Os mercenários dos séculos XIII a XV, chamados de condottieri, poderiam ser comparados aos políticos de hoje em dia, guardadas as devidas proporções. Eram contratados por reis, nobres ou pelo clero e não tinham o menor sentimento de fidelidade, oferecendo os seus serviços àqueles que lhes proporcionassem as melhores vantagens econômicas, políticas ou sociais. Proliferaram principalmente na Itália, que não possuía um sistema de cavaleiros feudais tão desenvolvido quanto Inglaterra e França, sendo reverenciados e homenageados em várias cidades, apesar das atrocidades que praticavam.
O condottiero inglês John Hawkwood estava “ocioso” após o Tratado de Bretigny -assinado em 1360 e que cessara temporariamente as hostilidades entre a França e a Inglaterra na guerra dos cem anos - e ofereceu seus serviços aos Visconti de Milão, lutando contra Florença. Os florentinos, após algumas derrotas, o contrataram a peso de ouro e em “reconhecimento” o pintor Uccello o retratou em um afresco na catedral de “Santa Maria del Fiore”, o famoso Duomo de Florença.
No entanto, as obras mais famosas de Uccello se referem “A Batalha de San Romano”, homenageando Niccolò da Tolentino, que liderou Florença na sua vitória contra a eterna rival Siena.
Em frente à basílica de Santo Antônio, em Pádua, encontra-se a estátua equestre do mercenário Erasmo da Narni, chamado de Gattamelatta, obra magistral de Donatello, a maior peça fundida em bronze da época, resgatando a arte da escultura que estava adormecida desde o Império Romano.
Em Bérgamo, ao lado da catedral Santa Maria Maggiore, o condottiero Bartolomeo Colleoni contratou o arquiteto Amadeo para construir a sua capela, decorada com afrescos de Tiepolo. Foi homenageado pelos venezianos, a quem prestava serviços, com uma magnífica estátua equestre, obra do escultor Verrocchio, mestre de Leonardo da Vinci. Fora prometido a Colleoni a colocação de sua estátua na praça São Marcos, no coração da bela Veneza. O Doge, no entanto, fez erguer a escultura em frente à igreja de São João e Paulo ( conhecida como Zanipolo pelos venezianos ), ao lado do Hospital São Marcos, cumprindo parcialmente sua promessa (tutti buona gente).
Os mercenários conservaram seu nome na história e apesar da glória que tiveram em sua época foram detestados pela maioria de seus contemporâneos, a quem infligiram enormes “malvadezas” (só para lembrar de um político famoso já falecido).