O aliados do governador Carlos Moisés (Republicanos) não conseguiram disfarçar que esperavam mais dos números da pesquisa Ipec, antigo Ibope, contratada pela Nsc Comunicação e divulgada na noite de terça-feira. A liderança é importante, mas o percentual de 23% deveria fazer o comitê do governador acender um sinal amarelo sobre a campanha eleitoral que se inicia. Com a máquina na mão, Moisés passou os últimos meses correndo sozinho com uma agenda de obras e distribuição de recursos pelo Estado. A pesquisa aponta, no entanto, que não acumulou gordura para queimar no momento em que deve ser alvo de todos os adversários.
Como exemplo desse tipo de gordura, trago o Estado vizinho. Candidato à reeleição, o ex-governador gaúcho Eduardo Leite (Psdb) lida com problemas comuns ao colega catarinense. O tucano não viveu processos de impeachment ou algum escândalo semelhante à compra dos respiradores fantasmas, mas também se desgastou na política local com a tentativa frustrada de concorrer à presidente da República e é fustigado pelos bolsonaristas por ter feito o combate a pandemia longe, muito longe, do manual do capitão. Enfrenta, também, dois candidatos que lutam pelo apoio (ou silêncio) do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal).
Pois a largada de Eduardo Leite entre os gaúchos, segundo o mesmo Ipec, é de 32%.
Moisés, pelos números do instituto, vê os dois candidatos ligados ao governo Bolsonaro no retrovisor e desconfortavelmente próximos. O empate técnico entre os senadores Jorginho Mello (Partido Liberal) e Esperidião Amin (Progressistas), com 16% e 15%, pode indicar uma disputa voto a voto pela presença de um deles no segundo turno. Mas em um Estado como Santa Catarina, em que Bolsonaro tem 50% das intenções de voto segundo o Ipec, há margem para dois bolsonaristas explícitos na batalha decisiva. Moisés, com 23% e a margem de erro de três pontos percentuais, ficou muito próximo de um empate triplo com os senadores.
Mas não é apenas a presença tão próxima de Jorginho e Amin que deve causar preocupação no comitê governista. Agrupados pelo Ipec em um segundo pelotão, Gean Loureiro (União) e Décio Lima (Pt), por diferentes motivos, apresentam potencial de crescimento na campanha eleitoral que começa verdadeiramente na sexta-feira com o horário eleitoral gratuito. Hoje ambos estão aquém das próprias expectativas ao ostentarem, respetivamente, 8% e 6%.
Gean terá o maior espaço no horário eleitoral, um marketing afiado e muita estrutura de campanha. Por mais que o aliado João Rodrigues (Psd), prefeito de Chapecó, queira puxá-lo para perto do bolsonarismo, é na raia de Moisés, longe dos polarização nacional, que ele tem maior potencial de crescimento. Deve apostar todas as fichas no começo da campanha em rádio e televisão, porque continuar desgarrado do grupo principal na segunda rodada de pesquisas pode ser fulminante para suas pretensões – e dificultar a retenção dos aliados no projeto.
Décio tem Lula. O que isso significa em Santa Catarina? Segundo o Ipec, 25% das intenções de voto neste momento da campanha eleitoral. Como os demais candidatos protagonistas são eleitores de Bolsonaro – ostensivamente ou discretamente -, esse percentual é o voto potencial do candidato petista ao governo. A campanha de Décio desde o primeiro minuto tem sido uma tentativa de colar no eleitor catarinense de Lula. Em 2018, no pior momento do Pt em Santa Catarina, ele teve 12% votos para o governo – quase o mesmo percentual do então candidato a presidente Fernando Haddad (Pt) no Estado, 15%.
Os 6% de Décio merecem uma atenção especial desde agora por causa de uma característica que o Ipec herdou do Ibope. Os questionários não trazem o partido, apenas os nomes dos postulantes. Isso pode subdimensionar a intenção de votos dos candidatos que são menores que as legendas a que pertencem – vale para o Pt, vale também para o Novo, cujo candidato Odair Tramontin apareceu com 2% na primeira rodada do Ipec.
Ou seja, tem muita gente atrás de Moisés com potencial de crescimento e o governador entra no jogo sem gordura para queimar. Vai ser longo um primeiro turno, em apenas 39 dias.