Carlos Moisés da Silva (PSL) retornou ao comando de Santa Catarina há quase uma semana, após mais de um mês afastado do cargo de governador, por conta de seu segundo processo de impeachment. O chefe do executivo catarinense retorna com objetivos elencados e um posicionamento bem definido: olhar para frente.
Em entrevista exclusiva à Rádio Som Maior na manhã desta quarta-feira, 12, Moisés falou sobre o momento de maior diálogo com os deputados catarinenses, o foco no combate à pandemia de Covid-19, o caso dos respiradores e o desenrolar das obras no estado.
De acordo com o governador, o posicionamento pós retorno à chefia do Estado não é necessariamente novo. O maior diálogo com os parlamentares já vinha sendo construído e deverá ser intensificado, para que pautas públicas sejam realizadas com maior facilidade.
“Algumas mudanças estavam perceptíveis ao cidadão e, especialmente, ao cenário político, durante nosso primeiro retorno. Fizemos um governo com um pouco mais de coalizão e aliança, com alguns parlamentares participando. Mas, para além disso, precisamos estreitar o nosso diálogo com o parlamento", pontuou.
Moisés ressalta ainda que é necessário que haja uma boa interação entre o legislativo e o executivo para que Santa Catarina seja beneficiada. “Quando a gente vem para esse cenário, homens públicos não devem se digladiar. Devemos deixar para trás, quebrar os retrovisores e olhar para frente, para entregar à Santa Catarina aquilo que mais se espera”, declarou.
Obras na Serra da Rocinha e do Faxinal
O retorno ao Governo do Estado vem acompanhado do compromisso de buscar soluções para as obras em curso. Uma das mais urgentes no sul catarinense é a da BR-285, Serra da Rocinha, que teve recursos federais cortados integralmente no orçamento da União e está ameaçada de ser paralisada no fim deste mês.
Antes de ser afastado, Moisés já havia encaminhado à Assembleia um projeto para o encaminhamento de R$ 200 milhões do Governo do Estado para obras federais em SC. O valor aumentou após emendas parlamentares, chegando a R$ 350 milhões. Apesar da BR-285 não estar listada no destino desses recursos, o governador não descarta a possibilidade de passar a ser contemplada.
“É um gesto do Governo de SC e do parlamento com o Governo Federal. Isso sinaliza que essa obra da 285 não deve e não pode parar. Vamos procurar o ministro Tarcísio para mostrar a importância dessa obra e de sua continuidade”, afirmou.
Já as obras na Serra do Faxinal, que liga o extremo sul catarinense ao Rio Grande do Sul, não tem data para começar. De acordo com o governador, a última vez que se avaliou o caso, tratava-se ainda de uma atualização do projeto.
“Protagonismo” no caso dos respiradores
O caso da compra dos 200 respiradores por R$ 33 milhões quase custou a Moisés o Governo de Santa Catarina. Cerca de R$ 14 milhões já foram bloqueados, mas ainda não retornaram aos cofres públicos. Questiona-se, ainda, a atuação do governador em relação à indignação na busca de culpados e do restante do dinheiro. Moisés, no entanto, afirma ter sido protagonista.
“O governo já foi protagonista, eu pessoalmente fui protagonista na busca por esses R$ 33 milhões”, disse. “O governador do estado quando tomou ciência do pagamento antecipado sem entrega dos bens imediatamente acionou a polícia, a PGE e a Fazenda”. “O protagonismo desde cedo foi nosso, nós quem indicamos, inclusive, aos órgãos de controle do Ministério Público o problema. Chamamos a Polícia Civil e abrimos o inquérito policial”, completou.
Ainda sim, segundo Moisés, agora é “prudente” que o Estado espere a resolução das investigações realizadas pelos órgãos. Com o processo agora na Justiça comum catarinense, os responsáveis pela fraude deverão ser indiciados, tanto pessoas físicas quanto jurídicas.
“Essa competência [investigar] não é do Governo do Estado, que agora toca a sua gestão de trabalho e vai atender aos catarinenses. Essa competência é dos órgãos de controle, o Ministério Público tem que falar, o Judiciário, tem que aguardar”, afirmou.
Foco na pandemia, mas sem medidas restritivas
Se no início da pandemia Moisés decretou um lockdown quase que total no estado, agora não pensa em decretar mais medidas restritivas. O governador afirma que todas as atividades possuem regras de funcionamento e que, sendo assim, irá trabalhar na fiscalização com os negócios abertos.
Para ele, a compra de vacinas precisa ser concentrada pelo Governo Federal, enquanto os estados cuidam da logística que leva as doses até às unidades de vacinação.
“Se começarmos a comprar vacinas de todos os fornecedores,o risco de alguém tentar enganar um prefeito ou uma das 27 unidades da federação também aumenta. Isso tensiona preços, é uma série de desvantagens quando descentralizamos do ente público nacional. Não podemos politizar isso aí e trazer para o cenário político, quem vacina primeiro, porque é um ato humanitário vacinarmos toda a população”, declarou Moisés.
O governador acredita ainda que a troca de secretariado na transição de seu afastamento para a posse da governadora interina, Daniela Reinehr, atrapalhou o ritmo de combate à pandemia em SC. “Acredito que toda vez que uma equipe competente sai de cenário e deixa de atuar e passar recurso para hospitais, tivemos uma diminuição no timo de vacinação, e tudo isso pode resultar e resulta em prejuízo. Não estamos aqui para apontar dedo, penso que o afastamento do governo já foi indevido nos dois processos, não deveríamos ter saído desse lugar, deveríamos ter continuado a gestão. Mas vamos olhar pra frente”, disse.
Eleições de 2022
Após dois desgastantes processos de impeachment, muito se pergunta se Moisés colocará o seu nome à disposição nas eleições para governador em 2022. Junto disso, surge a dúvida de uma possível saída do PSL. Ele, no entanto, afirma estar focado no atual comando do estado.
“Eu estou no PSL e não pensei sobre movimentação partidária, apesar de já ter recebido alguns convites. Mas na verdade, estou muito focado na gestão e retomada depois do período de afastamento. Queremos acelerar o governo e fazer entregas”, disse. “Em relação a eleição, da mesma forma não discutimos o que vai ser o futuro”, completou.