É racismo, mas pode chamar também de violência por violência. O que ocorreu na noite passada em uma loja do Carrefour de Porto Alegre foi digno de revolta. João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, estava no supermercado. Apanhou até a morte de dois brutamontes travestidos de seguranças, com a truculência habitual de gente que não é treinada para o diálogo.
Vamos aos fatos: tudo começou com um desentendimento entre o João Alberto e uma funcionária do supermercado. O João Alberto teria, no auge da confusão, ameaçado agredir a trabalhadora. Errado, claro. Qual o papel do segurança em episódios como esse? Conduzir à parte externa, orientar e tirar do ambiente. Ponto.
Os ignorantes levaram o cidadão até uma parte externa, de acesso à loja. Teria, segundo a versão apurado pela Polícia Militar, errado de novo, ao desferir um soco contra um dos tais seguranças. Daí começou o espancamento. Que levou o João Alberto, negro, à morte. Ele morreu espancado. Qual nível de intolerância e de descontrole justifica isso?
Os acusados de tamanha brutalidade, um elemento de 24 e outro de 30 anos, estão presos. Um deles é policial militar. As imagens são claras: os dois de preto, uniforme de seguranças, soqueando o João Alberto no chão. Rapidamente uma poça de sangue se formou no chão. E curiosos, muitos curiosos, também gente na sua maioria daquele nível, que prefere filmar para "bombar" na sua rede social do que ter um gesto humano de ajudar, de interferir. Outra prova da sordidez desses tempos que vivemos.
O Carrefour emitiu uma nota
O Carrefour informa que adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário.
O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente. Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais.
A PM gaúcha também se manifestou
Imediatamente após ter sido acionada para atendimento de ocorrência em supermercado da Capital, a Brigada Militar foi ao local e prendeu todos os envolvidos, inclusive o PM temporário, cuja conduta fora do horário de trabalho será avaliada com todos os rigores da lei. Cabe destacar ainda que o PM Temporário não estava em serviço policial, uma vez que suas atribuições são restritas, conforme a legislação, à execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento, e, ainda, mediante convênio ou instrumento congênere, guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos. A Brigada Militar, como instituição dedicada à proteção e à segurança de toda a sociedade, reafirma seu compromisso com a defesa dos direitos e garantias fundamentais, e seu total repúdio a quaisquer atos de violência, discriminação e racismo, intoleráveis e incompatíveis com a doutrina, missão e valores que a Instituição pratica e exige de seus profissionais em tempo integral.
E agora? A expectativa é gigante pelos eloquentes discursos das vidas negras que importam, e importam muito. E os que priorizam um celular na mão a acudir uma vítima de espancamento? Uma pilha de perguntas para uma carência brutal de respostas. O Dia da Consciência Negra vem manchado, vem enlutado e carregado dessa hipocrisia reinante.