De duas em duas semanas praticamente duplica o número de casos confirmados de Covid-19 em Criciúma. Paralelamente, mais pacientes são internados em UTI no município, situação verificada desde o dia 26 de abril. Inicialmente com as internações concentradas na rede particular, a situação inverteu e no Hospital São José, atualmente, 50% da ala destinada à Covid-19 está ocupada, com nove pacientes na UTI, entre suspeitos e confirmados.
Desde a última sexta-feira, 15, disparou o número de internações entre UTI e Clínica no município. Os dados disponibilizados pela prefeitura, que incluem as redes pública e privada, apontavam 20 internações no total, sendo 10 em UTI e 10 em clínica. No sábado, o número saltou para 25, chegando a 35 na terça-feira, dia 19, último boletim epidemiológico divulgado pelo município.
O Hospital São José está com o maior número de internações na UTI desde o começo da pandemia. Inicialmente com 30 leitos, o número foi ampliado para 50. Seguindo a regulamentação do governo do Estado, a instituição destinou 10% do número de leitos iniciais (três, de 30) e usou 15 dos novos 20 leitos contratados para a Covid-19, totalizando 18 para o tratamento do vírus. Os demais leitos, destinados a outros quadros clínicos, estão todos ocupados, de acordo com a direção do hospital.
À reportagem, o diretor técnico do São José, o infectologista Raphael Elias Farias, respondeu que o hospital convive há bastante tempo com a falta de leitos de UTI. "Os 30 leitos que a gente tinha antes sempre foram ocupados por completo, sempre teve alta ocupação geral. Já há reivindicação de leitos de UTI pelo histórico em geral. Criamos leitos exclusivos para poder dar esse suporte, foram 15 leitos que não existiam antes, feitos com recursos próprios de adaptação", disse.
Na internação clínica, o São José destinou 102 leitos, de 201 no total, para tratamento de Covid-19. 14 estão ocupados com a doença e 30 foram separados e ocupados para pacientes com outras comorbidades. Os 99 leitos restantes também estão ocupados. Dos total de leitos, 148 estão ocupados.
Raphael lembra que o governo do Estado previu o pico da curva de coronavírus para junho. Se as taxas de duplicação de casos da doença continuarem sendo de duas em duas semanas, com o acompanhamento de casos mais graves que necessitem de internações, não se descarta o colapso do atendimento pelo Sus no Sul catarinense.
"Pelo contexto regional e mundial de perspectiva de número de casos, a curva está ascendente. A gente acredita que vai ter um pico, mas não sabe quando. Temos que ver os impactos de medidas restrições existentes. Não sabemos se o padrão será atípico. A partir da liberação das atividades, a gente acredita que aumentou o crescimento dos números", projetou o médico.
O São José tem espaço físico para a abertura de mais 40 leitos de UTI. Porém, cabe ao Estado o fornecimento de equipamentos, como por exemplo os respiradores mecânicos. Não se sabe o tempo de resposta que o governo conseguiria dar caso os leitos atuais sejam todos ocupados e a região necessite de amparo.
"O que o Estado fala é que depende da demanda, conforme a necessidade eles enviam os equipamentos. É o Estado que monitora e lança o alerta de pedidos", disse Raphael. A última compra de respiradores pelo governo foi o polêmico contrato de R$ 33 milhões por 200 unidades, alvo de investigação do Ministério Público e de CPI na Alesc. Estima-se que apenas 50 tenham chegado para atender demanda de todo o Estado, ainda sob investigação da Polícia Civil.
22 de abril com apenas sete internações
Santa Catarina foi um dos estados pioneiros no Brasil a decretar o isolamento social. A partir do dia 18 de março, todas as atividades consideras não-essenciais foram suspensas. O primeiro caso de Covid-19 em Criciúma foi no dia 20 de março. Inicialmente, o coronavírus propagou-se na camada de maior renda da sociedade. Entre os dias 5 e 10 de abril, havia 10 internações em UTI na cidade, a maioria na Unimed.
No hospital da Unied estiveram internados simultaneamente sete pacientes em UTI, com o pico no começo de abril, de acordo com o presidente da Unimed Criciúma, Leandro Avany Nunes. Os números começaram a cair a partir da segunda quinzena do mês. No município, o ponto mais baixo de internações foi no dia 22 de abril - incluindo rede privada e pública, estavam internados três pacientes em UTI e sete em clínica.
De acordo com o pneumologista Renato Matos, o baixo número de internações no dia 22 de abril tem relação com as medidas de isolamento do governo do Estado. "Essa queda do dia 22 com certeza tem relação com o isolamento. O pico inicial (de internações no começo de abril) foi pela festa zero e outras que espalharam. Grande parte veio do grupo, aí teve o isolamento e segurou na Unimed da classe média para cima. Agora (o vírus) chega na periferia e é a grande preocupação", aponta.
Os casos de internação voltaram a subir em Criciúma a partir do dia 26 de abril e a situação na UTI do Sus não parou de crescer, até chegar ao atual momento, com metade da lotação da ala destinada à Covid-19 ocupada. O boletim epidemiológico da prefeitura mostra que a última terça-feira foi o dia com mais pacientes internados na cidade desde o começo da pandemia - 9 em UTI e 26 em clínica, entre casos suspeitos e confirmados.
Abertura do comércio
A partir do dia 2 de abril, o governo do Estado começou a relaxar as medidas de isolamento, com a liberação da construção civil. No dia 13 de abril foi liberado o comércio de rua e a última flexibilização foi no dia 23, com a abertura de bares, restaurantes, shoppings e academias. Restam suspensas as atividades do transporte coletivo e as aulas.
De acordo com Renato Matos, após o contato com o vírus, pode demorar até duas semanas para os sintomas se manifestarem. Com mais sete a 10 dias para fazer o teste e necessitar de internação, o intervalo entre o contato com o vírus e a entrada no hospital pode ser de três semanas a um mês. Portanto, é sugestivo que o atual pico de internação tenha relação com as aberturas dos dia 13 e 23 de abril.
"A grande preocupação é que as pessoas estão com a ideia de que (o vírus) já passou. Isso significa que pode ter descuido. Os números estão aumentando em conformidade com as aberturas feitas. Ainda está dentro de um valor controlado, mas se perder o cuidado e liberar geral, a tendência é de que tenhamos um quadro complicado", projeta Renato.
O pneumologista reforça que ainda é difícil determinar se o quadro sairá de controle. "Se essa tendência vai continuar, é muito cedo para afirmar. Essa abertura tem que acontecer, mas tem que monitorar porque se começar a explodir tem que dar uma freada. Os próximos dias são fundamentais para ver como vai avaliar", disse. O médico ressalta que a grande questão é saber qual será a velocidade de resposta do Estado para entregar novos leitos de UTI à região, caso seja necessário.
O último boletim epidemiológico da prefeitura de Criciúma, divulgado na terça-feira, dia 19, indica 317 casos confirmados de Covid-19 no município. Os números duplicam de duas em duas semanas, em média. No dia 5 de maio eram 158 confirmados, enquanto no dia 21 de abril, 78. Neste mês de maio, o número de internações em UTI saltou de quatro no dia 5 de maio para nove no dia 19.
Região de Araranguá sem leitos de UTI
Desde a semana passada, o Hospital Regional de Araranguá (HRA) está com os leitos destinados à Covid-19 lotados. Assim, novos pacientes que precisarem de internação terão que ser encaminhados para outra cidade, de acordo com determinação da regional de Saúde. O HRA atende toda a região da Amesc, com uma população de mais de 200 mil habitantes.
Em Içara, o Hospital São Donato tem apenas um leito destinado à Covid-19 e, segundo a administração, ele está ocupado. Há, ainda, a possibilidade de fazer o isolamento de outro leito para paciente com coronavírus.
A situação mais tranquila de interações em UTI no Sul catarinense está em Tubarão. Pelo Sus, 20 leitos foram destinados à Covid-19 e de acordo com o secretário de Saúde do município, Daisson Trevisol, apenas quatro estão ocupados. No município, foi solicitado a ampliação de mais 20 leitos, dependendo do aval do governo estadual.