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“Sem eles, eu não estaria vivo hoje”

O surfista Rodrigo Scussel sobreviveu a um afogamento após ser resgatado pelo Serviço Aeromédico do Sul (Sarasul)

Por Stefanie Machado Criciúma, SC, 21/12/2022 - 07:10 Atualizado em 22/12/2022 - 05:37
Serviço Aeromédico do Sul (Sarasul) completa dois anos de atuação nesta quarta-feira (21). Foto: Stefanie Machado/4oito
Serviço Aeromédico do Sul (Sarasul) completa dois anos de atuação nesta quarta-feira (21). Foto: Stefanie Machado/4oito

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Quatorze de maio de 2022. Era manhã de um sábado de sol, na Praia do Cardoso, em Laguna. Ondas entre quatro e cinco metros quebravam em meio ao mar. Este cenário representa a idealização perfeita para muitos surfistas, especialmente os mais aventureiros.

Naquela data, Rodrigo Scussel, à época com 36 anos e já acostumado com o mar agitado daquela localidade, aproveitou para surfar. No entanto, um acidente mudou a forma como aquele dia terminaria. 

“Estava surfando já a manhã inteira e fui pegar uma última onda. Depois dessa, eu já ia sair. Lembro que peguei essa onda e, no momento em que desci, ela fechou em cima de mim e me jogou para o fundo. No esporte, é normal levar esse ‘caldo’. Fiquei tranquilo, pois estava utilizando um colete salva-vidas. Eu sabia que ia conseguir subir de volta”, relembra. 

Porém, naquele instante, a força da natureza o direcionou para um rumo inesperado. “Lembro que, quando estava chegando à superfície - e eu ainda tenho a imagem do céu azul -, veio uma outra onda, que bateu em cima de mim e me jogou ainda mais para o fundo. Acredito que ela tenha estourado no meu pescoço, porque fraturei a cervical. Acho que foi ali que apaguei no fundo do mar”, conta.

Anjos da vida real

A correnteza levou Rodrigo inconsciente até à beira do mar, do outro lado da praia. Por sorte, um casal que ali passava notou a presença do surfista. Imediatamente, a dupla fez sinal para a equipe Jaguaboys, um grupo de surfistas experientes que já enfrentou as maiores ondas do Brasil. 

Surfistas auxiliaram nos primeiros socorros e acionaram o Serviço Aeromédico do Sul (Sarasul). Foto: Thiago Faccini/@eternizeseusurf 

“Começamos a fazer toda a parte de salvamento, que nós já sabíamos pelo Mateus, médico do Sarasul, que nos ensinou. Fizemos aquele procedimento virá-lo de lado e tirar a água do pulmão. Ele expelia muita água e muito sangue, estava desacordado”, comenta Edmilson Martins, o Bola, um dos membros do Jaguaboys que ajudou no resgate de Rodrigo. Um médico também estava no local e auxiliou nos primeiros socorros. 

Como a maré estava alta, o grupo percebeu que seria bastante difícil o Corpo de Bombeiros ou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) acessar a praia. Desta forma, os surfistas acionaram o socorro por meio do Serviço Aeromédico do Sul (Sarasul). Em menos de 15 minutos, o helicóptero com profissionais de saúde estava no local para resgatar a vítima. 

Um serviço essencial 

Rodrigo foi atendido já consciente, apresentando sinais de hipotermia e queda de saturação. Prontamente, os profissionais o colocaram na maca, com acesso venoso e oxigênio com máscara facial, e o encaminharam para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão. 

“É muito importante tanto o Sarasul quanto a equipe de surfistas, que já tem uma experiência no salvamento, estarem sempre em harmonia. Não adiantava nós termos salvo ele, se a aeronave não viesse prontamente para resgatá-lo. É um serviço essencial, principalmente, para nós surfistas de ondas grandes. Somos muito gratos por essa parceria”, ressalta Bola.

Em menos de 15 minutos após o acionamento, profissionais de saúde já estavam no local para resgatar Rodrigo. Foto: Arquivo/Sarasul.

O caso de Rodrigo é um exemplo claro de algumas centenas de vidas impactadas pelo Serviço Aeromédico do Sul. Junto ao Serviço Aeropolicial (Saer), o sistema completa dois anos de atuação nesta quarta-feira, 21 de dezembro. Neste período, foram mais de 375 atendimentos em um território que compreende de Imbituba a Passo de Torres - totalizando 45 municípios. Somente em Criciúma, foram cerca de 170 ocorrências. 

Hoje, a base está localizada no bairro Vila Macarini, na Capital do Carvão. O delegado e coordenador do Saer, Alan Amorim, vivenciou o surgimento do Serviço Aeromédico. “O Saer existe na Polícia Civil desde 2004. Em 2016, a base que ficava em Florianópolis veio para cá. O serviço existe também em Chapecó, mas veio para a região também porque aqui não tinha nenhuma aeronave de segurança pública”, comenta. 

Desta forma, para melhor aproveitar o uso da aeronave aqui no Sul, foi buscada a parceria para ter um serviço aeromédico, a exemplo do que já tinha no Oeste catarinense. Assim, nasceu um convênio com a Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec), por meio de um acordo de cooperação técnica. 

Aeronave consegue se deslocar para regiões mais distantes, como Praia Grande, em cerca de 20 minutos. Foto: Stefanie Machado/4oito.

“A Amrec, inicialmente, abraçou estes custos de contratar a empresa para gerenciar a parte de contração de médico, enfermeiro, farmacêutico, e manter um local na nossa base para o serviço aeromédico. Isso foi concretizado em dezembro de 2020”, conta o coordenador. Hoje, os custos do serviço aeromédico também são divididos com a Associação Municípios Região de Laguna (Amurel). Despesas com policiais, tripulação e aeronave são custeados pela Polícia Civil. 

Equipe qualificada e multiprofissional 

O grupo de trabalho é formado pelos profissionais do Saer, composta por policiais civis, piloto, copiloto e operadores aerotáticos. Na área de saúde, médicos, enfermeiros e farmacêuticos fazem parte do quadro. Assim, o serviço é dividido em duas principais frentes: atendimentos primários e secundários. 

De acordo com Amorim, a primeira situação corresponde aos acidentes, paradas cardiorrespiratórias, e outros casos em que precisam de um profissional de medicina ou enfermagem no local da cena de forma imediata. “Isso é importante pelo tempo resposta que conseguimos levar a equipe médica, mais do que o transporte do paciente até o hospital, é levá-los até o local da ocorrência”, acrescenta. 

Ainda, há o atendimento secundário. “A outra situação são as transferências de hospitais de menor complexidade para hospitais que consigam atender o paciente de forma mais completa, com equipe especializada. É o caso de infartos e AVCs (Acidente Vascular Cerebral) que precisam de intervenção em um curto espaço de tempo para que a pessoa consiga se recuperar sem sequelas”, explica. 

Gestão

Desde maio, o Instituto Harmone está na administração do Sarasul. Por conta da desistência da empresa anterior, a OZZ Saúde, o Consórcio Intermunicipal Multifinalitário da Região Carbonífera (CIM-Amrec) realizou um contrato emergencial para manter os atendimentos. 

“O serviço continuou sendo prestado normalmente, não parou nenhum dia. A equipe médica, mesmo com a questão contratual e salarial, continuou atuando conforme a escala de trabalho. A população não teve prejuízo”, esclarece Amorim. Com o fim do prazo de seis meses, a contratação foi renovada em 30 de novembro deste ano e a empresa continua na gestão em 2023.

“A aeronave está sendo bem utilizada hoje. Se fosse somente um serviço policial, ela seria subutilizada porque tem demanda, mas hoje se aproveita mais. O número de horas de voo é bastante equilibrado entre os serviços e uma demanda não atrapalha a outra. Hoje o Samu, quando nos aciona, vê como um meio eficaz de prestar atendimentos. Na parte policial, é uma aeronave que está à disposição de segurança pública da região, além da polícia civil, mas também a Militar, Rodoviária e Defesa Civil, como em casos de emergências de enchentes”, salienta Alan Amorim, coordenador do Saer.  

Minutos que fazem a diferença 

Quando uma vida está em risco, todo o tempo é crucial. Quem já foi impactado pela Sarasul, como o surfista Rodrigo, sabe exatamente como é isso. Com a aeronave, horas de deslocamento se transformam em minutos que fazem a diferença tanto para aumentar chances de sobrevivência quanto na diminuição das sequelas e tempo de recuperação. 

O médico do Sarasul, Vanderlei Damin, explica que este é justamente o principal motivo para o serviço ser acionado, seja pelo Samu ou Corpo de Bombeiros. “As centrais regulam as urgências e, uma vez que elas observam alguns critérios, seria uma situação de urgência. Isto é, risco de vida iminente e que o profissional, médico ou enfermeiro, possa chegar de forma mais rápida para dar maior chance de vida para esta pessoa. São condições em que as ambulâncias não chegariam tão rápido ou não teriam médicos nestes veículos, como acontece em municípios distantes. É pensar em situações em que o tempo resposta muda todo o desfecho”, enfatiza. 

Equipe Saer/Sarasul é formada por policiais civis, piloto, copiloto, operadores aerotáticos, médicos, enfermeiros e farmacêuticos. Foto: Stefanie Machado/4oito. 

De ambulância, só para ter uma noção, a aeronave demora 20 minutos para chegar em regiões mais distantes, como no município de Praia Grande. Se considerar a ambulância mais próxima com médico - que fica em Araranguá - demoraria cerca de uma hora e meia somente na ida, explica Damin. “Conosco, em aproximadamente uma hora, o paciente já estaria aqui no Hospital São José, enquanto a ambulância ainda estaria à caminho, o que levaria quase três horas”, complementa. 

Quanto às ocorrências, casos de afogamento, justamente por se tratar de uma região litorânea, estão entre os atendimentos mais frequentes. Ainda, são registrados em grande número acidentes de trânsito, como colisões e capotamentos, tanto em rodovias federais quanto estaduais. Nos transportes secundários, o serviço se mostra bastante eficaz para infartos e AVC. 

“A diferença está entre a vida e a morte. Principalmente, na questão de atendimentos primários. Como estamos em uma região de litoral, atendemos muitos casos de afogamentos, tanto em água doce quanto salgada. Além disso, também é possível diminuir sequelas e dias de internação. São três coisas essenciais: vida, sequela e internação”, afirma Vanderlei Damin, médico do Sarasul. 

A volta por cima

Depois de estabilizado, Rodrigo foi encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Unimed, onde precisou ficar por aproximadamente três dias. Em casa, o surfista ainda necessitou permanecer com a coluna cervical imobilizada por três meses devido à fratura. 

Por mérito dos primeiros socorros prestados pelos companheiros de mar e da agilidade dos profissionais do Sarasul, após o período de recuperação, Rodrigo retornou às suas atividades e, hoje, leva uma vida normal em Treviso, onde mora atualmente. 

Após o período de recuperação, Rodrigo voltou à rotina e à prática de uma de suas grandes paixões: o surfe. Foto: Tiago Moritz/Arquivo Pessoal.

“Consegui voltar a surfar, graças a Deus. Estou começando agora, há duas semanas pegando ondas pequenas. Já consegui me recuperar. É a minha paixão. Tenho uma família, estamos construindo uma casa e estou vivendo tudo isso. Porque eu poderia não estar vivo. A vida segue, e os nossos sonhos também. A gente está bem, e em questão de segundos, tudo muda”, avalia. 

“Eles são anjos que Deus deixou aqui na terra para nos ajudar. O bem que eles fizeram para mim eu quero retribuir para o mundo fazendo sempre o melhor”, finaliza Rodrigo Scussel, surfista e sobrevivente. 

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