No borderô, consta que 8.852 torcedores assistiram Criciúma 1 x 0 Londrina na noite desta quinta-feira (14), no Heriberto Hülse. Mas a estreia do Tigre na Série B foi assistida por muito mais gente. "Tinha uns 12 mil no estádio", arriscou o narrador Mário Lima.
A noitada começou cedo, com pré-inauguração do Tigre Sports Bar. Em seguida das 17h já tinha torcedor tomando seu chopp no novíssimo pub da cidade ali, debaixo da arquibancada do Majestoso. E a torcida se esbaldou. Matou as saudades de mais de 5 meses, de exatos 165 dias sem ver futebol na sua casa. E não parou 1 minuto.
"A vibração da nossa torcida envolveu o time e nos fez ganhar o jogo também", definiu, com precisão, o técnico Cláudio Tencati.
Mas não foi um jogo qualquer. Na hora da protocolar e já tão repetitiva cerimônia dos hinos, o torcedor mostrou que estava para o jogo. Expressiva parcela cantou parte do difícil hino de Santa Catarina, desconhecido de boa parte dos catarinenses: "Sagremos num hino, de estrelas e flores... Num canto sublime de glórias e luz...".
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Tão logo a bola rolou, não foi difícil perceber que o setor visitante estava, como era de se esperar, praticamente vazio. Era o clarão no Heriberto Hülse. Quatro torcedores com suas camisas azuis do Londrina e uma faixa faziam sua festa em paz. E, perto deles, um cidadão sentado, logo abaixo do placar, usando a camisa do Joinville. Cabe lembrar que o JEC está "fora de série". Novamente, sem Campeonato Brasileiro no calendário.
No primeiro tempo, o Criciúma partiu para o abafa. Pressionou tanto que, aos 15 minutos, saiu o gol. Lá foi o zagueiro Zé Marcos (que ficaria no banco, jogou graças ao veto físico a Rayan). Ele disparou e abriu espaço para Marquinhos Gabriel, com precisão, balançar a rede paranaense. "O Marquinhos foi meu atleta. Conheço ele. É talentoso", assinalou o técnico do Londrina, o experiente Adilson Batista.
Logo em seguida do gol, aos 16 minutos, o jogo parou. A arbitragem notou que um drone sobrevoava o gramado. "Após esperarmos 2 minutos, o equipamento eletrônico saiu dos arredores do campo e do estádio", anotou o árbitro José Padovani de Andrade na súmula.
O episódio rendeu um desabafo do técnico Cláudio Tencati logo após a partida: "a porcaria do drone e o imbecil do drone, esse imbecil, deixa a gente trabalhar. Era um momento forte e ele atrapalhou". O treinador contou que o mesmo ocorreu "de novo no início do segundo tempo e no treinamento também".
Mas a tecnologia contribuiu positivamente também. A certa altura, a galera sacou dos celulares e, aos milhares, proporcionaram o espetáculo das lanternas acesas. Mais uma de tantas formas para manifestar a felicidade de ver o Criciúma ali, em um lugar à sua altura.
E o VAR entrou em ação logo na volta do Tigre à Série B. Na última passagem tricolor pela Segunda Divisão nacional, em 2019, os árbitros de vídeo ainda não haviam chegado por essas terras. Eram exclusividade da elite e das decisões. E o VAR anulou um gol do Criciúma aos 35 minutos. Anulou com precisão. Em sutil impedimento, Rafael Bilu recebeu de Marquinhos Gabriel e arrancou em velocidade para balançar a rede. Não valeu. O Mário Lima gritou gol, a galera também, mas seguiu 1 a 0.
Veio o intervalo. Sossego no Majestoso? Que nada. Como de praxe, o mascote Tigrão ficou fazendo das suas no gramado. A certa altura, começou a interagir com Bumbeblee. Um dos transformers passeava a caráter pelo campo, até que foi desafiado. Tigrão bateria o pênalti e Bumbeblee tentaria defender. A galera foi à loucura. Muitos celulares em punho focados no campo e... partiu o Tigrão, bateu no canto, gol! O transformer nem saltou para a bola (também pudera, nem que quisesse seria possível...).
Veio o segundo tempo. O Criciúma caiu um pouco de rendimento. O Londrina cresceu e até ameaçou. Mas daí conheceu a força daquele que está sendo chamado de "o segundo mascote" do tricolor: um gambá. A aparição do simpático mamífero marsupial não somente paralisou o jogo, como ganhou enorme repercussão. Ele atravessou o gramado. "Com tanto tempo sem jogo aqui, ele esteve esses meses todos à vontade aqui no estádio", arriscou, no ato, o repórter Rafael Niero, uma das milhares de testemunhas oculares do inusitado episódio.
Ninguém quis pegar o gambá. A fama do odor certamente foi a razão. O árbitro cercou o bichinho batendo palmas na tentativa de afastá-lo. Um que outro jogador também tentou, e quando ele se bandeou para a lateral do campo, um gandula o acompanhou até depois das placas. O jogo abriu passagem para um animalzinho de hábitos noturnos e solitários. Certamente, esse gambá nunca esteve diante de tanta gente: 8,8 mil, segundo o borderô, 12 mil conforme o Mário Lima.
Fim de jogo. Aquela festança. E o árbitro, na solidão da confecção da súmula, não esqueceu do drone, muito menos do gambá. Eles estão lá, na súmula:
Com tanta história para contar em uma partida de estreia, em sua vigésima quinta participação na história da competição, ficou uma certeza: um time, um clube capaz de contar tanto em pouco mais de 90 minutos não pode ficar fora da Série B. Só se for para aparecer na Série A. Para baixo, nunca mais!