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Por Benito Gorini 19/02/2025 - 15:56 Atualizado em 19/02/2025 - 16:06

Da Praça São Pedro ao Castel Sant'Angelo

Os três roteiros dos blogs anteriores se localizavam no centro histórico de Roma, dentro das antigas muralhas construídas pelo imperador Aureliano em 270 d.C. e de fácil acesso. Já o Vaticano é mais distante e um pouco complicado para se fazer a pé. Para quem não quiser correr o risco de ser furtado pelos borseggiatori (batedores de carteira), o melhor é participar de um tour guiado. Mas se preferir ir de Metrô tome a linha vermelha e desça na Estação Otaviano, bem perto da entrada dos Museus do Vaticano, nossa primeira escala do roteiro. O museu é gigantesco e seriam necessários vários dias para uma visita abrangente. Um roteiro bem básico levará no mínimo toda a manhã. Locais mais visitados : escadaria helicoidal, Pátio da Pinha ( Cortile della Pigna), Pátio do Belvedere - onde estão as esculturas de Laocoonte e seus filhos e o Apolo de Belvedere - as Salas dos Mapas, das Tapeçarias e de Rafael, com o famoso afresco “A Escola de Atenas”. O ponto alto é, sem dúvida, a Capela Sistina.

O Pátio da Pinha
A Capela Sistina, com o teto e o Juízo Final de Michelangelo e os afrescos dos pintores citados no texto I Fonte: romaemportugues.com.br

Impressionados pelo maravilhoso teto de Michelangelo os turistas não prestam atenção às paredes laterais, com obras de grandes pintores como Botticeli, Perugino, Ghirlandaio, Rosseli e Luca Signorelli. Só para se ter uma ideia Ghirlandaio foi mestre de Michelangelo e Perugino de Rafael. Deixe a Capela pela porta da direita que dá acesso direto à Basílica de São Pedro, sem necessitar de um novo e demorado procedimento de fiscalização. Entre pela Porta Santa, a primeira à direita, que se abre a cada 25 anos, por ocasião do Jubileu. Estive presente no ano 2000 e obtive a Indulgência Plenária, com todos os pecados perdoados. Terei que retornar este ano para conseguir a absolvição dos pecados dos últimos 25 anos (sto scherzando, como se diz em italiano). Ao adentrar a Basílica, logo à direita, a Pietà de Michelangelo, uma das quatro do genial escultor e a única assinada, pois ninguém acreditava que um jovem de 23 anos pudesse esculpir tal obra-prima. Duas outras obras estão em Florença e a quarta, a Pietà Rondanini, concluída no final de sua longa existência, está no Castelo Sforzesco de Milão.

A Pietà de Michelangelo I Fonte: Wikipedia

Em direção ao altar se encontram várias capelas e a estátua de bronze de São Pedro. Uma interessante linha no piso central mostra o tamanho de outras igrejas em relação à Basílica do Vaticano. No altar-mor o fabuloso baldaquino de Bernini, com a tumba de São Pedro ao lado. Bem próximas duas escadarias descem em direção ao “Grotto”, a necrópole do Vaticano, com os túmulos de muitos papas. Saindo da basílica a Praça São Pedro com as fontes gêmeas, o Obelisco de Heliópolis e as colunas de Bernini, que parecem abraçar os visitantes.

A Praça São Pedro

Em curta caminhada, acompanhando o Corredor do Borgo, chega-se ao Castel Sant’Angelo, construído como mausoléu do imperador Adriano mas que serviu como fortificação e abrigo dos papas. Em 1527 as tropas do imperador Carlos V invadiram Roma, saquearam e massacraram os defensores da cidade, inclusive 147 Guardas Suíços que protegiam o papa Clemente VII ( Giulio de Medici ), que havia utilizado o corredor e se refugiado no Castel Sant’Angelo. A mãe do papa era Fioretta Gorini e o pai Giuliano de Medici, morto na Conjuração dos Pazzi em pleno Duomo de Florença. Será que vem daí o meu interesse pelos papas?

O Corredor do Borgo, também conhecido como Il Passeto, liga os aposentos papais ao Castel Sant’Angelo
O Castel e Ponte Sant’Angelo sobre o rio Tibre, com dez anjos nos pedestais

Se tiver tempo e disposição para uma boa caminhada suba a colina do Gianicolo, visite os monumentos em homenagem a Garibaldi e Anita e desfrute da fantástica vista de Roma. Desça a colina em direção da Porta San Pancrazio e visite o Museu Garibaldi. E como já estará no bairro boêmio de Trastevere, aproveite para um happy-hour nos vários bares ou um jantar nas tratorias.

Leia Mais

  • Grandes Pecadores, Grandes Catedrais, de Cesare Marchi

  • Os Bórgias (The Family), último livro de Mario Puzo, também autor de O Poderoso Chefão

  • O terceiro capítulo do livro A Marcha da Insensatez, de Barbara Tuchmann, sobre os papas do renascimento

Assista

  • Agonia e Êxtase, filme de 1965 sobre a construção do teto da Capela Sistina. Charlton Heston como Michelangelo e Rex Harrison no papel do Papa Júlio II

  • Sandálias de Pescador, de 1968 com Anthony Quinn no papel do papa

  • Conclave, filme sobre a eleição do papa Pio II em 1458 mas enfatizando a participação de Rodrigo Borgia, o futuro Papa Alexandre VI, o mais corrupto da história

  • O Conclave, ficção de 2024 com Ralph Fiennes no papel principal e concorrente ao Oscar


 

Por Benito Gorini 04/02/2025 - 14:11 Atualizado em 04/02/2025 - 14:17

A fachada simples da Basílica de San Pietro in Vincoli não revela o tesouro guardado em seu interior : o magnífico Moisés de Michelangelo, uma das mais belas esculturas da história da arte. As correntes que aprisionaram São Pedro, que dão nome à Igreja, estão no altar-mor.

O Moisés, de Michelangelo. O escultor, impressionado pela perfeição da obra, teria dito: “Parla” I Credito: cenciturismo.com.br

Descendo a ladeira do Esquilino, a mais alta das sete colinas de Roma, chega-se ao Coliseu, iniciado em 72 d.C. pelo imperador Vespasiano mas inaugurado por seu filho Tito, oito anos depois. Foi palco de sangrentas lutas entre feras e gladiadores. Embora popularizadas pelo folclore e filmes, não há evidências históricas da execução de cristãos no Coliseu. Ao seu lado ergue-se o enorme Arco de Constantino, que em 313 d.C. com o Édito de Milão deu liberdade de culto aos cristãos.

O Arco de Constantino e o Coliseu

O ingresso para o Coliseu também é válido para o Palatino e o Fórum Romano, nosso próximo destino. Logo no início surge o Arco de Tito, relembrando a esmagadora vitória do general e futuro imperador sobre os judeus em 70 d.C. originando uma diáspora maior que a do Cativeiro na Babilônia. Tito saqueou e destruiu o famoso Templo de Jerusalém, trazendo para Roma tesouros como a Menorá de ouro e as Trombetas de prata.

O Fórum Romano

Em poucos passos surgem as ruínas da grandiosa Basílica de Maxêncio-Constantino, a maior edificação do Fórum. Um pouco a frente o Templo e Casa das Virgens Vestais e no final, próximo ao Campidoglio, o Arco de Sétimo Severo e o Cárcere Mamertino, local da prisão de São Pedro. Fazendo um pequeno desvio chega-se à Via dos Fóruns Imperiais. Do outro lado da avenida construída por Mussolini surgem o Templo de Júlio César e o Mercado, Templo e Coluna de Trajano, imperador que levou o Império Romano a conquistar a sua maior extensão territorial. A bela Coluna de Trajano, em mármore, registra a vitória de Roma sobre a Dácia, atual Romênia. O romeno, língua românica similar ao italiano, originou-se da dominação romana.

Coluna de Trajano, toda em mármore, com baixos relevos em espiral até o topo e o Vitoriano ao fundo I Crédito: nationalgeographic.pt

O Campidoglio é nosso próximo destino. Os Museus Capitolinos ocupam os Palácios Conservatório e Novo. A Prefeitura de Roma esta instalada no Palácio Senatório. No centro da praça, desenhada por Michelangelo, está a estátua equestre de Marco Aurélio. Os escultores renascentistas Verrocchio (mestre de Leonardo da Vinci) e Donatello se inspiraram na obra-prima para criarem as estátuas equestres dos condottieri Colleoni, em Veneza e Gattamelata, em Pádua.

Pausa para descanso no Campidoglio. Aproveite para encher sua garrafa de água em uma fonte bem em frente à coluna com a loba romana

Deixando a praça, a maioria dos turistas desce a íngreme escadaria e segue à direita em direção à Piazza Venezia e o gigantesco Vitoriano, em homenagem a Vitório Emanuele II. O monumento é detestado pelos romanos que o apelidaram de “bolo de noiva” ou “máquina de escrever”. Mas sugiro seguir pelo lado contrário, um roteiro com muito conteúdo histórico, arquitetônico e religioso. Descendo a suave colina contornando o Teatro de Marcelo chega-se à Sinagoga, às margens do Rio Tibre. O edifício de três pavimentos no antigo gueto judeu é um belo exemplo de construção utilizando as ordens arquitetônicas Dórica, Coríntia e Jônica. Retornando um pequeno trecho atravessamos a Ponte Fabrício, de 62 a.C., a mais antiga de Roma, e chegamos na Isola Tiberina. A ilha, em formato de um barco, homenageia Esculápio, o nome latinizado de Asclépio, o Deus grego da Medicina. Desde o início a ilha esteve ligada ao tratamento de doenças, legado que persiste até hoje.

A Isola Tiberina com o Hospital Fatebenefratelli e as pontes Fabrício e Céstio I. Crédito: romeguidetour.it

A Ponte Céstio comunica a ilha com o Trastevere, bairro repleto de restaurantes, bares e agitada vida noturna.

Leia Mais

  • Vidas dos Doze Césares, de Suetônio

  • A Queda. Diogo Mainardi descreve com precisão o Campo Santi Giovanni e Paulo, ao lado da Scuola Grande di San Marco, onde nasceu seu filho Tito, com paralisia cerebral. A estátua de Colleoni fica na Praça


 

Assista

  • A Princesa e o Plebeu, filme de 1953 dirigido por William Wyler. Gregory Peck e Audrey Hepburn passeando de vespa por Roma e a mão “engolida” na Bocca della Verità

  • Benhur, com a famosa corrida de bigas no Circo Máximo, ao lado do Palatino. Filme de 1959 também dirigido por William Wyler e estrelado por Charlton Heston

  • O Gladiador, com cenas da morte de Marco Aurélio em Vindobona, atual Viena

 


 

Por Benito Gorini 28/01/2025 - 17:01 Atualizado em 28/01/2025 - 17:07

No blog anterior, abordamos o roteiro Campo di Fiori-Pantheon. Neste segundo artigo iniciamos com a Piazza del Popolo, na extremidade norte de Roma. Os viajantes originários do Adriático, chegando pela Via Flamínia, se deparavam com enormes muralhas e adentravam a cidade pela magnífica Porta del Popolo, do século XVI. Ao lado esquerdo do pórtico fica a Igreja de Santa Maria del Popolo, celebrizada por cenas da Capela Chigi - iniciada por Rafael e concluída por Bernini - no filme Anjos e Demônios. Os pontos de maior interesse da igreja, até então, eram as obras da Capela Cerasi “A Conversão de São Paulo” e “Crucificação de São Pedro”, de Caravaggio, sobrepujadas pelo grande sucesso do filme.

A Porta del Popolo, com a Igreja de Santa Maria ao lado

No centro da enorme praça, no meio da Fonte dos Leões, ergue-se o majestoso obelisco trazido a Roma por César Augusto, um dos 13 obeliscos egípcios da cidade eterna. Se tiver bom preparo físico suba até os Jardins do Pincio, com espetacular vista da cidade e da Basílica de São Pedro.

A Piazza del Popolo, com o belvedere dos Jardins do Pincio

Continuando na praça siga para a Via del Corso - entre as igrejas gêmeas Santa Maria dei Miracoli e Santa Maria de Montesanto – com grande comércio de lojas mais acessíveis. Mas se quiser ( e puder) gastar muitos euros siga até a requintada Via del Condotti, vire à esquerda e se delicie com as lojas Gucci, Prada, Hermès, Bulgari, Ferragamo, Armani e outras grifes famosas. No fim da rua desfrute da atmosfera romântica do Caffè Greco. Músicos e poetas do século XIX frequentavam o famoso café, no local desde 1760. Logo em frente “voila”, ou melhor, “guarda” (no dialeto da minha Veneza natal se fala “varda”), surge a fantástica vista da Piazza e Scalinata di Spagna.

A Fonte da Barcaccia e a Scalinata di Spagna

Na base da praça fica a Fontana da Barcaccia, de Bernini, no início da escadaria a antiga casa dos poetas românticos Keats e Shelley e no topo a Igreja francesa Trinità dei Monti. Se não quiser subir os 135 degraus utilize o elevador da estação de metrô Spagna, bem ao lado. Afinal, descer é bem menos cansativo e ainda teremos uma boa caminhada até a Fontana de Trevi, o nosso próximo destino. 

A Igreja Trinità dei Monti, no topo da escadaria. Ao lado fica a Vila Medici, sede da Academia Francesa e local de residência dos vencedores do Prêmio de Roma, criado em 1663 por Luis XIV

Saindo da praça passamos em frente da Colonna della Imacolattta - construída pelo papa Pio IX para celebrar o dogma da Imaculada Conceição - e seguimos por vias estreitas e tortuosas até chegar a Fontana di Trevi, sempre superlotada. Muito cuidado com os batedores de carteira, um grande problema na Europa em locais muito movimentados. A fonte foi construída pelo papa Clemente XII, o mesmo que excomungou os maçons em 1738. Uma breve digressão: o bom, carismático e ecumênico papa João XXIII tinha uma atitude condescendente em relação aos maçons. Infelizmente o liberal papa Francisco não comunga do mesmo pensamento. Mas voltemos ao nosso passeio. A cena do banho de Anita Ekberg e Marcelo Mastroiani na Fontana di Trevi no filme A Dolce Vita, de Fellini, tornou-se uma das mais icônicas da história do cinema.

A sempre movimentada Fontana di Trevi

Finalizamos o nosso passeio subindo uns poucos degraus e chegando na vizinha Piazza del Quirinale, localizada em uma das sete colinas de Roma (as outras são Esquilino, Aventino, Palatino, Celio, Campidoglio e Viminale). O Palazzo Quirinale, residência oficial da Presidência da República, fica na praça. Em frente uma fonte, mais um obelisco (mamma mia, será que estamos no Egito) e as esculturas de Castor e Pólux, patronos da equitação.

A Praça do Quirinale, com a fonte dos irmãos gêmeos Castor e Pólux I Fonte: https://www.turismoroma.it/en/places/quirinal-obelisk

As estações de metrô Flamínea, junto à Piazza del Popolo, e Barberini, ( com a Fonte dei Tritoni em frente ) próxima ao Quirinale, facilitam o acesso para quem estiver hospedado longe do nosso roteiro.

Leia Mais

Viagem à Itália, livro do poeta, romancista e dramaturgo alemão Goethe, que morou na Via del Corso, 20

O Triunfo da Vida, derradeiro livro do poeta inglês Percy Shelley, morto aos 29 anos em um naufrágio de seu pequeno barco no Golfo de La Spezia

Assista

La Dolce Vita, de Felini, com a famosa cena de Anita Ekberg e Marcelo Mastroiani na Fontana di Trevi

O filme Anjos e Demônios, com cenas da Igreja de Santa Maria del Popolo

Confira

Piazza del Popolo, com a música saudosista “Vecchia Roma”

https://youtu.be/ycIHxyYvSgg?si=3fjbEqYLV5gPhkr5

Por Benito Gorini 21/01/2025 - 15:00

Os roteiros turísticos das operadoras oferecem normalmente 2 dias, no máximo 3, para “conhecer” Roma. É muito pouco para uma cidade com 2788 anos de história. Para uma visita rápida às praças e Fontes são necessários no mínimo 5 dias, considerando que existem inúmeras atrações entre elas, merecendo uma parada. Os roteiros podem ser feitos a pé, com exceção de pontos mais distantes como o Vaticano ou San Giovanni in Laterano. Mãos à obra, ou melhor ao celular e computador, para redigir o primeiro dos cindo artigos.

Do Campo di Fiori ao Pantheon

O passeio começa bem cedo no Campo di Fiori, para apreciar a montagem das bancas de produtos agrícolas do mercado que ocorre todas as manhãs, de segunda à sábado. Para os que gostam de agito o melhor é fazer o roteiro inverso , terminando na praça para aproveitar a atmosfera festiva do local, com bares, pubs, restaurantes e músicos de rua. Giordano Bruno, teólogo, filósofo e matemático italiano, por suas ideias consideradas heréticas, foi condenado à morte na fogueira pela inquisição em 1600. No local da execução ergue-se a lúgubre estátua do frade dominicano.

A estátua de Giordano Bruno no Campo di Fiori

Bem perto da praça fica a igreja de Sant’ Andrea della Valle, famosa por fazer parte do primeiro ato da ópera Tosca de Puccini. A igreja conta ainda com a segunda cúpula mais alta de Roma, superada apenas pela de São Pedro no Vaticano. Deixando a igreja, em curta caminhada chega-se a Piazza Navona – em forma de uma elipse estreita e longa - a mais bela praça barroca de Roma. Logo no início vamos ver a bandeira brasileira, hasteada na frente do Palácio Pamphili, construído pela família do papa Inocêncio X e sede da Embaixada do Brasil na Itália. Bem em frente está a Fontana del Moro, de Bernini.

A Fontana del Moro, em frente à Embaixada do Brasil

No centro da praça, em frente da Igreja de Sant’ Agnese in Agone, de Borromini, encontra-se a Fontana dei Fiumi, também de Bernini, homenageando quatro grandes rios: Nilo, Danúbio, Ganges e o Rio da Prata, descoberto em 1515 pelo navegador Juan Diaz de Solis (história interessante relacionada com Florianópolis). Esculturas representando os rios e um grande obelisco erguem-se do centro da fonte, que serviu de cenário para o filme “Anjos e Demônios”.

A Fonte dos Quatro Rios

Partindo em direção ao Pantheon passamos pelo Palazzo Madama, sede do Senado Italiano. Na Igreja de San Luigi dei Francesi, nos fundos do palácio, encontram-se as obras-primas “A Vocação”, “A Inspiração” e “O Martirio”, de Caravaggio, sobre a vida de São Mateus. No Pantheon, localizado a curta distância, outra praça, a da Rotonda, com fonte e obelisco. No interior do edifício estão sepultados o grande pintor Rafael Sanzio e os Reis Vitorio Emanuele II e seu filho Humberto I.

O pórtico do Pantheon

Pausa para um lanche e um gelato nos vários restaurantes das proximidades.

A Gelateria della Palma, próxima ao Pantheon

Ao lado do Pantheon fica a Igreja de Santa Maria sopra Minerva, com o curioso obelisco do elefante em frente. No seu interior encontram-se as tumbas do pintor florentino Fra Angelico e de Santa Caterina de Siena, padroeira da Itália.

O obelisco do elefante, em frente à Igreja de Santa Maria Sopra Minerva

Finalizando o nosso passeio, uma visita à Igreja de Santo Inácio de Loyola é indispensável. O arquiteto Andrea Pozzo criou um maravilhoso efeito em “trompe l’oeil” no teto, dando a impressão de uma cúpula em um espaço praticamente plano.

Sugestões

  • A ária “Recondita Armonia” do primeiro ato da ópera Tosca, de Puccini, que se passa na Igreja de Sant’ Andrea della Valle
  • O livro “Gênios e Rivais”, de Jake Morrissey, sobre Gianlorenzo Bernini e Francesco Borromini, os principais arquitetos do barroco
  • A pintura “A Vocação de São Mateus”, na Capela Contarelli da Igreja de San Luigi dei Francesi. Caravaggio usou com maestria os efeitos de luz e sombra
  • O filme “Anjos e Demônios”, com cenas do Panteon e da Piazza Navona
  • O efeito ilusionista no teto da Igreja de Santo Inácio de Loyola.
Por Benito Gorini 14/01/2025 - 18:06 Atualizado em 14/01/2025 - 18:11

Os recentes incêndios altamente destrutivos na Califórnia foram amplificados pelos Ventos de Santa Ana, mais conhecidos na Europa 7como Vento Föhn (ou Foehn).  Em outras regiões do mundo recebe diferentes  nomes como Zonda nos Andes, Chinook nas Montanhas Rochosas e Helm na Inglaterra.   O nome significa secador de cabelo em alemão, relacionado com as suas características de um vento seco e quente. Surge quando uma massa de ar sobe uma encosta, condensando a medida que a temperatura cai, causando chuva. Quando desce o outro lado da montanha se torna seco e mais quente, derretendo a neve  e provocando desprendimento de blocos de gelo e grandes  avalanches. A temperatura pode se elevar 14°C em poucas horas. Na  nossa região temos um fenômeno  parecido, a chuva orógrafica, também conhecida como chuva  de relevo.  Ventos  carregados de umidade, vindos do mar em direção ao continente, se resfriam e condensam ao encontrar montanhas e serras, causando chuva. 

A Bioclimatologia, um ramo científico relativamente recente, estuda  a influência  de fenômenos naturais e ambientais sobre organismos vivos-plantas, animais e seres humanos. Artigos científicos   referem que o vento föhn pode provocar sintomas como enxaqueca, instabilidade emocional, angústia, depressão e até psicoses . Um publicação faz referencia a um aumento de 10% na taxa de suicídios pela passagem do vento. 

A região de Lauterbrunnen, no cantão de Berner Oberland,  onde o vento föhn ocorre com frequência, é  a mais bonita da Suíça.  A subida ao Jungfraujoch, é uma das mais espetaculares viagens de trem da Europa. Após percorrer um túnel dentro do Eiger chega-se a uma estação dentro da montanha, aos 3.571m.

Kleine Scheidegg, aos pés do Eiger. Foto: Arquivo pessoal
A Cascata Staubach, em Lauterbrunnen. Foto: Arquivo pessoal

Sugestões

“Sonhando com o Eiger”, capítulo de abertura do livro “Sobre Homens e Montanhas”  do alpinista Jon Krakauer

O filme “ Escalado para Morrer” (The Eiger Sanction), com Clint Eastwood. Belas cenas da escalada da temida face norte do Eiger e as consequências do vento föhn

A MontanhaMágica, primeiro artigo do Blog Benito Gorini no Portal 4oito.

Por Benito Gorini 10/12/2024 - 14:14 Atualizado em 10/12/2024 - 15:34

Sobre um terreno irregular, no ponto de encontro de três colinas, foi construída no século XII em Siena a Piazza del Campo, ou simplesmente O Campo. Apresenta o formato de uma concha dividida em 9 setores, circundada por palácios medievais e com a monumental Fonte Gaia, ornada de estátuas, ocupando o lado mais alto da praça. Do lado oposto à fonte ergue-se o Palácio Público e a Torre del Mangia, com 90 m de altura. No interior do palácio encontram-se os enormes e preciosos afrescos “O Bom e o Mau Governo”, de Ambrogio Lorenzetti. Ao lado do palácio foi construída a Capela da Praça, para cumprir uma promessa feita por ocasião da terrível Peste Negra. Dos 80.000 habitantes restaram apenas 15.000. A doença propagou-se com grande intensidade na cidade medieval, em virtude da proximidade das construções e das muralhas que circundavam o centro histórico. Ambrogio e seu irmão Pietro Lorenzetti, também pintor de renome, morreram em 1348, no início da peste. 

A canonização de Santa Catarina de Siena, a padroeira da Itália, ocorreu no Campo em 1461, com grandes festas e a realização de um Pálio, tradicional corrida de cavalos que desde a idade média é realizada na praça. O Pálio de 1867 foi dedicado a Giuseppe Garibaldi, o herói dos dois mundos. A Unificação da Itália, obtida em 1861, só foi consumada com a queda de Roma, em poder da igreja, em 1870.

Piazza del Campo, em Siena I Fonte: Livro Piazze, Teatri & Caffè d´Europa
A Fonte Gaia na Praça do Campo I Foto: Fernanda e Darlan Thomazi

 

A Praça São Marcos, vista de um vaporetto navegando pelo canal da Giudecca, em frente à ilha de San Giorgio Maggiore, é uma experiência que jamais será esquecida. A República Marítima de Veneza, “La Sereníssima”, tem fascinado a todos que tiveram o privilégio de conhecê-la. A Basílica de São Marcos, com suas cúpulas bizantinas incrustadas com mosaicos de ouro, o Palácio Ducal, com magníficos salões repletos de pinturas dos grandes mestres do “cinquecento”, e a bela vista do alto do Campanário, são atrações imperdíveis. Napoleão iniciou a construção da Ala Napoleônica no local e referia-se à Praça São Marcos como “a mais bela sala de visitas da Europa”. Com o retorno do domínio austríaco a ala foi concluída, tornando-se a residência oficial dos Habsburgos. Em 1922 o Museu Correr foi instalado no local, oferendo aos visitantes a oportunidade de conhecer a Arte e História de Veneza e os aposentos reais, onde residiram o Imperador Francisco José e sua esposa Elisabeth da Baviera. A Imperatriz ficou mais conhecida como Sissi e foi imortalizada na trilogia que levou seu nome, estrelada por Romy Schneider.

Os austríacos dominaram Veneza por muito tempo. Na praça existem dois cafés famosos, o Florian, frequentado pelos invasores, e o Quadri, reduto dos venezianos.

Palácio Ducal e Campanário vistos de um vaporeto no Canal da Giudecca I Foto: Arquivo pessoal
A Acqua Alta na Praça São Marcos I Foto: Andrea Chaves Borges
A Praça São Marcos vista do Museu Correr I Foto: Maria Sá Staub

 

Por Benito Gorini 03/12/2024 - 14:08 Atualizado em 03/12/2024 - 14:34

As praças de Paris atraem milhares de turistas pela sua beleza, riqueza artística e valor histórico. Luis XV, o bem amado, contratou o arquiteto Jacques Gabriel para construir a Place Royalle, onde seria colocada uma estátua equestre presenteada pelo povo de Paris. Com o advento da Revolução Francesa, a praça foi rebatizada com o nome de Praça da Revolução. A estátua foi derrubada e a guilhotina instalada no local, ceifou a vida de milhares de pessoas, incluindo o rei Luis XVI, a rainha Maria Antonieta e os revolucionários Robespierre e Danton. Em 1795, depois de tanto sangue derramado, o nome foi novamente alterado para Place de La Concorde, que permanece até os dias atuais.

No centro da praça foi instalado, em 1831, um Obelisco de Luxor, datado de 1250 a.C., presente do governo egípcio ao povo francês.  Ao seu lado duas fontes barrocas, inspiradas nas fontes da Praça São Pedro em Roma.

A visão que se tem do local é magnífica. Em uma extremidade localizam-se os Jardim das Tulherias, com o Jeu de Paume, museu de arte contemporânea, e a L`Orangerie, com as fantásticas Ninfeias, obra-prima de Monet (confiram em musee-orangerie.fr/fr). No sentido diametralmente oposto tem início a Avenida Champs Elysees, com o Arco do Triunfo no seu final. Fazendo um giro de 90° para a direita ficamos de frente para a Igreja da Madeleine, onde o compositor Camille Saint Saens encantava os fiéis com sua maestria na execução do órgão. Bem ao lado da Madeleine fica a célebre Fauchon, paraíso gastronômico onde Jaqueline Kennedy adquiria seus produtos famosos para as festas na Casa Branca. Às nossas costas, do outro lado do Sena, ergue-se majestosa a Assembleia Nacional, local de debates de oradores famosos. A praça é circundada por oito esculturas homenageando cidades francesas. Um local imperdível de Paris e que já foi assunto de um blog anterior, “Do Terror à Glória” (clique aqui).

Os Jardins das Tulherias, com o obelisco da Place de la Concorde e o Arco do Triunfo no final da Avenida Champs Élysées - Foto: Arquivo pessoal

A Place de la Concorde com a fonte, o célebre Hotel Crillon e a Madeleine ao fundo - Arquivo Pessoal

A Place de la Concorde, com a Torre Eiffel ao fundo - Arquivo pessoal

A Fonte, o Hotel Crillon, o Hotel da Marinha e a Madeleine ao fundo - Fonte: parisinsidersguide.com

 

Por Benito Gorini 25/11/2024 - 13:23 Atualizado em 25/11/2024 - 15:27

Iniciamos no blog de hoje uma série sobre praças, teatros e cafés famosos, baseada no livro “Piazze, Teatri, Caffè d´Europe”, adquirido em uma feira na Piazza Maggiore de Bologna, em frente da Basílica de São Petrônio, com sua fachada inacabada. Na praça encontra-se também o busto do papa Gregório XIII, natural da cidade. O papa solicitou ao astrônomo Christopher Clavius que fizesse um estudo corrigindo o Calendário Juliano, que apresentava algumas imprecisões. Ao dia 4 de outubro de 1582, uma quinta-feira no Calendário Juliano, sucedeu-se o dia 15 de outubro, sexta-feira no Calendário Gregoriano. Acabou gerando graves transtornos em vários países. Se lembrarmos que a Alemanha era constituída de inúmeros burgos, muito próximos e com religiões diferentes, poderemos ter ideia das inúmeras complicações surgidas dificultando o comércio e as relações entre as cidades católicas, já “gregorianas”, e as protestantes, que não aceitaram o calendário. Maiores detalhes em um blog antigo clique aqui

Bologna também é conhecida como “la Grassa” (a Gorda), pela qualidade dos produtos utilizados em sua alta gastronomia, a melhor da Itália. Produtos como Parmigiano Reggiano e Prosciutto de Parma, Aceto Balsâmico de Módena, Culatello de Zibello e Salame de Felino e Langhirano, transformaram a Emilia Romagna no paraíso gastronômico do Bel Paese. Se deliciar com um Tortellini in brodo seguido de um Tagliatelli al Ragù é uma experiência gastronômica fantástica. Pena que o vinho da Emilia Romagna não ajude muito. Mas um Lambrusco pode harmonizar bem com os excelentes frios da região.

La Dotta” (a Douta), pela sua universidade, a mais antiga da Europa, e “La Rossa”, pelos telhados vermelhos de terracota, são outros títulos de Bologna. Outra versão diz que na verdade “a Vermelha” reflete a inclinação política, com várias administrações de esquerda.

As fábricas da Ferrari, Ducati, Lamborghini e Maserati também se localizam na região. No entanto a cidade nos traz tristes recordações. O tricampeão Airton Senna, que alegrou os nossos domingos com suas vitórias espetaculares, faleceu no Ospedalle Maggiore de Bologna, após sofrer o trágico acidente na Curva Tamburello do Circuito de Imola.

 

A Piazza Maggiore de Bolonha, com a Basílica de São Petrônio à direita I Fonte: Bolognawelcome.com

 

A Praça de Santo Stefano, com uma pequena parte dos 38 km de pórticos de Bolonha

 

Beto pilotando uma Ferrari em Maranello

 

A “Cittadella del Prosciutto di Parma” em Langhirano, com os amigos Carlos Salvalaggio, Mazinho Rocha e Beto Rizzotto no Giro Alpino III


 

Por Benito Gorini 12/11/2024 - 09:32 Atualizado em 12/11/2024 - 09:39

A Coxilha Rica é um distrito rural de cerca de 100 quilômetros quadrados de extensão que abrange os municípios de Lages, Capão Alto e Painel. Localizado no interior da serra, sua paisagem é formada por um extenso planalto de campos ondulados, rios e araucárias. Além de paisagens deslumbrantes tem grande importância histórica. Foi importante via de ligação entre o sul e o sudeste do Brasil no século XVIII. Tropeiros passavam pela região levando o gado de Viamão a Sorocaba. Os Corredores das Tropas, de taipas, constituem um rico patrimônio histórico, arquitetônico e cultural, com mais de 100 km de extensão. Foram construídos por escravos, indígenas e peões, com o objetivo de evitar a dispersão dos animais e também a captura de gado de fazendas locais. Localiza-se entre o Passo de Santa Vitória, no Rio Pelotas, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, e Lages. A cidade serrana tornou-se uma importante base de apoio, com consequente desenvolvimento econômico. A pecuária é muito atuante em várias fazendas centenárias do trajeto, algumas transformadas em hotéis e pousadas. A Coxilha Rica, por sua beleza e tradição, deve ser incluída no destino preferido para quem gosta de aventura e contato com a natureza.

 

O Grupo Giro Serra e Mar em frente à Igreja de Morrinhos I Foto: Aldo Michels

 

As taipas e araucárias, típicas da Coxilha Rica I Foto: Jerri Joaquim


 

O Corredor das Tropas, Patrimônio Histórico I Foto: Mazinho Rocha







 

Por Benito Gorini 05/11/2024 - 14:49 Atualizado em 05/11/2024 - 14:53

 

As termas são conhecidas desde a antiguidade, como bem demonstram as ruínas das Termas de Caracalla em Roma e as Termas do Fórum em Pompeia. O auge das estações termais e de repouso ocorreu no século XIX, celebrizando diversas cidades europeias. St.Moritz, na Suíça, famosa pelas curas milagrosas de suas águas e Davos, pela excelência de seu clima frio e seco, atraíam os portadores de doenças osteo-articulares e pulmonares, na tentativa de mitigar seus sofrimentos. Baden-Baden, na Alemanha, atraía as cabeças coroadas e a aristocracia do século passado em busca das águas curativas e de seu magnífico cassino. A cidade orgulhava-se de suas termas, alardeando o poder de “torná-lo 5 anos mais jovem e alguns quilos mais leve”.  

Muito interessante é a visita às cidades austríacas de Hallstatt e Bad-Ischl, nas proximidades de Salzburgo, a terra natal de Mozart. A região é internacionalmente conhecida pelas suas minas de sal do VI século a.C., as mais antigas do mundo. O sal era extremamente valioso por ser o melhor método de conservar os alimentos, sendo a origem do termo salário. A qualidade das fontes termais sobreviveu ao declínio das minas de sal por algum tempo.  O grand-mond da época frequentava suas águas, mas a Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas causaram um empobrecimento da nobreza. Além disso, a posterior descoberta de antibióticos, quimioterápicos, anti-inflamatórios, insulina e os enormes avanços da medicina no diagnóstico e tratamento das doenças acabaram ocasionando uma grande queda na procura pelas termas como opção paliativa ao alívio dos sintomas. Mas ainda é uma experiência única relaxar em uma estação termal após um exaustivo dia de visitas às inúmeras atrações turísticas da Europa. Ou então mergulhar nas tépidas águas de um resort depois de um cansativo giro de moto pelos fantásticos passos alpinos, como fizemos nos Bagni Vecchi em Bormio, da época do Império Romano.  Mas não precisamos ir tão longe para desfrutar desta grande experiência sensorial. O estado de Santa Catarina é pródigo em fontes termais e uma delas, Gravatal, fica ao nosso lado.

 

As Termas de Caracalla em Baden-Baden I Crédito: travelcircus.de
Amigos do Giro Alpino I nos Bagni Vecchi em Bormio

 

Hallstat. A mina de sal está aberta a visitações

 

Por Benito Gorini 22/10/2024 - 14:12 Atualizado em 22/10/2024 - 14:15

Estamos vivendo em uma época de reparação de grandes injustiças como a matança dos povos originários e a escravidão, fatos que até eram considerados “normais” pelos conceitos da época. Algumas pessoas questionaram esses atos bárbaros, mas enfrentaram muita resistência e oposição por suas ideias muito avançadas para o seu tempo. 

O maranhense Antonio Gonçalves Dias, poeta romântico, jornalista e etnógrafo, nasceu em Caxias  em 1823 e faleceu no naufrágio do navio Ville de Boulogne, nas costas de seu estado natal,  em 1864. Graduou-se na prestigiosa Faculdade de Direito de Coimbra, onde compôs a famosa “Canção do Exílio”. Foi um dos primeiros a defender a abolição da escravatura mas ficou mais conhecido por sua luta em prol da causa indígena.  O “I-Juca Pirama” é talvez o ponto mais alto de suas obras e de toda a poesia indianista. “Meu canto de morte guerreiros ouvi, sou filho das selvas na selva cresci, guerreiros descendo da tribo Tupí”, talvez seja o verso mais famoso. É patrono da cadeira 15 da Academia Brasileira de Letras.

Héctor Roberto Chavero foi um compositor, cantor, violonista e escritor argentino. Nasceu em Pergamino, Buenos Aires, em 1908. Filho de pai quéchua e mãe basca, começou a publicar seus primeiros textos aos 13 anos, quando adotou o pseudônimo de Atahualpa, nome do último imperador inca, morto covardemente pelo conquistador espanhol Francisco Pizarro. Posteriormente, defendendo fortemente a causa indígena, passou a se chamar Atahualpa Yupanqui, acrescentando o nome de outro imperador. Entre suas músicas mais conhecidas estão “Camino del Índio”, “Los ejes di mi carreta” e uma compilação de “Duerme Negrito”, canção de ninar muito popular. Mas a que mais me agrada é “Los Hermanos”. Alguns trechos são pura poesia: “com la esperanza adelante con los recuerdos detrás”; “nos perdemos por el mundo, nos volvemos a encontrar” e no final “Yo tengo tantos Hermanos que no los puedo contar.  Y uma novia (“hermana”  em outras versões)  muy hermosa que se llama libertad”. Viveu muitos anos no exterior e faleceu em Nimes, na França, em 1992.

Atualmente, com nova mentalidade e revisão de antigos conceitos, me causa profunda decepção e indignação a homenagem a pessoas que causaram tanto mal a outros seres humanos, como uma praça na minha terra natal, Nova Veneza, em honra ao maior bugreiro de nossa história.  A propósito, as Manas Bonetti, mosaicistas de grande qualidade com três anos de especialização em Spilimbergo – o maior centro de arte musiva da Itália e um dos maiores do mundo -  estão resgatando o legado indígena em uma obra retratando a sua perseguição e morte. No próximo sábado em Urussanga ocorre um manifesto artístico em memória dos povos originários dizimados no sul catarinense. 

Por Benito Gorini 15/10/2024 - 13:33 Atualizado em 15/10/2024 - 13:39

Sic transit gloria mundi: A glória no mundo é transitória. Vanitas vanitatum et omnia vanitas:  Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. Ambas as frases latinas têm relação com a brevidade do tempo na Terra. A última citação serve de introdução para o Eclesiastes, livro bíblico atribuído a Salomão, de temática pessimista mas com profunda reflexão relacionada à supremacia de valores espirituais sobre os valores materiais e superficiais.  Enfatiza o uso da sabedoria para uma vida terrena bem vivida. Vários mestres da pintura se inspiraram nesses ensinamentos, produzindo obras primas de grande beleza. Particularmente interessante é a Santíssima Trindade de Masaccio, enorme afresco da Basílica de Santa Maria Novella, localizada ao lado da estação ferroviária de mesmo nome em Florença. Na predela, parte inferior da pintura, encontra-se um esqueleto com a inscrição “Eu já fui o que tu és e o que eu sou tu também serás”, uma lembrança da transitoriedade da vida e da fé como única salvação. Em outras pinturas o esqueleto é substituído pela caveira, o chamado “Memento Mori” - a lembrança que devemos ter sobre a finitude e o momento da morte – e assunto de muitas obras de grandes artistas. 

Tommaso di Ser Giovanni di Simone, mais conhecido como Masaccio, nasceu em 1401 em San Giovanni Valdarno, na Toscana, e morreu muito jovem em Roma, aos 27 anos. No entanto, em sua curta existência, revolucionou a arte pictórica ao criar a perspectiva linear, uma nova técnica de pintura que dava a impressão de profundidade em um plano bidimensional. Seus trabalhos mais importantes encontram-se na Capela Brancacci da Igreja de Santa Maria del Carmine. Situa-se em Oltrarno, do outro lado do rio Arno, um pouco distante do Centro Histórico, onde se localizam as principais atrações turísticas da magnífica cidade de Florença, berço do renascimento e repleta de obras de arte. Vários pintores que o sucederam como Botticelli, Piero della Francesca, Leonardo da Vinci e Michelangelo se inspiraram em seus trabalhos. 

 

A Santíssima Trindade de Masaccio, afresco de 1428 com 667x317 cm na Basílica de Santa Maria Novella, em Florença       I     Fonte:  gl.wikipedia.org/wiki/Trindade_(Masaccio)
Tulipa, caveira e ampulheta, símbolos da finitude e brevidade da vida. 
Vanitas, 1671.  Tela do pintor belga Philippe de Champaigne, 37x28 cm, Museu de Tessé, Le Mans / Fonte: wikipedia.org
Por Benito Gorini 08/10/2024 - 14:05 Atualizado em 08/10/2024 - 14:08

Em 1989, quando ocupava a presidência da Sociedade Catarinense de Oftalmologia participei de uma entrevista na extinta TV Eldorado, conduzida por Adilamar Rocha, no auge de sua competente atuação como âncora do jornalismo.   O cantor Belchior, divulgando seu espetáculo em Criciúma, também participava do programa. Na breve conversa que tive com o artista deu para perceber a sua inteligência mas também um certo pessimismo e inconformismo.  Belchior, nas letras de suas músicas como “Velha Roupa Colorida” - composição saudosista e nostálgica a respeito de sua juventude - faz referência à “She´s leaving home”, dos Beatles, “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan e “Raven”, poema do “poeta louco americano” Edgar Allan Poe. Mas também reconhece que “uma nova mudança em breve vai acontecer”. Outros trechos da música:

“O que há algum tempo era jovem e novo hoje é antigo”. A rapidez do surgimento e substituição de novas tecnologias é impressionante. Os computadores e celulares são exemplos clássicos. Aparelhos de alto desempenho são trocados por modelos mais novos, uma busca desenfreada por novidades e ostentação. 

“No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais”. Embora com outra conotação, a metáfora é Interessante e bem apropriada.  A multimilionária indústria da moda, através de convincentes campanhas publicitárias, promove mudanças a cada estação e induz as pessoas ao consumismo exagerado.

 A propósito, a música de Dylan tornou-se um clássico e uma das composições mais influentes do pós-guerra. Sua temática é sobre alguém que perdeu tudo após viver dias de opulência e glória. Será mera coincidência com a vida de Belchior ?  Infelizmente o artista, culto e poliglota, não soube lidar bem com a sua vida privada, passando por sérias dificuldades financeiras no final de seus 70 anos de vida. 

Por Benito Gorini 24/09/2024 - 08:15

Muitas descobertas científicas são frutos do acaso ou da observação de fatos que passariam despercebidos para a imensa maioria das pessoas. Existem centenas de casos, mas selecionei três que sempre despertaram a minha curiosidade.

Eratóstenes,  matemático, poeta, geógrafo, astrônomo e bibliotecário, nasceu no ano de 276 a.C. em Cirene, colônia grega da Líbia, e morreu em 194 a.C. em Alexandria. A partir da leitura de documentos presentes na famosa biblioteca, ele notou que ao meio-dia do solstício de verão o reflexo do sol podia ser observado no fundo, de um poço na cidade de Siene, atual Assuã.  No entanto, na mesma data e horário esse fenômeno não acontecia em Alexandria. Como já era conhecido que os raios solares chegavam paralelos à Terra, só havia uma explicação: a Terra não era plana. Contratou um homem para medir em passos a distância entre as duas cidades. Com esse dado e o ângulo da sombra projetada por uma vara colocada na vertical em Alexandria, calculou com grande precisão a circunferência da Terra, um simples cálculo trigonométrico. A medida da época era o stadium, que convertida dá um total de 39.700 km, muito semelhante ao valor correto, de 40.075 km. Eratóstenes já sabia disso há mais de 2 mil anos e os terraplanistas não aprenderam até hoje. 

Arquimedes, matemático, filósofo, físico, engenheiro e astrônomo grego, nasceu em 287 a.C. em Siracusa, na Magna Grécia de então, contemporâneo de Eratóstenes.  Ao tomar banho em uma banheira acabou descobrindo a Lei do Empuxo, ou seja, a força exercida sobre um corpo imerso em um líquido, que é igual ao peso do volume de fluido deslocado.  Ficou tão excitado com a descoberta que saiu correndo pelado pela rua exclamando: Eureka!Eureka!  Parece que a história não é bem essa, mas é o que ficou para a posteridade, bem como o famoso episódio da destruição pelo fogo de galeras romanas utilizando espelhos côncavos que concentraram a luz solar. Si non è vero, è ben trovato. Arquimedes morreu em 212 a.C. , assassinado por um soldado romano, na tomada de Siracusa, após um cerco de 2 anos.

Sir Isaac Newton, matemático, físico, astrônomo e teólogo, nasceu em Woolsthorpe em 1642 e faleceu em Kensington em 1727. Estava descansando tranquilamente embaixo de uma árvore quando uma maçã caiu sobre sua cabeça (pelo menos é o que dizem).  Deve ter ficado um pouco tonto, mas foi o bastante para Newton desenvolver importantes descobertas. No seu livro Principia formulou as leis do movimento e da gravitação universal e em outra obra, Ótica, apresentou uma sofisticada teoria cromática ao observar a dispersão da luz ao passar por um prisma, formando as cores do arco-íris.  Seus achados, somados aos de Kepler, sepultaram de vez o conceito geocêntrico. Contribuíram também para reabilitar em definitivo o nome de Galileu Galilei, que quase foi condenado à fogueira por ter aderido ao heliocentrismo de Copérnico. 
Varetas, sombras, água, maçãs e cérebros prodigiosos fizeram a diferença. 

Por Benito Gorini 17/09/2024 - 07:15

“Dizem que a mulher é o sexo frágil,
Mas que mentira absurda,
Eu que faço parte da rotina de uma delas,
Sei que a força está com elas” 

Concordo plenamente com Erasmo Carlos. No entanto, creio que as próprias mulheres não acreditam nisso. Talvez por milênios de opressão e discriminação. Ou quem sabe por desinteresse, ou acomodação. A verdade é que se houvesse união elas poderiam dominar o mundo, pelo menos na sua parte democrática. Certamente o mundo seria muito melhor. E um grande exemplo é a atitude de um grupo de mulheres inconformadas com o descaso das autoridades e de grande parcela da população com relação aos maus tratos e abandono dos animais. Elas estão tentando reativar uma antiga associação de proteção aos animais ou então criar uma nova ONG. Eu, minha mulher Rute e vários amigos já participamos de ONG`s, mas os resultados não foram os esperados, pelo desgaste físico, emocional, financeiro e a falta de apoio do poder público.  Os problemas seriam muito mitigados atualmente se as propostas encaminhadas a uma reunião realizada na Prefeitura Municipal de Criciúma há muitos anos tivessem sido implementadas. 

E agora as eleições se aproximam. Exerça seu direito de voto com responsabilidade. Não venda seu voto nem se deixe enganar por propostas, projetos e promessas mirabolantes, típicas das campanhas eleitorais. Eleja pessoas idôneas, honestas, com um projeto de governo voltado para a geração de empregos, a saúde, a educação, a cultura, a preservação ambiental e o bem-estar animal (embora sejam poucas, certamente   elas existem). E você, cara leitora, vote com consciência e de preferência em uma representante do seu sexo.  Certamente você será bem representada.        

Por Benito Gorini 10/09/2024 - 07:46

O Brasil é um dos líderes mundiais em acidentes de trânsito. A taxa de mortalidade é muito alta, com 31.174 óbitos em 2023 por acidentes com meios de transporte terrestres. O custo socioeconômico é imenso, com mortes e sequelas incapacitantes acometendo geralmente pessoas em plena atividade laborativa. E o mais grave é que os acidentes ocorrem em sua maioria por desrespeito à legislação de trânsito. Dirigir embriagado, excesso de velocidade, ultrapassagens em locais proibidos, avanço de sinais vermelhos e utilização de celulares ao volante são infrações frequentes com consequências severas.

Outras infrações como estacionar em locais proibidos, sobre a faixa de pedestres ou em vagas especiais (deficientes físicos, idosos, gestantes e TEA) não geram lesões graves mas mostram a falta de civilidade e conscientização das pessoas. Lembrando que estacionar em vaga especial sem a devida credencial é infração gravíssima, com 7 pontos na CNH.  E o próprio título da campanha visa pacificar a relação entre os condutores nas cidades. Gentileza gera gentileza, dirigir com agressividade gera reações agressivas.  

A Semana Nacional de Trânsito vai ocorrer de 17 a 25 de setembro, com programação local a partir do dia 14.  Entidades públicas e privadas estarão participando do evento com palestras, blitz educativa e simulação de um acidente com vítimas. 
A Transmed - Centro de Avaliação de Condutores - também estará participando e parabeniza todos os voluntários que dedicam o seu tempo para conscientizar a população sobre a importância de respeitar a legislação de trânsito. Com a redução significativa do número de acidentes muitas vidas serão salvas e graves sequelas serão evitadas.  
  
Confira a programação: 

Por Benito Gorini 27/08/2024 - 14:38 Atualizado em 27/08/2024 - 14:47

Sempre fui um apaixonado pela Mitologia Greco-romana. Creio que as instituições responsáveis por investigações criminais têm a mesma paixão. Pelo menos utilizam com frequência termos mitológicos para denominar suas operações. No mundo das artes está influência é enorme, com livros, peças teatrais, filmes, esculturas, pinturas, sinfonias e óperas inspiradas no tema, algumas diretamente relacionadas a Caronte ou ao Hades. A peça teatral Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, as óperas Orfeu nos Infernos, de Offenbach e Orfeu e Eurídice, de Gluck são alguns exemplos.

Caronte é o barqueiro responsável por transportar as almas através dos rios Aqueronte e Estige, no Hades, o mundo dos mortos e também o nome de seu deus, o Plutão dos romanos. Caronte cobrava o óbulo pelos seus serviços. Por isso era comum a colocação de moedas na boca (ou sobre os olhos) dos falecidos para o devido pagamento.  Quem não o fizesse seria transportado de graça, mas teria que ficar vagando pelas margens dos rios por   100 anos. Será que Bolsonaro - que por sinal é mito - e Lula também tiveram essa inspiração ao exigir 100 anos de sigilo para documentos comprometedores?  
Mas voltemos ao assunto. Posteriormente foi criado um local para a alma dos justos, os Campos Elísios.  Já os ímpios seriam condenados ao castigo eterno no tártaro, local no submundo com grutas,  cavernas profundas e os locais mais terríveis do Hades. Seria este o destino da maioria dos políticos? Possivelmente. Pelo menos não teriam problemas para pagar o óbulo para Caronte. Como o Real está muito desvalorizado, o barqueiro só aceitaria Dólares ou Euros. Mas acho que os preferidos seriam os Francos-suíços. 
Finalizando, fazendo uma pequena alteração no bordão de Sérgio Jockymann:  Pensem nisso ... enquanto lhes digo até a próxima terça-feira.

O Rapto de Prosérpina, escultura de Bernini na Galleria Borghese , Roma   |    Fonte: arteeartistas.com.br

 

Caronte cruzando o Estige, de Joachim Patinir, no Museu do Prado, Madri. Os justos conduzidos para o Paraíso, à direita (esquerda do espectador) e os pecadores para o inferno, à esquerda    |    Foto de uma reprodução do acervo pessoal

 
Vídeo
O Can Can “Galope Infernal" , gran-finale da ópera Orfeu nos Infernos de Offenbach | Fonte: youtube/EuroArtsChannel/Orchestre de Paris

Por Benito Gorini 20/08/2024 - 13:38 Atualizado em 20/08/2024 - 13:40

Após muitos anos voltei à Biblioteca Pública de Porto Alegre, uma das edificações mais bonitas da capital gaúcha. O prédio, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Estadual e Nacional, possui grande acervo e importantes documentos que preservam a história do Rio Grande do Sul. Nos meus tempos de adolescente, estudando no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, visitava com frequência a biblioteca. Houve muita deterioração do interior da construção com o passar dos anos. Apesar da recuperação da bela fachada e do restauro dos murais   das paredes ao lado da escada que dá acesso ao segundo piso, muito trabalho tem que ser realizado. No térreo os murais estão em péssimo estado de conservação, bem como o maravilhoso conjunto artístico e arquitetônico das salas Mourisca e Egípcia do segundo andar. 

Observando as poucas pessoas presentes, pensei na enorme diferença de costumes que ocorreram. Na década de 1960 o conhecimento era adquirido quase que exclusivamente pela consulta aos livros. O rádio era o principal meio de comunicação, a televisão estava no início e os jornais eram restritos a uma parcela da população. O tempo parecia passar mais devagar. Atualmente, com o advento do computador, dos celulares, dos milhares de aplicativos e das redes sociais, o tempo voa e a paciência inexiste. Os áudios e vídeos com mais de três minutos são descartados. Qualquer demora ao acessar os programas causa irritação. Os artigos, textos e blogs devem ser curtos e sucintos, tudo tem que ser imediato. 

Embora os recursos tecnológicos modernos propiciem enorme vantagem na obtenção do conhecimento, facilitando as pesquisas e a elaboração de trabalhos científicos, a realidade é que a maioria da população os utiliza apenas para diversão.  Sem contar as intrigas, calúnias e difamações tão comuns nas redes sociais, principalmente nessa época de polarização política. 

Por isso, caro leitor, parabéns se você conseguiu chegar até aqui.  É sinal que ainda existe um pouco do modus vivendi da velha geração.  Saudades da velha biblioteca.

O Tempora!  O Mores!
 

Por Benito Gorini 06/08/2024 - 09:00

Em recente viagem à capital gaúcha - antes da catástrofe que se abateu sobre o estado vizinho - relatada no blog “A vibrante Porto Alegre” (clique aqui para conferir), passamos em frente ao Quartel do Exército próximo ao Parque da Redenção, local do extinto Doi-Codi, da época do regime militar.  A fachada ostentava o ditado latino “Si vis pacem, para bellum.

Acho a frase falaciosa. A grandes potências se armam não para garantir a paz mas sim para atingir seus ambiciosos planos de conquistas e dominações. Pode demorar mas um dia tudo acaba, como deverá ocorrer com o sanguinário ditador Nicolás Maduro, que massacra seu próprio povo para se manter no poder.  Até o poderoso Império Romano, que dominou o mundo por vários séculos, não resistiu às invasões bárbaras e acabou sucumbindo em 486 d.C. É bem verdade que é legítimo o direito de autodefesa mas os gastos estratosféricos com armamentos vão muito além do razoável. E com o advento da energia nuclear, com os milhares de mortes em Nagasaki e Hiroshima, nada está garantido. Basta uma mente perturbada disparar uma ogiva nuclear e tudo estará perdido. Einstein, questionado como seria a terceira guerra mundial respondeu: “Não sei como será a terceira guerra mundial mas sei como será a quarta: com paus e pedras".

Aliás, muitas invenções que teriam o objetivo de melhorar a vida humana acabaram se transformando em armas mortíferas. Santos Dumond, horrorizado pelo bombardeios na Revolução Constitucionalista de 1932, afirmou: “Meu Deus! Meu Deus! Não haverá meio de evitar derramamento de sangue de irmãos? Por que fiz eu esta invenção que, em vez de concorrer para o amor entre os homens, se transforma numa arma maldita de guerra? “. Suicidou-se em julho do mesmo ano. Felizmente - para uma alma  sensível como a dele - não testemunhou os horrores dos dois dias de bombardeio de Dresden em 1945, onde morreram 25.000 pessoas, segundo dados oficiais.

 

O bombardeio de Dresden   I   Crédito : euronews youtube

E os seres humanos, com seu grande potencial para destruição, também têm enorme capacidade de realizar grandes feitos. A restauração de importantes centros europeus devastados pelas guerras é um exemplo. Quem teve a oportunidade de conhecer Berlim, Dresden, Hamburgo e Colônia pode constatar a reconstrução de importantes sítios devastados pela guerra.

O Mural Fürstenzug, “A Procissão dos Príncipes”, composto por 23 mil azulejos de porcelana e com 102 m de comprimento, no centro histórico de Dresden  I Arquivo pessoal
Dresden, a Pérola do Elba    I    Arquivo pessoal

 

E seria muito apropriado ouvirmos “Saturn”, de Stevie Wonder, a sabedoria de Saturno, o Mensageiro da Velhice, em contraponto aos conturbados e irracionais tempos comandados por Marte, o Mensageiro da Guerra. 

Por Benito Gorini 23/07/2024 - 07:30

Assistindo ao programa Paesi che Vai sobre os tesouros de Pádua, na Rai International, me ocorreu escrever sobre o Juízo Final. Reginaldo degli Scrovegni,  rico e usurário,  pelas suas más ações foi colocado no sétimo círculo do inferno na fabulosa Divina Comédia de Dante. Na Idade Média o pecado era considerado muito grave, condenando o pecador à danação eterna, conceito que sobre certo aspecto persiste até os nossos dias. Seu filho Enrico construiu uma capela em Pádua e contratou Giotto para decorá-la, uma tentativa de expiar os pecados do pai. Giotto, o primeiro pintor a romper com a tradição medieval de pinturas estáticas, pintou afrescos maravilhosos dando a impressão de profundidade em uma superfície bidimensional. O Juízo Final, no altar da capela, retrata Cristo no paraíso condenando os pecadores e concedendo aos eleitos a bem aventurança eterna.

O Juízo Final, Giotto di Bondone,  1306
Afresco,1 000 x 840 cm, Cappella degli Scrovegni, Pádua

Hieronimus Bosch, no seu famoso tríptico O Jardim das Delícias Terrenas, retrata o paraíso no painel da direita, o julgamento no centro e a condenação dos pecadores no painel da esquerda (direita do espectador). Bosch era um moralista com uma visão pessimista da humanidade, julgando que o ser humano, pelos atos que praticava, estava definitivamente condenado às trevas. Os temas dos quadros de Bosch são alegorias sobre os pecados, as virtudes e a insensatez dos seres humanos. Sua pintura era tão bizarra que elementos fantásticos, demônios, criaturas meio humanas, meio animais, povoavam um ambiente arquitetônico e paisagístico imaginário. Suas obras influenciaram os poetas simbolistas e pintores expressionistas e surrealistas. O perfil psicológico de seus personagens também auxiliou Freud a desenvolver seus conceitos psicanalíticos.

O Jardim das Delícias Terrenas, Tríptico de Hieronimus Bosch, 1504
Óleo sobre Madeira, 220 × 389 cm, Museu do Prado, Madri 

 

A fachada do Duomo de Orvieto - uma transição do românico para o gótico - é uma das mais belas da Europa. Na Capela San Brizio está a obra-prima de Luca Signorelli, uma série de enormes afrescos sobre o apocalipse e o juízo final. A Ascensão dos Justos para o Céu, a Queda dos Condenados no Inferno e a Ressurreição dos Mortos são retratadas. A obra do pintor caracteriza-se por rigoroso estudo anatômico, enfatizando os nus e dando realce à musculatura. Sua precisão certamente revela dissecções em cadáveres, proibidas na época. SIgnorelli participou da decoração das paredes laterais da Capela Sistina juntamente com Botticelli, Perugino, Ghirlandaio, Pinturucchio e Rosselli, contratados pelo papa Sisto IV, que deu origem ao nome da capela.

Condenados ao inferno, parte da obra-prima de Luca Signorelli , 1499-1502
Afresco, 670 cm, Capela de São Brízio, Duomo de Orvieto

Michelangelo se inspirou nos trabalhos de Signorelli para compor o magnífico Juízo Final, trinta anos após concluir o teto da Capela Sistina. Utiliza o mesmo recurso dos pintores que o precederam, colocando Cristo no centro da composição julgando os vivos e os mortos.  No entanto não tem uma visão tão severa e implacável em relação aos condenados. Os eleitos sobem para o céu o os condenados aguardam o barqueiro Caronte que os conduzirá ao inferno. O artigo “Orelhas de Burro, o Juízo Final e Il Braghettone”, sobre o mesmo tema, pode ser acessado. Clique aqui.

O Juízo Final, Michelangelo, 1535-41
Afresco, 13,7 m x 12,2 m, Capela Sistina, Vaticano

 

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