Linhares está no norte do Espírito Santo. Aqui chegamos na tarde de ontem. É meio do caminho entre Vitória, a capital capixaba, e o sul da Bahia, do qual estamos a cerca de 150 quilômetros. É uma cidade simpática, organizada, limpa e bastante horizontal. Não há aqui tantos prédios quanto em Criciúma, mas há um progresso no ar que nos faz pensar.
E os números estão aí a indicar. Linhares é hoje a quinta melhor cidade entre as de porte médio do Brasil em desenvolvimento humano e industrial. E isso apontado por levantamento da Revista IstoÉ. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) aponta Linhares como a melhor do Espírito Santo e a cidade 53 do Brasil em desenvolvimento e geração de empregos.
Mas qual o segredo? Atrair empresas. Nas últimas duas décadas vieram para cá a criciumense Brametal, a Wegg, de Jaraguá do Sul, a Marcopolo, de Caxias do Sul, e a próxima é a Librelato, de Orleans, fora outras indústrias. Essas são algumas que o município buscou no sul do Brasil para diversificar a sua economia.
Mas e o que Linhares tem a oferecer? "Logística. Temos porto a 30 quilômetros, estamos com ordem de serviço para um aeroporto com pista de 1,9 mil metros, estamos em um raio de 1,2 mil quilômetros onde se encontra 80% do mercado consumidor do Brasil. A geografia ajuda", explica o prefeito Guerino Zanon (PMDB), que cumpre seu quarto mandato. É bastante popular por aqui.
Foi ele que, há 20 anos, aportou em Criciúma e conversou com o empresário Ricardo Brandão. Na ocasião, o explicou o quanto seria vantajoso ampliar suas operações para esta região visando alcançar os mercados do norte, nordeste e centro-oeste. Claro que há incentivos fiscais. "Mas o incentivo não pode ser o principal, pois ele não é duradouro", lembra.
Outro trunfo de Linhares é ser o primeiro município mais ao sul de todo o torrão componente da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), um organismo federal que oferece amparo para fomento dessa região que parte daqui para todos os estados nordestinos.
E a Brametal? É a nossa razão de estar aqui. Hoje, em ato às 11h na planta industrial de Linhares, a empresa inaugura a ampliação da sua já gigante unidade. São 850 funcionários, que chegarão a 1,2 mil até o fim do ano que vem, que já trabalham com a maior produção da América Latina e a terceira do mundo de torres de energia elétrica. São torres de até 70, 80 metros que ali são testadas e dali saem para distribuir energia elétrica Brasil afora, e demais equipamentos para subestações de energia.
"Para diversificar isso, e não ficar apenas com as torres, entramos em um novo mercado. Estamos fazendo postes monotubulares e suportes para painéis de energia solar", explica Ricardo Brandão, o presidente do Conselho de Administração da Brametal, que tem sua unidade 1 em Criciúma, tem Linhares e está em Sabará, Minas Gerais, onde comprou uma fábrica em dezembro de 2017. "Nossa meta é duplicar a receita da empresa até 2024", almeja Brandão.
O incentivo fiscal é tão decisivo para atração de empresas? "Representaram parte da nossa decisão lá em 1998", conta o empresário. Ocorre que, há vinte anos, ele procurou o governador Esperidião Amin. A meta era fazer em Criciúma o que a Brametal fez em Linhares. Não teve muito respaldo. "O nosso mercado de grandes obras já estava no norte e nordeste, nossa matéria prima ia do Rio de Janeiro para o sul e tinha que retornar. Só o frete, em 1999, representaria uma redução em 10% no custo do produto final. Aí vieram os incentivos e a empresa não teve o que pensar. Viemos para o Espírito Santo".
Somente em Linhares, atualmente a Brametal produz 7,5 mil toneladas de estruturas por mês e, juntamente Criciúma mais Sabará, vai a 11 a 12 mil toneladas mês. "O mercado de torres no Brasil tem hoje de 120 a 140 mil toneladas ano. Teoricamente, a Brametal poderia suprir todo o mercado do Brasil. Hoje respondemos por 70 a 80%", contabiliza.
Mas Brandão, enquanto empreendedor, não está muito otimista com o futuro próximo do Brasil. "O momento político é de falta de lideranças que possibilitem a saída do Brasil dessa crise, pelo menos no curto prazo. Independente de quem venha a ser o presidente, eu sou um pouco pessimista sobre sanar esses problemas tão graves que nos afetaram nos últimos anos, mas no médio prazo eu sou otimista pois o nosso país é gigante e altamente viável", conclui. Abaixo, ouça a nossa entrevista com Ricardo Brandão.
A nossa cobertura está indo ao ar na Rádio Som Maior - hoje pautará edição especial do Jornal das Nove -, e sendo veiculada no jornal A Tribuna, com matérias hoje e amanhã.