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Técnico do "patinho feio da chave", Júnior Rocha espera dificuldades contra o Tigre

Treinador do Ypiranga concedeu entrevista ao Portal 4oito e falou sobre o estilo de jogo do seu time e as armas do Criciúma, rival nesta sexta-feira

Por Heitor Araujo Erechim, RS, 12/08/2021 - 19:00 Atualizado em 13/08/2021 - 15:36
Júnior Rocha assumiu o Ypiranga no início da temporada (Foto: Divulgação / Ypiranga FC)
Júnior Rocha assumiu o Ypiranga no início da temporada (Foto: Divulgação / Ypiranga FC)

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O Tigre tem pela frente nesta sexta-feira, 13, o Ypiranga, líder do Grupo B da Série C. O clube de Erechim acumula boas campanhas nas últimas competições nacionais, mas não consegue o acesso. Nesta temporada, apostou no técnico Júnior Rocha, que fez sucesso na Luverdense entre 2013 e 2017 e passou pelo Barra, de Balneário Camboriú, no ano passado. 

Considerado um dos treinadores emergentes no cenário brasileiro e muito elogiado pelo desempenho e campanha do Ypiranga desde o Campeonato Gaúcho deste ano, Júnior Rocha privilegia um time que gosta de jogar futebol. Segundo o técnico, desde antes do termo entrar "na moda" do futebol brasileiro - especialmente com a contratação de Miguel Ángel Ramirez no Internacional - suas equipes já atacavam com o "jogo de posição".

Júnior Rocha espera dificuldades na partida contra o Criciúma, especialmente pelo futebol físico e bem organizado defensivamente da equipe de Paulo Baier. Na ponta do Grupo B, uma temporada depois de ter perdido o acesso na rodada final da Série C, o Ypiranga tem como armas, segundo o próprio treinador, a continuidade no trabalho e a boa estrutura. 

Estes e outros temas foram abordados pelo técnico em entrevista exclusiva ao Portal 4oito. 

4oito: O Ypiranga quebra o paradigma de que se precisa de um time prioritariamente físico para ir bem na Série C?

Júnior Rocha (JR): "Tem que ter o equilíbrio de todas as valências. Não adianta ter um time extremamente técnico sem competitividade, nem o contrário. O principal é ter um jogo coletivo muito forte.

O futebol só existe por causa da bola, o atleta gosta. Todos preferem jogar a marcar. Nosso forte é um jogo coletivo muito grande, comprometimento técnico e tático, jogar organizado na fase ofensiva e defensiva e sincronizar as movimentações defensivas.

Essa coletividade potencializa por exemplo o Quirino, que não era titular no primeiro semestre, hoje é e é o artilheiro da Série C. Perdemos Zé Mário, Jean Silva e Caprini e entraram Jonathan, Silvano e Dico, que já estavam aqui".

4oito: A posse de bola foi exaltada por algum tempo no futebol brasileiro. Depois o jogo reativo entrou na moda. Pra ti, a posse de bola é fundamental?

JR: "Sem a bola o futebol não existe. O modelo de jogo que a gente procura é de time propositivo. Mas tem que ter cuidado. Tem jogos que o adversário vai te envolver e tu tens que ter equilíbrio, não adianta querer só atacar e esquecer o momento defensivo. 

Os adversários também treinam, se aperfeiçoam e muitas vezes propõem o jogo. Temos que ter humildade de jogar sem a bola e de forma reativa ou até explorando o jogo vertical. Não existe time que só propõe. O Fernando Diniz é o exemplo, vejo muitas vezes o time dele fazendo bloco baixo. O Diniz hoje é o exemplo a ser seguido em posse de bola".

4oito: Teu time ataca com o jogo de posição?

JR: "Isso é uma nomenclatura. Eu usava em 2014, 15, 16 e 17, na Série B. Com toda a humildade: o treinador brasileiro tem um defeito, ele não escreve. Os portugueses e espanhóis escrevem, passam as ideias para a folha, escrevem artigos. O brasileiro não faz isso.

Fiz o curso da prova da CBF, uma das disciplinas foi jogo de posição baseado no Inter do Ramirez. Fiquei pensando: uso desde 2014 o jogo de posição e a nomenclatura só veio agora. 

Nós jogamos em jogo de posição, obviamente. Gosto de jogadores bem posicionados e que entendam a função e movimentação exata. Jogo de posição é o atleta conseguir explorar o setor dele da melhor fora possível.

O jogador brasileiro tem a fama de bagunçar os times. Eles vão para fora e dizem 'eu aprendi a marcar'. Ele sempre marcou, mas aprendeu a se posicionar melhor".

4oito: Há quem diga que o jogo de posição deixa o time estático. Quero que tu fales sobre isso.

JR: "O jogo de posição não é ficar parado na posição. Fala-se em jogo de posição só durante o jogo e as pessoas esquecem o treinamento feito para isso. O jogo de posição é conseguir movimentar corretamente no teu setor. 

O beirada pelo lado direito não vai atravessar ao lado esquerdo, mas não tem como ser proibido trocar com o meia ou o lateral. Muitas vezes o beirada vem na do lateral, o lateral vai no do meio e o do meio vai para a beirada, é a triangulação.

Já faz tempo que o brasileiro usa o jogo de posição e a nomenclatura veio agora. Não é proibido fazer a movimentação, pelo contrário, é obrigado a fazer para conseguir espaço, atacar a última linha e ser mais vertical, para não usar só o jogo apoiado que fica complicado".

4oito: A marcação por encaixe é privilegiada contra o jogo de posição. Tua equipe tem dificuldades contra o Criciúma por isso? Na primeira fase a melhor partida do Tigre foi contra o teu time...

JR: "É verdade, também acho que foi a melhor partida do Criciúma contra nós, infelizmente. Todas as equipes vão passar por oscilação na Série C, o Criciúma teve recentemente e nós vamos passar, com certeza. 

Não acho que tenhamos dificuldades, no segundo tempo a gente melhorou bastante (contra o Criciúma). Não vi encaixar individual, mas sim com uma imposição física muito grande. Tem uma organização defensiva muito boa, é o ponto forte (do Tigre).

(O jogo) contra o São José foi uma trocação muito grande. Taticamente não foi legal, mas ofensivamente sim, porque ambos criaram muitas chances, um foi para cima do outro".

4oito: Qual tu dirias que é o ponto forte do Criciúma?

JR: "É um jogo de imposição física e o jogo vertical, da bola longa. O primeiro gol contra nós foi assim, um lançamento, ganhou a segunda bola e o Hygor foi muito feliz na finalização. A vitória no primeiro tempo foi merecida".

4oito: O que tu esperas para o jogo desta sexta-feira?

JR: "Além de difícil, como todos, um jogo de grande competitividade. A organização e imposição física é o ponto forte do Criciúma. Quem for assistir, vai ver um jogo grande, de confronto direto. Jogo estudado e tático, esperamos estar em uma noite feliz e somar os três pontos. Respeitando o Criciúma que é uma grande entidade e uma equipe bem treinada pelo Paulo Baier".

4oito: O Ypiranga bateu na trave nos últimos anos na Série C. Isso atrapalha ou ajuda nesta temporada?

JR: "Atrapalhar, nunca. O clube vem se motivando a cada ano, o Ypiranga sempre foi o 'patinho feio' da chave junto com o São José. Hoje é um dos favoritos a classificar. Todo mundo fala em acesso, mas estou conscientizando os atletas que primeiro temos que classificar à segunda fase, que é o mais difícil. 

A chave é muito competitiva, está tudo muito parecido. O Criciúma estava fora do G-4 até os 30 do segundo tempo, agora está no G-4 e brigando pelas primeiras posições. 

Hoje o Ypiranga é mais respeitado, porque faz boas campanhas, com boas equipes, organizadas e à altura da Série C. Tem bons jogadores e tem-se criado essa expectativa (pelo acesso)".

4oito: Ter esse pelotão de frente a partir do Botafogo pode elevar a pontuação para classificação?

JR: "Tem confrontos diretos, então acho que permanece na média dos 30 pontos, podem me cobrar depois. Nós temos três jogos seguidos, dois principalmente de confronto direto, contra Criciúma e Botafogo. Se der empate trava todo mundo, se um ganhar, desgarra.

Oeste, São José e Paraná evoluíram bastante e vão somar pontos também. Vai ser uma reta final emocionante. Tem-se elevado o nível técnico, tático e físico da competição. Dos últimos dez anos, acho que é a edição mais forte da Série C".

4oito: O que faz o Ypiranga ser considerado o "patinho feito", mas sempre ter boas campanhas na Série C?

Jr: "Nós perdemos cinco atletas no primeiro semestre, mas o clube vinha com o mesmo elenco nos últimos dois anos. O ambiente de trabalho é maravilhoso, pagamento em dia e estrutura que não deixa a desejar em nada para outros times de Série C.

Obviamente tem que melhorar, alguns clubes precisam do acesso para que a estrutura melhore. Para o ano que vem, o time deve mudar muito pouco. Clube com planejamento e organização tende a evoluir mais".

4oito: No ano passado teu time, o Barra, enfrentou o Paulo Baier na segunda divisão do Catarinense. Tem semelhanças entre o time do Próspera e este do Criciúma?

JR: "Independente da rivalidade, torço demais para a carreira do Paulo Baier, é um ser humano íntegro. Ele faz times competitivos e organizados, é o perfil do treinador. Levou alguns atletas que estavam com ele, fez certinho, tem que levar os guerreirinhos".

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