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Pesquisas buscam conhecer impactos físicos e mentais da pandemia 

Estudos apontam que o que tem debilitado a saúde mental da população não é somente a doença

Por Marciano Bortolin Criciúma, SC, 01/05/2021 - 13:40
Foto: Mayara Cardoso/Colaboração
Foto: Mayara Cardoso/Colaboração

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Há pouco mais de um ano a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava o novo coronavírus (Covid-19), como uma pandemia. Pouco se sabia sobre aquela doença que saía de Wuhan, na China, para assolar o mundo. A corrida por entender o vírus e desacelerar a sua proliferação foi e continua sendo um fenômeno mundial, com isso, novamente a ciência ficou em evidência.

Assim como as pesquisas que brotam em diversos lugares, o Sul de Santa Catarina também apresenta os seus estudos. Um deles está na Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), em Criciúma. 

O estudo trata da “Investigação de Marcadores Neuroinflamatórios e de Dano Neuronal e suas Relações com Transtornos Neuropsiquiátricos em Sujeitos Positivos para Covid-19”. Um nome extenso, é verdade, mas um projeto que, coordenado pela professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Unesc, Gislaine Zilli Réus, atua em duas frentes: com pessoas que testaram positivo para a Covid-19 e com aqueles que ainda não foram infectados. Além da Unesc, o trabalho é realizado na Universidade Federal da Fronteira Sul, de Chapecó. “É um estudo multicêntrico. Nestas duas regiões são feitas entrevistas e coletas de material biológico, sendo que parte dela é analisada nas próprias universidades e parte será feita também em universidades dos Estados Unidos e do Canadá”, comenta Gislaine.

Pesquisa comandada por Gislaine ocorre em três fases

Até o momento, 269 voluntários participaram da iniciativa na região de Criciúma e 55 em Chapecó. Os atendimentos dos voluntários são realizados nas casas das pessoas ou nas clínicas integradas da Unesc, conforme desejo do voluntário. 

Gislaine explica que a pesquisa ocorre em três fases, sendo que no momento está sendo concluída a primeira. “Esta etapa trabalha com voluntários que tiveram o diagnóstico entre quatro e seis semanas antes dos testes. Iniciamos agora a etapa dois que são seis meses após o contato com o vírus e depois a ideia é fazer também após um ano da infecção. O objetivo é investigar a ocorrência e a prevalência de ansiedade, depressão, transtornos do sono, entre outros, em indivíduos com Covid-19, mas também estamos avaliando o fator pandemia que a gente sabe que também é estressante. A população que não foi afetada pelo vírus em si pode ter uma piora desses sintomas. Vimos que algumas pessoas que tinham estes transtornos têm uma piora. Quem tinha um fator genético pode desencadear estes fatores estressantes que estamos vivendo”, cita. 

De um lado da pesquisa, os infectados

O engenheiro eletricista de 43 anos de idade, Caio César Rodrigues Binotti, iniciou 2021 com o teste positivo para coronavírus. Ele passou janeiro com sintomas como dor de garganta e de cabeça, além de passar três dias parcialmente sem olfato e paladar. Na época, ele teve que entrar em isolamento juntamente com o filho, que também adquiriu a doença no mesmo período.

Binotti diz que entrou no projeto da Unesc através do convite de outra participante. Depois disso, recebeu a equipe da universidade na empresa, momento em que foi feita a coleta de sangue e a pesquisa. “Eles foram extremamente profissionais e atenciosos tanto na questão dos cuidados com agentes biológicos quanto na questão da entrevista com a psicóloga. Primeiramente um residente de medicina acompanhado de sua orientadora fez a coleta de sangue para análise. Depois disso, eles se retiraram e eu fiquei com a psicóloga respondendo uma série de perguntas, o que durou aproximadamente uma hora. Ao final, ela colocou à disposição o serviço de atendimento psicológico da Unesc, em caso de necessidade”, relata.

Ele revela que a doença não deixou nenhuma sequela. “Embora saibamos que muitas pessoas vem tendo problemas em decorrência do Covid-19, tanto fisiológicas quanto psicológicas, eu passei muito bem pela doença tendo apenas sintomas bem leves e sem nenhuma sequela conforme apontam os exames que fiz posteriormente”, expõe. 

Diversos profissionais estão envolvidos na pesquisa

Do outro lado da pesquisa, os “não infectados”

Além da pesquisa em torno daqueles que entraram na lista dos positivados para coronavírus, o projeto também se dedica aos impactos da pandemia para aqueles que ainda resultam em testes negativos, como é o caso de Regis Jurê Borba, de 59 anos. 

Além do teste, foram feitos outros exames de laboratório e uma entrevista com um psicólogo para verificar o seu estado, tanto de saúde física quanto mental. “Acho importante participar, pois percebo que muito se fala sobre sintomas e sequelas, mas parecem muito distintos de pessoa para pessoa. Em primeiro momento a preocupação maior, e é natural que seja, está na consequência física, mas também o que ouço de amigos e conhecidos que pegaram e se curaram fisicamente, alguns sintomas e sequelas de outro campo apareceram e algumas parecem perdurar por mais tempo. Considero importante que estudos sejam feitos para que se caminhe um pouco mais na direção do conhecimento para que saiamos do ‘acho isso ou aquilo’ e se possa ter orientações mais assertivas para as pessoas”, enaltece.

Em primeiro momento a preocupação maior, e é natural que seja, está na consequência física, mas também o que ouço de amigos e conhecidos que pegaram e se curaram fisicamente, alguns sintomas e sequelas de outro campo apareceram e algumas parecem perdurar por mais tempo" - Regis Juê Borba, voluntário

Borba fala ainda que passou a fazer parte da pesquisa depois de conversar com pesquisadores, quando acabou se oferecendo, foi quando fez o seu primeiro teste para verificar se já havia contraído a doença. “Pessoalmente, creio que é uma forma de se perceber, olhar um pouco para si de forma multidisciplinar e simultânea, visto que alguns aspectos físicos e mentais estão sendo monitorados ao mesmo tempo e por um período de tempo razoável”, enfatiza.

Para a segunda etapa, estão sendo convidados os mesmos voluntários que participaram da primeira, porém, conforme a pesquisadora, também podem ser incluídas pessoas que não participaram, mas que tiveram contato com o vírus há seis meses. “A gente liga para convidar baseado em uma lista da Vigilância Epidemiológica, mas também divulgamos nas mídias e as pessoas podem se voluntariar. Ainda tem vagas, quem quer participar pode. Estamos recrutando mais pessoas para a etapa um, mas também iniciamos a etapa dois”, comenta.

A ideia do estudo

Em abril de 2020, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) abriu chamada para fomentar iniciativas de enfrentamento da pandemia. No início, Gislaine ficou na dúvida se a sua linha de atuação se encaixava no tema. “Eu trabalho com depressão, transtornos psicológicos e na época não tinha nenhum estudo mostrando, então pensei se havia alguma relação com o que eu estudava. Depois começou a sair estudos mostrando que, principalmente aqueles mais graves apresentam sintomas psicóticos, ansiedade, depressão”, comenta.

A pesquisadora acrescenta que as entrevistas para avaliação dos sintomas são aplicadas por psicólogos residentes da Unesc. “São profissionais qualificados, mestrandos também que fazem um questionário e um enfermeiro coleta o sangue, além disso tem a coleta de fezes para exame. Temos os sintomas, o perfil metabólico, a tipagem sanguínea, mas o restante demora um pouco mais para ficar pronto. Estamos terminando de montar um banco de dados e o que temos observado é uma piora nos sintomas de quem já tinha estes transtornos. Observamos que, principalmente, quem ficou internado são indivíduos mais estressados, com mais problemas de memória e alguns estão precisando de acompanhamento psicológico e quando se percebe uma alteração que necessita do acompanhamento de um profissional, o encaminhamento é feito”, revela.

Além do físico, o mental

Calçadas com poucos ou sem nenhum pedestre. Ruas sem carros. Portas de lojas fechadas. O que parece o roteiro de um filme apocalíptico produzido por Hollywood, foi o resultado das medidas restritivas impostas pelos governantes na busca por tentar diminuir a contaminação pela Sars-COV-2. 

Tanto tempo trancafiadas em casa trouxe resultados físicos e mentais às pessoas e para avaliar esta situação foi criado o estudo ‘Mental Covid – Impacto da Covid-19 sobre a Saúde Mental da População”, através da parceria entre a Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e a Universidade Federal de Rio Grande (Furg), que obteve diversas respostas. Concluída recentemente, a pesquisa aponta que o cenário é capaz de causar mais sofrimento psicológico que a própria doença. Em alguns grupos da população, a pandemia causou estresse, depressão e até tendência ao suicídio. Em outros, a saúde física também foi prejudicada, com a diminuição da atividade física e o ganho de peso.

Estamos terminando de montar um banco de dados e o que temos observado é uma piora nos sintomas de quem já tinha estes transtornos. Observamos que, principalmente, quem ficou internado são indivíduos mais estressados, com mais problemas de memória e alguns estão precisando de acompanhamento psicológico e quando se percebe uma alteração que necessita do acompanhamento de um profissional, o encaminhamento é feito" - Gislaine Zilli Réus, professora e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Unesc

Em Criciúma, a iniciativa foi realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSCol) da Unesc, e coordenado pelos professores doutores em Epidemiologia, Antônio Augusto Schäfer e Fernanda de Oliveira Meller. Já na cidade gaúcha de Rio Grande, ela foi feita pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da Furg, tendo como líder o professor doutor em Epidemiologia, Samuel de Carvalho Dumith.

O estudo, que durou entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, foi contemplado em um edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e o seu desenvolvimento contou com uma equipe formada por diversos pesquisadores e acadêmicos das duas universidades.

O estudo de base populacional foi realizado com uma amostra aleatória, ou seja, as casas visitadas foram escolhidas por sorteio, de adultos e idosos, sendo que, ao todo, foram entrevistadas mais de 2,1 mil pessoas em mais de mil residências, deste total 600 domicílios e 863 entrevistados são de Criciúma. “Entre os pontos abordados estiveram alimentação, realização de atividades físicas, qualidade de vida, duração do sono e diversos aspectos da saúde mental”, conta Fernanda.

De casa em casa, a busca por saber como a pandemia afeta a saúde mental da população

Os resultados

Um dos pontos observados pelos pesquisadores é que, embora sejam de estados diferentes, com economias distintas e sem proximidade geográfica, os dois municípios onde as entrevistas ocorreram tiveram resultados semelhantes.

O líder da pesquisa comenta que para avaliar o impacto, foi estabelecido um comparativo entre o período pré-pandemia e o pós-pandemia, e isso foi possível porque a Furg havia realizado um estudo sobre a saúde mental e física da população de Rio Grande em 2016 e a Unesc, um levantamento nos mesmos moldes em Criciúma, em 2019. “Resolvemos reproduzir estas duas pesquisas para ver de que forma a pandemia afetou a saúde das pessoas. Para nossa surpresa, a saúde mental melhorou após a Covid-19. Porém, isso não aconteceu para todos os grupos. Para as pessoas mais afetadas pela pandemia, observaram-se maiores níveis de depressão, estresse, tristeza e ideação suicida”, revela Dumith.

O resultado da pesquisa demonstrou que a piora do quadro de saúde mental não foi causada pelo coronavírus em si. “O que nos chama muito a atenção é que o que está impactando a saúde mental não é o fato de ter tido ou não a doença. Tudo o que cerca a pandemia tem causado mais sofrimento psicológico que a própria doença”, afirma Schäfer.

Para as pessoas mais afetadas pela pandemia, observaram-se maiores níveis de depressão, estresse, tristeza e ideação suicida" - Samuel de Carvalho Dumith, professor doutor em Epidemiologia

Estresse e depressão

Segundo o professor da Unesc, as pessoas que fizeram o isolamento total e praticamente não saíram de casa, tiveram uma pior percepção de sua saúde e maior nível de estresse e depressão. Além disso, aqueles que fizeram uma busca excessiva de informações - denominado “infodemia” - foram as que, comparativamente, tiveram o maior sofrimento psicológico. “Já entre aqueles que tiveram Covid-19 não houve nenhuma diferença nos resultados de depressão e estresse, quando comparados àqueles que não tiveram. O que debilitou e vem debilitando a saúde mental das pessoas é o medo e/ou a preocupação de contrair a doença. Tanto que, entre as pessoas que já tiveram Covid-19, o medo e a preocupação é menor”, revela.

O distanciamento total foi maior para sexo feminino, para idosos e para pessoas de um menor nível socioeconômico. O medo e a preocupação com o coronavírus foi maior para as mulheres e para idosos. Já a busca excessiva de informações foi maior entre os idosos.
Com relação aos impactos físicos, cerca de 40% dos entrevistados relataram aumento de peso; 40% diminuíram a prática de atividade física e 30% passaram a comer mais após a pandemia.

O professor da Furg e líder da pesquisa, Samuel de Carvalho Dumith, afirma que os dados trazem à tona um dilema: as complicações causadas pela Covid-19 têm levado milhões de pessoas a óbito por razões de cunho biológico - deterioração da saúde física. Porém, o que tem debilitado a saúde mental da população não é a doença propriamente dita, mas as medidas impostas para conter a proliferação do vírus como o distanciamento social. “De um lado as pessoas podem deixar de viver por causa de um vírus que pode ser letal; de outro, com o distanciamento social e as preocupações impostas pela pandemia, as pessoas seguem vivendo, mas sem perspectiva, sem ânimo, sem esperança”, analisa.

Todas as informações coletadas nas entrevistas foram armazenadas em um banco de dados para serem analisadas. Depois disso, serão compiladas e fornecidas para o poder público dos municípios participantes para colaborar na tomada de decisões na área da saúde coletiva. O estudo ainda será o ponto de partida de artigos científicos desenvolvidos pelos alunos e professores do Mestrado em Saúde Coletiva da Unesc.

Pesquisa Mental Covid aponta que as pessoas que fizeram o isolamento total e praticamente não saíram de casa, tiveram uma pior percepção de sua saúde e maior nível de estresse e depressão

Resgate da alegria de viver

“O fio da vida não foi cortado”. A frase usada por Vânio de Oliveira, traduz bem o que ele passou ao enfrentar a Covid-19 em fevereiro deste ano. Aos 67 anos de idade, o pastor, teólogo e ex-deputado, passou por momentos difíceis, ainda mais por ser hipertenso, diabético e cardíaco. Na época, a médica que lhe atendia disse à sua filha que a vida dele estava por um fio. “Isso devido às três comorbidades. Cada uma no seu devido lugar, qualquer que se manifestasse a Covid-19 eu não suportaria.”

Depois de passar pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital São José (HSJ), ele recebeu alta no dia 10 de março. Com 23 quilos a menos, ele voltou para casa sem poder falar e sem mobilidade nas pernas e nos braços. “Ainda hoje meu corpo está com dormência. Tudo que aconteceu neste período considero a mão de Deus. A voz voltou lentamente e de repente me levantei da cama e fui caminhando para a cozinha tomar o meu café.”

Hoje, Oliveira realiza diversos tratamentos pós-covid, entre eles, atendimentos com nutricionista, pneumologista, além de participar também do Programa de Reabilitação Pulmonar, da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc). “O encaminhamento foi feito pelo meu sobrinho Dr. Fabrício Gonçalves de Oliveira que conseguiu espaço com a equipe do Dr. Eduardo e hoje tenho acompanhamento constante. A fisioterapia tem sido de grande valia. Temos o acompanhamento do Dr. Eduardo e suas assistentes e a nossa evolução tem sido fantástica. Sou persistente no dever de casa. A cada dia evoluindo”, revela.

O doutor em Ciências da Saúde, Eduardo Ghisi Victor, de quem Vânio fala, é coordenador do Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória (Laficre) da Unesc. Ele conta que um dos programas de extensão mais antigos da Unesc é a reabilitação pulmonar, que surgiu como proposta de atendimento aos ex-mineiros do carvão que desenvolviam Pneumoconiose. “Atualmente estamos nos estruturando para o atendimento do paciente pós-Covid-19. São realizadas avaliações e os atendimentos fisioterapêuticos para as pessoas que estão se recuperando da doença”, explica Ghisi, acrescentando que no momento os pacientes estão sendo avaliados e categorizados para avaliar os benefícios da fisioterapia na reabilitação no futuro.

Programa de Reabilitação Pulmonar, da Unesc, ajuda Vânio de Oliveira a se recuperar da Covid-19 

Sopro de vida

O Programa de Reabilitação Pulmonar envolve diretamente acadêmicos e professores do Curso de Fisioterapia e indiretamente os Cursos de Nutrição, Psicologia e Medicina da Unesc, formando uma rede de cuidados aos pacientes cardiorrespiratórios. No momento, em função da demanda, estão sendo atendidos apenas os pacientes pós-Covid-19.

Para o coordenador, é recompensador ver a melhora dos pacientes. “São pessoas que passaram por momentos de dificuldade com a doença e alguns que lutaram pela própria vida nos hospitais da região e agora estão retomando às suas vidas novamente. A Reabilitação Pulmonar é realmente um sopro de vida”, enfatiza.

Consequências da infecção

Ter o olfato comprometido é o que incomoda o aposentado Daniel Fernandes Correa, 42 anos de idade, após ter vencido a doença, uma condição que já melhorou após ingressar no programa. “Eu estava muito ruim para respirar e melhorou bastante após a fisioterapia. A fisioterapia da Unesc é muito boa, o atendimento é bom e a maneira que é feita. Andamos na esteira, na bicicleta, é muito completo”, revela Correa, que testou positivo para a Covid-19 no dia 2 de março deste ano. 

Entre os principais sintomas, ele disse que teve dor de garganta, fraqueza, falta de ar e febre. 

O coordenador do laboratório menciona que as pessoas que passam pelo novo coronavírus apresentam no geral intolerância ao esforço físico por comprometimento respiratório, de força muscular e, algumas vezes, de equilíbrio. “Sendo que a reversão desse quadro depende da gravidade da doença e como ela afetou cada indivíduo. Temos pacientes com sequelas mais brandas em que se vê resultado no segundo atendimento, outros reagem de forma mais lenta. Mas de forma geral todos apresentam melhoras expressivas, relatadas por eles e pelos familiares”, aponta.

Os atendimentos

Os atendimentos são realizados no Laficre na Clínica de Fisioterapia da Unesc e incluem treinamento aeróbico, de força e equilíbrio, entre outras condutas de acordo com cada caso, visando a melhora do condicionamento cardiorrespiratório. “No momento estamos trabalhando com bolsistas de extensão do próprio Programa de Reabilitação Pulmonar e, por termos que respeitar as normas de biossegurança que o momento exige, temos que limitar o número de participantes por atendimento. É de extrema importância que se tenha uma boa logística para lidar com a demanda”, cita Ghisi.

Informações e orientações podem ser obtidas pelo telefone 3431-2654. “Normalmente os pacientes são orientados a buscar uma avaliação médica antes da reabilitação para que o paciente seja acompanhado também pelo seu médico ou o médico da unidade de saúde mais próximo a sua casa”, pontua.

Pacientes realizam treinamento aeróbico, de força e equilíbrio, entre outros, de acordo com cada caso

Um resgate para quem sofreu com a Covid-19

Rescue do inglês: Resgate. Resgatar pode significar muitas coisas, entre elas, recuperar crédito; livrar-se de um fardo ou culpa; voltar a possuir algo; salvar do fracasso, entre outras.

Para quem foi infectado pelo novo coronavírus (Covid-19), a palavra resgatar ganha novos significados. Resgatar o fôlego, o olfato, o paladar, o movimento dos membros, o convívio da família e a alegria de viver. 

Para ajudar estas pessoas a incluírem o “resgatar” em seu vocabulário, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), campus Araranguá, criou o Projeto RE2SCUE. Isso mesmo, com a inclusão do número dois. Desmembrada, a palavra significa “Reabilitação Respiratória em Sobreviventes da Covid-19”.

A iniciativa chamou a atenção da mestre em ciências da reabilitação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e atualmente aluna de doutorado no programa de Neurociências da UFSC, Maria Cristine Campos.

Ela conta que houve a divulgação de um edital especial para ingresso no doutorado do qual ela participou e foi classificada. Desde então, está como aluna de doutorado responsável pela condução da pesquisa.

Mas afinal, o que o RE2SCUE faz? “É um estudo clínico, com o objetivo de avaliar os efeitos da reabilitação respiratória em pacientes que tiveram a Covid-19. Os pacientes são avaliados e reavaliados após o tratamento de oito semanas consecutivas, por fisioterapeutas e alunos do curso de Fisioterapia, treinados e capacitados. Uma vez incluídos no estudo, os pacientes são alocados em dois grupos: um grupo que realiza o tratamento presencialmente e outro grupo que recebe atendimento à distância”, explica. 

Pacientes são avaliados e reavaliados após o tratamento de oito semanas consecutivas

A equipe, formada por professores do curso de Fisioterapia da UFSC, alunos de graduação, de mestrado, doutorado e pós-doutorado dos programas de pós-graduação em ciências da reabilitação e neurociências, avaliam os pacientes em duas manhãs, envolvendo testes de função física e aplicação de questionários. Além disso, os voluntários realizam testes de caminhada, avaliação da força muscular, avaliação de sintomas de dispneia (falta de ar), cansaço (fadiga) e o quanto isso limita as suas atividades diárias. “Eles também passam por avaliação de sintomas de ansiedade e depressão, da função cognitiva, com testes que avaliam a atenção e a memória, entre outros. Realmente é uma avaliação bem completa”, ressalta Maria.

Ela conta ainda que aqueles que realizam o tratamento presencial recebem oito semanas consecutivas de reabilitação respiratória, duas vezes por semana, com duração de 60 a 90 minutos por sessão que ocorre no setor de Fisioterapia do Hospital Regional de Araranguá (HRA). “De modo geral, os participantes realizam exercícios físicos aeróbicos na esteira ergométrica, exercícios de fortalecimento muscular e também alongamentos. Todos os exercícios são prescritos de forma individualizada e monitorados por Fisioterapeutas. Já o grupo de pacientes em atendimento à distância recebe ligações por WhatsApp para o atendimento educacional com orientações gerais de saúde. 

Iniciativa da Ufsc de Araranguá tem contribuído para a recuperação de diversas pessoas que passaram pelo coronavírus

Resultados promissores

Até o momento, ocorreu uma pesquisa piloto que iniciou com oito participantes. Destes, cinco receberam o tratamento de forma presencial e apresentaram melhora significativa, aponta Maria. Ela afirma também que a execução desta etapa ocorreu entre o fim de novembro de 2020 e fevereiro de 2021. Agora o nosso objetivo é atender mais 82 pessoas. “Nós observamos um aumento significativo na capacidade funcional dos pacientes, redução importante dos sintomas de falta de ar e cansaço, diminuição dos sintomas de ansiedade e melhora da atenção. Os próprios pacientes relataram as suas percepções de melhora e durante os atendimentos era possível observar a progressão nos exercícios”, comemora.

O coordenador do Laboratório de Biologia do Exercício Físico (LaBioEx), professor e pesquisador Aderbal Silva Aguiar Júnior, diz que o local estuda a fundo os fenômenos associados à fadiga, aos físicos e mentais. “Já era do meu conhecimento uma coisa chamada síndrome pós-viral de todas as pandemias que tiveram até agora, desde a peste negra, até a H1N1 e outras epidemias, além da própria SARS-COV 1 e uma das principais características é a fadiga pós-viral, então imaginei que os pacientes de Covid-19 iam prosseguir com sequelas, como fadiga e problemas de saúde mental. O Ministério da Saúde abriu o edital através do CNPq e eu fiz a proposta de estudar as sequelas e se os exercícios são capazes de reverter. A pesquisa é um estudo clínico para avaliar os efeitos do exercício físico nas sequelas da Covid-19, principalmente a dispneia, a fadiga e o cansaço, a tosse, a dor articular e muscular”, menciona.

Nós observamos um aumento significativo na capacidade funcional dos pacientes, redução importante dos sintomas de falta de ar e cansaço, diminuição dos sintomas de ansiedade e melhora da atenção - Maria Cristine Campos, mestre em ciências da reabilitação e doutoranda no programa de Neurociências na Ufsc

Aguiar deixa claro que o exercício é seguro nestes pacientes. “Nenhum paciente precisou de suporte de oxigênio e tivemos diminuição de 90% nestas sequelas, redução do cansaço mental, aumento da força muscular e também a diminuição da ansiedade dos pacientes”, fala.

“Pesquisas como esta devem sempre ser divulgadas e apoiadas”

A mestre em ciências da reabilitação destaca que, com base na pesquisa inicial, foi observado que os pacientes apresentam sintomas de cansaço e sensação de falta de ar que limitam atividades básicas do dia a dia como tomar banho, vestir-se, cuidar da casa e trabalhar. “Percebemos sintomas de ansiedade e depressão presente em todos os participantes. Além disso, era comum ouvirmos o relato de que a memória estava prejudicada. Eles também apresentavam fraqueza muscular, dor nas articulações e no corpo. Uma outra sequela muito comum é a perda ou a alteração do olfato e do paladar. Inclusive, um dos pacientes relatou que a redução do olfato e paladar o limitava a cozinhar, pois sempre precisava pedir ajuda para saber se o tempero e o sal da comida estavam adequados”, comenta Maria, que não esconde a felicidade em ver a melhora dos participantes do projeto. “Eu realmente sinto muito orgulho de fazer parte desta pesquisa. É gratificante poder observar a melhora dos pacientes. De fato, pesquisas como esta devem sempre ser divulgadas e apoiadas. Nós ficamos felizes em poder ajudar as pessoas, oferecendo um serviço qualificado, gratuito e eficiente”, pontua.

Caminhar na esteira hergométrica é um dos exercícios realizados pelos voluntários do programa RE2SCUE

Ainda é possível ser voluntário

Aqueles que testaram positivo para o novo coronavírus nos últimos seis meses e querem ser voluntários do RE2SCUE podem entrar em contato pelo (48) 99859-7973. Porém, é preciso ter apresentado sintomas como falta de ar, cansaço, dor muscular, dor nas articulações ou tosse.

Além do Hospital Regional de Araranguá (HRA) e do Ministério da Saúde, o RE2SCUE da UFSC também tem a parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), Unisul e Unesc.

Tags: coronavírus

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