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O poder do alimento que vale ouro para os bebês

Mães contam a importância que o leite materno teve e tem para os seus filhos. Agosto Dourado reforça a importância do aleitamento

Por Marciano Bortolin Criciúma, SC, 09/08/2021 - 16:27
Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação

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Mislaine tem 34 anos!
Lorena tem dois anos e quatro meses!
Mislaine queria que sua primeira filha nascesse de parto natural.
Lorena nasceu prematura. 
Mislaine decidiu não voltar ao trabalho para cuidar da  filha.
Lorena é a filha de Mislaine!

Quando estava na 34ª semana de gestação, a professora Mislaine Cardozo Zanelatto precisou da cesárea, pois Lorena queria vir ao mundo. Depois de ser avaliada em seus braços, a pequena menina foi encaminhada para a UTI devido a um desconforto respiratório.  Como era um bebê com baixo peso, recebeu uma sonda alimentar por onde foi alimentada com algumas doses de fórmula.

Mas, a Mislaine tinha total consciência e queria que a filha recebesse o alimento ideal: o leite materno. “Assim que pude levantar, comecei uma rotina dolorosa de ordenhas para que ela recebesse meu leite. E assim, desde o colostro - primeiro leite produzido quando as mulheres começam a amamentar - cada gotinha era encaminhada à Lorena através da sonda. Seguia também estimulando-a no peito e fazendo contato pele a pele nos dois dias de UTI”, recorda.

Depois, foram mais cinco dias com a sonda no quarto. Um total de dezessete no hospital, até fazer a transição completa para o peito. “Início difícil. com massagens, privação de sono. Recebi a ajuda fundamental da família e conseguimos... Amamentação exclusiva, sem fórmula, mamadeira ou chupeta, apesar das dificuldades da prematuridade.  

Perto dos quatro meses de vida, Mislaine descobriu que a filha tinha Alergia a Proteína do Leite de Vaca (APLV), e aí começou um novo processo. “Ela reagia via leite materno, então eu comecei a dieta sem leite e derivados para ver se os sintomas desapareciam. Precisei, inclusive, retirar os traços domésticos, trocar panelas, potes e me atentar aos rótulos dos alimentos. Sabia que o aleitamento materno era importante também para a cura dessa alergia, então não desisti. A amamentação exclusiva se estendeu até os sete meses e meio de vida da Lorena, já que a introdução alimentar deve ocorrer em prematuros pela idade corrigida. Com um ano de idade veio a cura da APLV. Uma alegria! Hoje ela pode comer qualquer tipo de alimento”, comemora.

Ainda hoje, Lorena segue recebendo o leite de Mislaine. “Seguimos com a amamentação até quando for bom para nós duas. O leite materno continua sendo um alimento riquíssimo e protetor em qualquer idade e o vínculo é imensurável. Sinto imensa alegria em todo tempo que estamos juntinhas, em cada mamada, momentos de vínculo, de entrega e amor. Em uma sociedade da indústria da fórmula, da falta de informação e da objetificação e sensualização do corpo feminino, amamentar é um ato de luta e resistência. Precisamos estudar e nos empoderar sempre mais para que a amamentação seja naturalizada e seus benefícios estendidos para todas as mães e bebês”, opina.

Depois de tantas lutas, Mislaine confirmou o que já sabia desde antes de ser mãe: que o leite materno é fundamental para a criança. É para que mais mulheres tenham um pensamento como o de Mislaine, que foi criado o Agosto Dourado.

Mesma casa. Mesmos desafios

A fisioterapeuta pélvica, Francielle Silvano Cardozo Lemos é irmã de Mislaine e em 2009 realizou o sonho de muitas mulheres: ser mãe. Mas desde quando engravidou, percebeu que os seus desejos de um parto normal e de amamentar seriam desafiadores. 

Após 36 semanas de gestação, nascia Manuela, com 2,3 quilos. Entre aquelas preocupações citadas lá no início, era o leite para amamentar a filha recém nascida. E os motivos para preocupação vinham de todos os lados, com questionamentos e avisos sobre as dificuldades de amamentar. “A fala do pediatra de que o leite desceria em três dias também me preocupou. Hoje sei que o leite maduro desce até o quinto ou sexto dia e isso é normal. E que nos primeiros dias são ofertados dois a 20 militros  de colostro por mamada. E que o colostro é fundamental para a imunidade, a proteção intestinal e a colonização de boas bactérias do bebê. Mas, naquela época, pedi para comprarem uma lata de Leite Artificial e fiquei olhando pra ela ansiosa. Meu leite maduro desceu”, lembra.

Ela conta que, por sorte, teve uma pediatra mulher que já havia amamentado e era incentivadora da amamentação. “Caso contrário eu já teria saído com a mamadeira do hospital mesmo. Amamentei exclusivamente até o sexto mês e mantive até dois anos e meio, não tive fissuras, mastites ou outras complicações. O desconforto da apojadura (a descida do leite) foi bem contornado. Mesmo assim, não foi fácil.  Em vários momentos achei que não tinha boa produção. A filha pequena, crescendo sempre no limite da curva, me fazia questionar minha capacidade. A fase dos dentinhos e mordidas também são desafiadoras”, relata.

Mas com apoio e  informação suficiente para saber que essas minhas impressões não eram reais e que o peso estava dentro do esperado e o desenvolvimento de Manuela era perfeito, ela passou a ter mais confiança em si mesma. “Fiz livre demanda, cama compartilhada, estudei o desenvolvimento infantil e na Teoria do Apego encontrei o conforto para confirmar os hábitos que me deixavam feliz. Estar disponível, sem limite de tempo, sem regras, com muito colo e contato”, comenta.

É para que mais mulheres tenham um pensamento como o de Francielle, que foi criado o Agosto Dourado.

Mães, filhos, sociedade

As vantagens da amamentação, aponta a nutricionista e coordenadora de Alimentação e Nutrição da Secretaria Municipal de Saúde de Criciúma, Ana Paula Aguiar Milanez, são diversas. 

Entre elas, favorece que os bebês tenham menos alergias, infecções, diarréias, doenças respiratórias e otites, além de menores chances de desenvolver obesidade e diabetes tipo 2, alcançam melhores desempenho em testes de inteligência, tornando-se adultos mais saudáveis e produtivos; 

Já as mães têm melhor retorno ao peso anterior à gestação e protegem contra o câncer de mama e de útero.

Porém, os benefícios são ainda maiores. “São também para a sociedade, pois garante um ambiente mais sustentável, pois não há produção de lixo, como plástico, alumínio, mamadeiras e economia de água e energia. Na verdade a criança não amamentada ao seio e com uso de fórmulas não terá as vantagens citadas, além de aumentar as chances de má oclusão dentária, não estímulos dos músculos da face podendo se tornar um respirador bucal, ocasionando no aparecimento mais frequente de infecções e otites”, enfatiza Ana Paula. 

A nutricionista ressalta também que o leite humano possui o que nenhuma fórmula contém “Um teor enorme de anticorpos que servirão como proteção a doenças já passadas pela mãe”, fala.

Já o debate oportunizado pelo Agosto Dourado, ela julga importante para reforçar a importância da amamentação. “O mês é importante pois provoca uma discussão e principalmente uma avaliação do que foi conquistado ou do que foi perdido. Claro que geralmente há uma evolução das conquistas, mas é fundamental que se fique atento aos retrocessos, principalmente nos dias atuais. Inicialmente era a primeira semana de agosto, mas, optou-se em fazer esta alusão aos benefícios do leite humano e da amamentação durante o mês inteiro: o Agosto Dourado. Dourado porque o leite humano é considerado o alimento padrão ouro para as crianças e deve ser oferecido exclusivamente até os seis meses e de forma complementar a alimentação sólida até os dois anos ou mais”, diz.

Problemas devem ser superados

Durante o puerpério, que são os primeiros dias após o parto, alguns problemas podem aparecer relacionados à amamentação. Então, é importante que, ao final do pré natal, a mulher e a sua rede de apoio devem ser orientados e se atentar aos primeiros sinais dos problemas. “Geralmente são dores, fissuras, mamas inchadas e doloridas, entre outros. Caso apareçam esses sinais, a puérpera e seu bebê devem procurar o Banco de Leite Humano, do Hospital Materno Infantil Santa Catarina (3445-8780) ou a Sala de Apoio à Amamentação”, orienta.

O Banco de Leite Humano Carlos Gorini existe desde 2018 e atende toda a Região Sul catarinense. “Lá ocorrem, além de orientações e atendimentos às dificuldades relacionadas à amamentação, o cadastro de doadoras e todo processo de armazenamento, pasteurização e distribuição do leite humano aos bebês internados na UTI neonatal. A doação do leite humano é um ato de amor. A doação é orientada pelos profissionais e a doadora recebe toda a assistência necessária, além de fazer bem à criança que precisa do melhor alimento numa fase difícil da vida”, conclui Ana Paula.

“Sentimento de ligação muito forte”

Diferente de Mislaine e Francielle, Aline Aparecida Silveira Danielski, de 41 anos, teve parto natural e foi acompanhada de uma doula e uma enfermeira obstétrica.

Assim, há sete anos nascia  Murilo Danielski, o primeiro e, até aqui, único filho de Aline. Ela conta que a amamentação pode parecer algo simples, mas é mais complexo do que se possa imaginar. “Em se falando no processo natural do ser humano, da criação de Deus,  mãe e filho estão ali, os dois  prontos para a amamentação, mas daí se deparam com um mundo que tira esse processo natural, falta de apoio,  falta de paciência dos que estão ao redor em esperar esse processo natural. Mas quando a mãe olha para o seu instinto materno e não dá ouvidos para o externo, a amamentação é algo que em palavras não dá pra explicar, mas é um sentimento de ligação muito forte. A mãe sentir que ela tem o que seu filho precisa, não só o alimento que supre todo seu organismo,  mas o colo, o cuidado, a troca de olhar,  o carinho, mas para isso precisa de apoio”, cita.

Aline buscou apoio junto ao Inanna, um grupo interdisciplinar de apoio ao parto e à maternidade que reúne profissionais qualificados a prestar serviços de atendimento às gestantes, mães, bebês e famílias, com o objetivo de promover a maternidade consciente, o aleitamento materno e o parto natural. “É preciso ter este cuidado, este apoio desde a gestação toda mãe e filho precisam, pois são muitas mudanças hormonais, de rotina com a chegada de um bebê e a prioridade são os cuidados com ele. Mãe e filho precisam de apoio familiar ou deste  acompanhamento profissional como eu busquei, mas que para mim não é apenas profissional,  foram mulheres que ajudam, que apoiam mesmo, que  se envolvem de verdade com a nossa maternidade”, pontua Aline.

Apoio às mulheres

A experiência de ser mãe e perceber de perto a importância da amamentação, fez Francielle, que também é doula, se envolver de corpo e alma na causa. Hoje, ela é Fisioterapeuta e Consultora de Amamentação da Sala de Apoio do Aleitamento Materno de Criciúma.

Criado em 2018, o espaço realiza campanhas, mamaços, capacitações e atendimento às mulheres criciumenses em qualquer questão relacionada à amamentação, com demandas que chegam das unidades de saúde. 

O local atua com equipe composta por nutricionista, enfermeira, fisioterapeuta pélvica, odontóloga, fonoaudióloga e médicos da Unidade de Saúde da Mulher. “ Atendemos desde baixo ganho de peso, cuidados com a apojadura (descida do leite), sensação de baixa produção de leite, fissuras mamilares, mastites, candidíase mamária até translactação para bebê que precisam complemento e relacação para bebês que ficaram por algum tempo sem aleitamento materno, entre outras situações (prematuridade, APLV, síndromes) são situações que a equipe multidisciplinar está qualificada a atender. Orientamos a toda mulher com dificuldade de amamentar que antes de introduzir a fórmula de leite artificial na mamadeira procure orientação na Sala de Apoio ou com alguma consultora de amamentação da cidade. Na maioria dos casos é possível ajustar o aleitamento materno beneficiando a mãe e o bebê”, diz Francielle.

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