, projetos e promessas mirabolantes, típicas das campanhas eleitorais. Eleja pessoas idôneas, honestas, com um projeto de governo voltado para a geração de empregos, a saúde, a educação, a cultura, a preservação ambiental e o bem-estar animal (embora sejam poucas, certamente elas existem). E você, cara leitora, vote com consciência e de preferência em uma representante do seu sexo. Certamente você será bem representada.
O Brasil é um dos líderes mundiais em acidentes de trânsito. A taxa de mortalidade é muito alta, com 31.174 óbitos em 2023 por acidentes com meios de transporte terrestres. O custo socioeconômico é imenso, com mortes e sequelas incapacitantes acometendo geralmente pessoas em plena atividade laborativa. E o mais grave é que os acidentes ocorrem em sua maioria por desrespeito à legislação de trânsito. Dirigir embriagado, excesso de velocidade, ultrapassagens em locais proibidos, avanço de sinais vermelhos e utilização de celulares ao volante são infrações frequentes com consequências severas.
Outras infrações como estacionar em locais proibidos, sobre a faixa de pedestres ou em vagas especiais (deficientes físicos, idosos, gestantes e TEA) não geram lesões graves mas mostram a falta de civilidade e conscientização das pessoas. Lembrando que estacionar em vaga especial sem a devida credencial é infração gravíssima, com 7 pontos na CNH. E o próprio título da campanha visa pacificar a relação entre os condutores nas cidades. Gentileza gera gentileza, dirigir com agressividade gera reações agressivas.
A Semana Nacional de Trânsito vai ocorrer de 17 a 25 de setembro, com programação local a partir do dia 14. Entidades públicas e privadas estarão participando do evento com palestras, blitz educativa e simulação de um acidente com vítimas.
A Transmed - Centro de Avaliação de Condutores - também estará participando e parabeniza todos os voluntários que dedicam o seu tempo para conscientizar a população sobre a importância de respeitar a legislação de trânsito. Com a redução significativa do número de acidentes muitas vidas serão salvas e graves sequelas serão evitadas.
Por Benito Gorini
27/08/2024 - 14:38 Atualizado em 27/08/2024 - 14:47
Sempre fui um apaixonado pela Mitologia Greco-romana. Creio que as instituições responsáveis por investigações criminais têm a mesma paixão. Pelo menos utilizam com frequência termos mitológicos para denominar suas operações. No mundo das artes está influência é enorme, com livros, peças teatrais, filmes, esculturas, pinturas, sinfonias e óperas inspiradas no tema, algumas diretamente relacionadas a Caronte ou ao Hades. A peça teatral Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, as óperas Orfeu nos Infernos, de Offenbach e Orfeu e Eurídice, de Gluck são alguns exemplos.
Caronte é o barqueiro responsável por transportar as almas através dos rios Aqueronte e Estige, no Hades, o mundo dos mortos e também o nome de seu deus, o Plutão dos romanos. Caronte cobrava o óbulo pelos seus serviços. Por isso era comum a colocação de moedas na boca (ou sobre os olhos) dos falecidos para o devido pagamento. Quem não o fizesse seria transportado de graça, mas teria que ficar vagando pelas margens dos rios por 100 anos. Será que Bolsonaro - que por sinal é mito - e Lula também tiveram essa inspiração ao exigir 100 anos de sigilo para documentos comprometedores?
Mas voltemos ao assunto. Posteriormente foi criado um local para a alma dos justos, os Campos Elísios. Já os ímpios seriam condenados ao castigo eterno no tártaro, local no submundo com grutas, cavernas profundas e os locais mais terríveis do Hades. Seria este o destino da maioria dos políticos? Possivelmente. Pelo menos não teriam problemas para pagar o óbulo para Caronte. Como o Real está muito desvalorizado, o barqueiro só aceitaria Dólares ou Euros. Mas acho que os preferidos seriam os Francos-suíços.
Finalizando, fazendo uma pequena alteração no bordão de Sérgio Jockymann: Pensem nisso ... enquanto lhes digo até a próxima terça-feira.
Por Benito Gorini
20/08/2024 - 13:38 Atualizado em 20/08/2024 - 13:40
Após muitos anos voltei à Biblioteca Pública de Porto Alegre, uma das edificações mais bonitas da capital gaúcha. O prédio, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Estadual e Nacional, possui grande acervo e importantes documentos que preservam a história do Rio Grande do Sul. Nos meus tempos de adolescente, estudando no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, visitava com frequência a biblioteca. Houve muita deterioração do interior da construção com o passar dos anos. Apesar da recuperação da bela fachada e do restauro dos murais das paredes ao lado da escada que dá acesso ao segundo piso, muito trabalho tem que ser realizado. No térreo os murais estão em péssimo estado de conservação, bem como o maravilhoso conjunto artístico e arquitetônico das salas Mourisca e Egípcia do segundo andar.
Observando as poucas pessoas presentes, pensei na enorme diferença de costumes que ocorreram. Na década de 1960 o conhecimento era adquirido quase que exclusivamente pela consulta aos livros. O rádio era o principal meio de comunicação, a televisão estava no início e os jornais eram restritos a uma parcela da população. O tempo parecia passar mais devagar. Atualmente, com o advento do computador, dos celulares, dos milhares de aplicativos e das redes sociais, o tempo voa e a paciência inexiste. Os áudios e vídeos com mais de três minutos são descartados. Qualquer demora ao acessar os programas causa irritação. Os artigos, textos e blogs devem ser curtos e sucintos, tudo tem que ser imediato.
Embora os recursos tecnológicos modernos propiciem enorme vantagem na obtenção do conhecimento, facilitando as pesquisas e a elaboração de trabalhos científicos, a realidade é que a maioria da população os utiliza apenas para diversão. Sem contar as intrigas, calúnias e difamações tão comuns nas redes sociais, principalmente nessa época de polarização política.
Por isso, caro leitor, parabéns se você conseguiu chegar até aqui. É sinal que ainda existe um pouco do modus vivendi da velha geração. Saudades da velha biblioteca.
Em recente viagem à capital gaúcha - antes da catástrofe que se abateu sobre o estado vizinho - relatada no blog “A vibrante Porto Alegre” (clique aquipara conferir), passamos em frente ao Quartel do Exército próximo ao Parque da Redenção, local do extinto Doi-Codi, da época do regime militar. A fachada ostentava o ditado latino “Si vis pacem, para bellum.
Acho a frase falaciosa. A grandes potências se armam não para garantir a paz mas sim para atingir seus ambiciosos planos de conquistas e dominações. Pode demorar mas um dia tudo acaba, como deverá ocorrer com o sanguinário ditador Nicolás Maduro, que massacra seu próprio povo para se manter no poder. Até o poderoso Império Romano, que dominou o mundo por vários séculos, não resistiu às invasões bárbaras e acabou sucumbindo em 486 d.C. É bem verdade que é legítimo o direito de autodefesa mas os gastos estratosféricos com armamentos vão muito além do razoável. E com o advento da energia nuclear, com os milhares de mortes em Nagasaki e Hiroshima, nada está garantido. Basta uma mente perturbada disparar uma ogiva nuclear e tudo estará perdido. Einstein, questionado como seria a terceira guerra mundial respondeu: “Não sei como será a terceira guerra mundial mas sei como será a quarta: com paus e pedras".
Aliás, muitas invenções que teriam o objetivo de melhorar a vida humana acabaram se transformando em armas mortíferas. Santos Dumond, horrorizado pelo bombardeios na Revolução Constitucionalista de 1932, afirmou: “Meu Deus! Meu Deus! Não haverá meio de evitar derramamento de sangue de irmãos? Por que fiz eu esta invenção que, em vez de concorrer para o amor entre os homens, se transforma numa arma maldita de guerra? “. Suicidou-se em julho do mesmo ano. Felizmente - para uma alma sensível como a dele - não testemunhou os horrores dos dois dias de bombardeio de Dresden em 1945, onde morreram 25.000 pessoas, segundo dados oficiais.
O bombardeio de Dresden I Crédito : euronews youtube
E os seres humanos, com seu grande potencial para destruição, também têm enorme capacidade de realizar grandes feitos. A restauração de importantes centros europeus devastados pelas guerras é um exemplo. Quem teve a oportunidade de conhecer Berlim, Dresden, Hamburgo e Colônia pode constatar a reconstrução de importantes sítios devastados pela guerra.
E seria muito apropriado ouvirmos “Saturn”, de Stevie Wonder, a sabedoria de Saturno, o Mensageiro da Velhice, em contraponto aos conturbados e irracionais tempos comandados por Marte, o Mensageiro da Guerra.
Assistindo ao programa Paesi che Vai sobre os tesouros de Pádua, na Rai International, me ocorreu escrever sobre o Juízo Final. Reginaldo degli Scrovegni, rico e usurário, pelas suas más ações foi colocado no sétimo círculo do inferno na fabulosa Divina Comédia de Dante. Na Idade Média o pecado era considerado muito grave, condenando o pecador à danação eterna, conceito que sobre certo aspecto persiste até os nossos dias. Seu filho Enrico construiu uma capela em Pádua e contratou Giotto para decorá-la, uma tentativa de expiar os pecados do pai. Giotto, o primeiro pintor a romper com a tradição medieval de pinturas estáticas, pintou afrescos maravilhosos dando a impressão de profundidade em uma superfície bidimensional. O Juízo Final, no altar da capela, retrata Cristo no paraíso condenando os pecadores e concedendo aos eleitos a bem aventurança eterna.
Hieronimus Bosch, no seu famoso tríptico O Jardim das Delícias Terrenas, retrata o paraíso no painel da direita, o julgamento no centro e a condenação dos pecadores no painel da esquerda (direita do espectador). Bosch era um moralista com uma visão pessimista da humanidade, julgando que o ser humano, pelos atos que praticava, estava definitivamente condenado às trevas. Os temas dos quadros de Bosch são alegorias sobre os pecados, as virtudes e a insensatez dos seres humanos. Sua pintura era tão bizarra que elementos fantásticos, demônios, criaturas meio humanas, meio animais, povoavam um ambiente arquitetônico e paisagístico imaginário. Suas obras influenciaram os poetas simbolistas e pintores expressionistas e surrealistas. O perfil psicológico de seus personagens também auxiliou Freud a desenvolver seus conceitos psicanalíticos.
A fachada do Duomo de Orvieto - uma transição do românico para o gótico - é uma das mais belas da Europa. Na Capela San Brizio está a obra-prima de Luca Signorelli, uma série de enormes afrescos sobre o apocalipse e o juízo final. A Ascensão dos Justos para o Céu, a Queda dos Condenados no Inferno e a Ressurreição dos Mortos são retratadas. A obra do pintor caracteriza-se por rigoroso estudo anatômico, enfatizando os nus e dando realce à musculatura. Sua precisão certamente revela dissecções em cadáveres, proibidas na época. SIgnorelli participou da decoração das paredes laterais da Capela Sistina juntamente com Botticelli, Perugino, Ghirlandaio, Pinturucchio e Rosselli, contratados pelo papa Sisto IV, que deu origem ao nome da capela.
Michelangelo se inspirou nos trabalhos de Signorelli para compor o magnífico Juízo Final, trinta anos após concluir o teto da Capela Sistina. Utiliza o mesmo recurso dos pintores que o precederam, colocando Cristo no centro da composição julgando os vivos e os mortos. No entanto não tem uma visão tão severa e implacável em relação aos condenados. Os eleitos sobem para o céu o os condenados aguardam o barqueiro Caronte que os conduzirá ao inferno. O artigo “Orelhas de Burro, o Juízo Final e Il Braghettone”, sobre o mesmo tema, pode ser acessado. Clique aqui.
O Brasil é um dos líderes mundiais em acidentes de trânsito. A taxa de mortalidade é muito alta, com 31.174 óbitos em 2023 por acidentes com meios de transporte terrestres. O custo socioeconômico é imenso, com mortes e sequelas incapacitantes acometendo geralmente pessoas em plena atividade laborativa. E o mais grave é que os acidentes ocorrem em sua maioria por desrespeito à legislação de trânsito. Dirigir embriagado, excesso de velocidade, ultrapassagens em locais proibidos, avanço de sinais vermelhos e utilização de celulares ao volante são infrações frequentes com consequências severas. Felizmente a utilização do cinto de segurança, tão rejeitada inicialmente, já foi incorporada pela grande maioria da população. Dois eventos de grande importância aconteceram em Criciúma.
O “Maio Amarelo”, iniciativa mundial com o tema central “Paz no trânsito começa por você”, contou com a participação de várias entidades públicas e privadas, com palestras na Satc, blitz educativa na Avenida Centenário e simulação de um acidente automobilístico com vítimas, sendo uma fatal. O realismo da apresentação impressionou o enorme público presente no Parque das Nações, composto principalmente por jovens.
Entidades voluntárias que participaram do Maio Amarelo
Em junho foi realizada a palestra “Educando para o Trânsito”, na SIPAT do Bairro da Juventude. 400 jovens acompanharam a apresentação audiovisual, com programação abrangente. André Marcelino, Murialdo Romancini e Almir Fernandes apresentaram dados, imagens e vídeos impressionantes sobre acidentes de trânsito e suas consequências, como mortes e graves sequelas, a imensa maioria causados por falha humana. A plateia - composta por jovens entre 14 e 18 anos - participou ativamente com muitas perguntas sobre legislação, infrações e normas para obtenção da CNH. Alguns assuntos despertaram bastante interesse, como a direção sem habilitação, uso do celular ao volante e a utilização de bebidas alcoólicas.
A palestra “Educando para o Trânsito” no Auditório do Bairro da Juventude I
Crédito: Equipe Bairro da Juventude
Os palestrantes Murialdo Romancini, André Marcelino e Almir Fernandes
E a Semana Nacional do Trânsito em setembro se aproxima. Extensa programação já está sendo desenvolvida pelos vários órgãos ligados ao trânsito. E toda a equipe da Transmed - Centro de Avaliação de Condutores – coloca-se à disposição dos organizadores de tão importante evento.
Por Benito Gorini
02/07/2024 - 10:19 Atualizado em 02/07/2024 - 11:31
Na última quinta-feira tivemos o lançamento do livro “QUEM tem MEDO da CULTURA”, de Edson Busch Machado. O autor é descrito na orelha do livro como “artista irrequieto, curador independente, gestor atuante e controverso, crítico visceral, articulador, provocador, comunicador, professor aloprado, viajante, curioso, operário da cultura, colono social”. Pode parecer um exagero, mas tivemos a oportunidade de comprovar quase tudo em longo e agradável papo em petit-comité logo após a sessão de autógrafos. A composição do livro, de forma não cronológica, permite aos leitores selecionarem os assuntos de maior interesse no sumário, tornando a leitura leve e agradável.
Conversamos bastante sobre Joinville, onde Edson e o famoso irmão Juarez Machado moraram muitos anos. Exerci por quatro anos atividades profissionais na Clínica Sadalla Amin Ghanen e relembramos de eventos, fatos e pessoas da época. Enfim, um excelente livro para ser curtido não só como fruição, mas principalmente como aprimoramento cultural.
Duo Cerqueira-Alexandre
Na abertura do lançamento do livro de Edson Busch Machado tivemos o excelente concerto Encanto e Graciosidade. No programa obras dos compositores clássicos Schubert, Bruni, Fuchs e dos populares Carlos Gardel e Astor Piazzolla. O violinista Josenir Alves Cerqueira Júnior está concluindo o mestrado em música performance na West Texas A & M University, nos Estados Unidos. O violista Jaison Alexandre de Oliveira é graduado no Curso de Bacharelado em Música da Udesc. Muito interessante a apresentação do Duo, com informações sobre cada música e seu autor. Me fez lembrar dos Concertos para a Juventude da Ospa no Salão de Atos da Urgs, O formato educativo da iniciativa deveria ser seguido por outros produtores de eventos, principalmente os relacionados à música erudita, mais difícil de ser compreendida. O maestro Luiz Fernando São Thiago também tem realizado o mesmo conceito nos vários concertos da Camerata di Venezia. Por isso, como bem diz Edson Machado, NÃO devemos ter MEDO DA CULTURA.
Os nossos antepassados emigraram para o Brasil em situação de grave penúria, motivados pela grande instabilidade política, religiosa e econômica. As lutas pela unificação da Itália, a perda do poder temporal da igreja, a industrialização e o desemprego, com o consequente empobrecimento da população, foram importantes fatores da imigração, principalmente no norte da Itália, situado no meio do teatro de operações do conflito contra o império austro-húngaro. Aqui, I nostri antenati enfrentaram toda a sorte de problemas, transformando-se em autênticos desbravadores. Com a força de seus braços, a criatividade e a ousadia empresarial, forneceram o arcabouço para o enorme crescimento econômico e material de nossa região. A gastronomia, as danças folclóricas e o canto coral contribuíram sobremaneira na preservação das tradições.
Este importante legado, no entanto, não se fez acompanhar do desejado desenvolvimento de atividades artísticas mais elaboradas, em virtude das limitadas condições socioculturais da maioria de nossos colonizadores. Esta falta de harmonia no crescimento de nossa cidade persiste até hoje, caracterizada pela supremacia de valores transitórios e superficiais em detrimento de formas mais elevadas do pensamento humano que caracterizam a evolução de uma sociedade.
Este fato ficou bem evidenciado no grande evento realizado na Acic na semana passada por ocasião da comemoração dos 80 anos da entidade. O Auditório Jayme Antônio Zanatta estava lotado durante o desenrolar das atividades previstas no protocolo, como depoimentos, discursos, vídeos institucionais, etc. No início da brilhante apresentação da Camerata di Venezia a plateia começou a encolher. No final do concerto, pelo menos metade do público havia deixado o local. Infelizmente tenho observado que a frequência a atividades culturais tem diminuído acentuadamente. Talvez muitos prefiram conferir o que ocorreu acessando o YouTube ou acompanhando os comentários nas redes sociais.
Como contamos com apenas 9 anos de existência do Cultura Acic tenho esperança em uma maior participação da comunidade, principalmente em 2025, com uma ótima programação para comemorar os 10 anos do projeto.
Aliás, na próxima quinta-feira às 20h teremos o concerto do Duo Cerqueira-Alexandre e na sequência o lançamento do livro “QUEM tem MEDO da CULTURA” de Edson Busch Machado, com distribuição gratuita e sessão de autógrafos. Eventos imperdíveis.
Há poucos dias li um interessante artigo na BBC que descrevia o tempo como mera ilusão, após a comprovação da Teoria da Relatividade Geral de Einstein. Mas deixando as elucubrações científicas e filosóficas de lado, o tempo é bem real para o comum dos mortais. Carlos Gardel e Alfredo Le Pera compuseram Volver, em 1934. Um trecho da letra do brasileiro Le Pera já demonstrava preocupação com a inexorável passagem do tempo: “Volver, con la frente marchita las nieves del tiempo platearon mi sien; sentir que es um soplo la vida, que veinte años nos es nada”. E talvez tenha sido até uma premonição, pois Gardel e Le Pera faleceram no ano seguinte em um acidente aéreo em Medellin na Colombia. Lá se vão 90 anos do famoso tango. E embora o tempo passe da mesma forma para todos, a sensação para muitos é que ele passa mais rapidamente, principalmente para os que têm mais passado que futuro.
Mas toda essa conversa relacionada ao tempo e à música é só uma introdução para um evento muito importante: os 80 anos da ACIC, instituição com grande participação no progresso e pujança de Criciúma. As ilustres personalidades de nossa região que já comandaram a entidade estão retratadas em quadros expostos no hall principal. Na Galeria de Arte serão exibidos oito painéis, com textos do professor e historiador Alcides Goulart Filho e da jornalista e assessora de comunicação da ACIC Deize Felisberto. Cada painel relata uma década de relevantes acontecimentos que guardam relação com a associação empresarial.
Particularmente tenho uma dívida de gratidão com o ex-presidente César Smielevski e sua grande visão de futuro, que percebeu a importância de envolver a entidade - primordialmente dedicada a atividades econômicas - com educação e cultura, formas de elevar o nível da cidade e situá-la em melhor posição no ranking do IDH, importante indicador da qualidade de vida. Moacir Dagostin e Valcir Zanette, que o sucederam na presidência, continuaram a apoiar a iniciativa, sendo a única entidade empresarial do estado a contar com um projeto e espaço cultural.
E hoje teremos no Auditório Jayme Zanatta o recital da Camerata di Venezia, sob a competente regência do maestro Luiz Fernando São Thiago. No programa um repertório variado, com músicas clássicas mas também um approach mais moderno, como Hey Jude e The best of Queen, agradando a todos os gostos. E no próximo ano os integrantes do Cultura ACIC - Iara Gaidzinski, Salete Budni Milanesi, Julita Volpato Gomes e Benito Gorini Borges - estarão programando grandes eventos, como comemoração aos dez anos do Projeto.
Procurando material para a exposição “Acic 80 anos” – que ocorrerá na próxima semana na sede da entidade – aproveitei para selecionar alguns livros para releitura. Entre eles “Crônicas”, de Gundo Steiner, um compêndio de textos publicados entre 1965 e 2000, selecionados pelo autor e revisados por Nei Manique.
No dia 19 de setembro de 2003 muita felicidade por comemorar os meus 50 anos junto aos familiares. Mas, ao mesmo tempo, grande tristeza pelo falecimento de Gundo Steiner, aos 60 anos de idade. Brilhante advogado de nossa cidade, era natural de Forquilhinha, que gerou – entre outros - eminentes personalidades do nosso país, como os irmãos Dom Paulo Evaristo e Zilda Arns, por sinal parentes de Gundo. Destacou-se em diversas atividades e setores do conhecimento humano, como atleta, poeta, escritor, presidente da OAB de Criciúma e primeiro Presidente da Academia Criciumense de Letras, entre outros. Tive a honra e o prazer de conviver com Gundo nos encontros semanais no Restaurante Don Nilton, dos saudosos Nilton Gaidzinski e esposa. Embora não fizesse parte do seu seleto grupo de amizades, eu me considerava um amigo, pela gentileza e respeito com que recebia um aspirante às letras. Sempre me convidava para sentar à sua mesa com um asseyez vous, embora creio que preferisse o idioma alemão, utilizado em muitos artigos do seu livro. Os elogios de alguém já consagrado nos meios literários aos meus artigos nos extintos Jornal da Manhã e Tribuna do Dia, me incentivavam, mas, ao mesmo tempo, exigiam um cuidado redobrado, pois Gundo, com sua maior experiência, também sabia ser crítico. Por mais de uma vez sugeriu o meu ingresso na ACLe. Argumentei que me sentia muito honrado com o convite, mas que não me julgava merecedor porque até então não havia escrito nenhum livro. Ele contra argumentava dizendo que este detalhe não era uma condição sine qua non para a admissão na academia. Mas o tempo foi passando até a triste notícia de sua morte. Pensei então em me candidatar a sua vaga na ACLe, com a grande honra que teria em substituir figura de tamanha envergadura. Mas os acadêmicos preferiram um outro candidato e eu recusei convites futuros. O que pretendia era ingressar na cadeira 12, deixada vaga por Gundo. Como não foi possível, esqueci do assunto. Mas continuo a escrever, esperando que lá do alto me venha a inspiração para bons textos. Como os artigos produzidos por Gundo nas suas “Crônicas” obra de refinado humor e boutadesinteligentes, que já acabei de reler.
O desastre de proporções bíblicas que se abateu sobre o estado do Rio Grande do Sul vem corroborar o que os ambientalistas já falam há muito tempo. Medidas urgentes são necessárias, mas poderosos interesses de fortes economias poluidoras retardam todo o processo. Muitos negacionistas afirmam que o planeta já experimentou ciclos de resfriamento e aquecimento, o que é verdade. No entanto, os estudiosos do assunto informam que desequilíbrios extremos de temperatura, como fortes ondas de frio ou calor, estão ocorrendo muito rapidamente e têm relação com o aquecimento global.
A UNESCO relacionou as geleiras que fazem parte do Patrimônio Natural da Humanidade e que vão desaparecer em 30 anos caso não sejam revertidas as políticas climáticas. A Internet aceita tudo em todas as áreas do conhecimento humano. As opiniões e comentários sem embasamento científico proliferam nas redes sociais, pródigas em fake news. Por isso temos que pesquisar e avaliar o que foi postado e nada melhor do que uma experiência pessoal sobre o assunto. Tive a oportunidade de conhecer bem os Alpes em viagens de trem, ônibus, carro ou moto, e posso afirmar com certeza que as geleiras estão diminuindo assustadoramente e modificando as paisagens alpinas. A Geleira do Ródano, ao lado do Passo Furka, uma das estradas mais bonitas da Suíça, está com uma cobertura de lona branca para reduzir o derretimento do gelo.
Rhonegletscher, a Geleira do Ródano. A cobertura plástica reduz o derretimento em torno de 70% l Vídeo: Mazinho Rocha
Na Geleira Morteratsch, próxima a St. Moritz e ao lado de uma estação de trem do famoso Bernina Express, placas foram colocadas informando o recuo do gelo de acordo com o ano.
Mas o efeito mais notável se encontra na Geleira Pasterze, a maior dos Alpes do leste. No início do século XX a geleira ocupava todo o espaço, quase ao nível do mirante Kaiser Franz Joseph Höhe. Hoje a geleira recuou e perdeu grande parte de sua cobertura, permanecendo no fundo do vale. O local é um dos maiores destinos turísticos da Áustria, com magnífica visão do Grossglockner, a montanha mais alta do país com 3.797 m.
Na Itália há pouco tempo uma avalanche com 11 mortos atingiu a Marmolada, a montanha mais alta das Dolomitas, na bela região entre o Vêneto e o Trentino. As altas temperaturas causaram o destacamento de um “serac”, um enorme bloco de gelo. No nosso Giro Alpino passamos por Canazei, ao lado da Marmolada. E em Bolzano, bem próximo, a temperatura era de 42°C.
Nos Alpes não é mais possível esquiar em muitos locais em que a neve ocorria com frequência. E infelizmente a situação tende a piorar, mesmo se medidas forem tomadas agora para minimizar as consequências do efeito estufa.
Por Benito Gorini
28/05/2024 - 06:04 Atualizado em 28/05/2024 - 08:16
O Brasil é um dos líderes mundiais em acidentes de trânsito. A taxa de mortalidade é muito alta, com 31.174 óbitos em 2023 por acidentes com meios de transporte terrestres. O custo socioeconômico é imenso, com mortes e sequelas incapacitantes acometendo geralmente pessoas em plena atividade laborativa.
E o mais grave é que os acidentes ocorrem em sua maioria por desrespeito às normas de trânsito. Dirigir embriagado, excesso de velocidade, ultrapassagens em locais proibidos, avanço de sinais vermelhos e utilização de celulares ao volante são infrações frequentes com consequências severas.
Felizmente, a utilização do cinto de segurança, tão rejeitada inicialmente, já foi incorporada pela grande maioria da população.
Eu e meu colega, o Dr Anilton Antonelli, operamos dezenas de casos de perfurações dos globos oculares causados por colisões, às vezes em baixa velocidade. Lembro de um caso de um condutor que perdeu a visão de um olho e permaneceu apenas com percepção de vultos no outro olho. E ele estava a 40 km/h.
Por isso merece todo o nosso reconhecimento aos voluntários que realizaram a campanha “Maio Amarelo”, iniciativa mundial com o tema central “Paz no trânsito começa por você”. Várias entidades públicas e privadas participaram do evento, com palestras na Satc, blitz educativa na Avenida Centenário e uma simulação muito realista de um acidente automobilístico com vítimas, sendo uma fatal.
Almir Fernandes - que presta importante voluntariado em diversas ações sociais em parceria com uma grande equipe multi-institucional - me revelou que pelo menos 34 entidades poderiam participar de um programa mais abrangente, talvez de periodicidade mensal. E contando com tantos colaboradores seria muito fácil o planejamento de palestras educativas junto às escolas. E os meses de maio e setembro (semana nacional do trânsito) ficariam reservados para atividades mais abrangentes. Podem contar com a colaboração dos 14 médicos-peritos do Centro de Avaliação de Condutores-Transmed.
Simulação de acidente de trânsito I Equipe de voluntários do Maio Amarelo:
Que falta nos faz o Papa João XXIII. No Jubileu do Ano 2000, visitando a Basílica de São Pedro, eu fazia comentários a um grupo de brasileiros sobre os Papas e o que eles colaboraram na construção da enorme basílica. Notei que um senhor nos observava.
Quando o grupo se dispersou ele se aproximou e ficou curioso sobre os comentários que eu havia feito. Ele estava aposentado como funcionário do Vaticano e havia trabalhado para seis papas. Falou sobre o severo e conservador Pio XII, o bondoso João XXIII, o culto e reservado Paulo VI e o papa sorriso João Paulo I. Não fez muitos comentários sobre João Paulo II, o papa em exercício.
Eu havia lido o livro “Em Nome de Deus”, em que o escritor britânico David Yallop descreve um complô envolvendo o Monsenhor Marcinkus, do IOR – Istituto per le Opere di Religione, o Banco do Vaticano - Roberto Calvi, do Banco Ambrosiano, Michele Sindona, da Máfia e Lício Gelli, da Loja Maçônica P2.
Perguntei sobre o livro e a morte suspeita do papa João Paulo I. “Non si può parlare”, foi a sucinta resposta. Mas rasgou elogios ao papa João XXIII, segundo ele o melhor de todos. Em 1962, no incidente da Baía dos Porcos em Cuba, o papa foi fundamental na mediação entre Kennedy e Kruschev, evitando o que poderia ter sido uma guerra nuclear.
E na encíclica “Pacem in Terris” demonstrou todo o seu pacifismo e amor pela humanidade, oferecendo sugestões sobre desarmamento e fraternidade entre os povos. Mas os inúmeros conflitos, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e Israel e os Palestinos, mostram que seus belos ensinamentos não foram ouvidos, preponderando o “si vis pacem para bellum”, a máxima seguida à risca pelos estados armamentistas.
No nosso país, no desastre que se abateu sobre os nossos vizinhos e irmãos gaúchos, ao invés de se buscar a conciliação e a união na tentativa de mitigar o sofrimento e desespero de milhares de pessoas, o discurso de ódio produzido por grupos ideológicos de extrema esquerda e direita nas redes sociais nos enche de repulsa e indignação. Como já dizia Aristóteles, “o sábio não diz tudo o que pensa mas pensa sobre tudo o que diz”.
Os idiotas, ao contrário, não pensam sobre o que dizem, espalhando fake news e comentários abomináveis, típicos de indivíduos de baixa estatura moral.
Interessante é a coincidência de Ângelo Roncalli (João XXIII) e Albino Luciani (João Paulo I) serem naturais de cidades intimamente ligadas à imigração italiana para a nossa região. Roncalli nasceu em Sotto il Monte, na província de Bérgamo, e Luciani em Canale d’Agordo (denominada Forno di Canale até 1964), na província de Belluno. Luciani foi padre em Belluno e bispo em Vittorio Veneto, cidade irmã de Criciúma. O pai de Albino Luciani, embora não tenha emigrado, foi obrigado a trabalhar na Suíça para poder sustentar sua família. Cidades do Vêneto e da Lombardia forneceram o principal contingente de imigrantes para o sul-catarinense. Além disso, ambos os papas foram Patriarcas de Veneza.