Para quem não tem a Casa d’Agronômica à disposição para recepções e nem a atração que gera a caneta do governador, o Congresso dos Municípios, Associações e Consórcios (Comac-SC), promovido pela Fecam entre terça e quinta, foi um grande momento para os demais candidatos a governador fazerem uma fala direta a prefeitos e gestores municipais. Especialmente na noite de quarta-feira, quando todos os sete principais pré-candidatos foram recebidos para se apresentarem no auditório principal do evento realizado na Arena Hard Rock Live, em São José.
Nesse sentido, os candidatos que mais aproveitaram essa brecha e a presença registrada de mais de 180 prefeitos pelo Congresso da Fecam, foram os candidatos Jorginho Mello (Partido Liberal) e Gean Loureiro (União). Ambos modularam suas falas para o público-alvo, sem esquecer a condição de candidatos – ou seja, fizeram promessas. Jorginho Mello logo na abertura de sua apresentação garantiu que se eleito vai dar continuidade ao Plano 1000. O programa de Moisés prevê R$ 7,6 bilhões em repasses para os municípios até 2026 para obras de infraestrutura. Jorginho foi assertivo e usou bem o tempo, citando outras promessas para a campanha que se inicia, como capacitar 13 hospitais da atual rede que recebe recursos estaduais para que atuem como unidades regionais de referência.
Gean Loureiro, que tem como companheiro de chapa o ex-secretário Eron Giordani, um dos formuladores do plano quando integrou o governo Moisés, não deu nome à promessa. Garantiu a continuidade das obras iniciadas na atual gestão, dizendo que como prefeito de Florianópolis terminou todas as ações iniciadas na gestão anterior. Prometeu, ainda, parceria com os municípios para além do repasse de recursos. O ex-prefeito de Florianópolis falou ainda sobre a necessidade de auxiliar principalmente municípios de pequeno porte, que muitas vezes não têm condições de fazer grandes investimentos.
Décio Lima (Pt) também modulou sua fala para uma plateia municipalista, mas focando – como costuma fazer – na nacionalização do debate e na comparação das ações em Santa Catarina dos governos petistas, especialmente do ex-presidente Lula, candidato mais uma vez ao Planalto, e na crítica ao tratamento dado ao Estado pela gestão de Jair Bolsonaro (Partido Liberal).
Os demais candidatos foram mais genéricos. Esperidião Amin (Progressistas), talvez inspirado pelos temas do Congresso da Fecam, discorreu sobre o municipalismo. Houve quem brincasse que o senador e ex-governador deu uma palestra. Jorge Boeira (Pdt), estreante em disputas majoritárias, confessou seu nervosismo e usou do humor para atrair atenção do público, mas também vestindo um perfil mais de palestrante do que de candidato.
Odair Tramontin (Novo), apresentou-se ao público sem perceber muito com quem falava. As críticas ao ensino e à saúde públicas em uma plateia cheia de gestores municipais das áreas foi mal recebida – houve quem deixasse o local. Também cometeu uma gafe ao dizer que o terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Blumenau em 2020 talvez fosse o sinal de que está reservado a ela “um cargo mais promissor” como governador. Os prefeitos torceram o nariz. Ao abrir sua fala, na sequência, Gean ironizou Amin e Tramontin, os antecessores: “não se preocupem que não vou dar uma aula e nem menosprezar a gestão municipal”.
O governador Carlos Moisés (Republicanos) fechou o evento como um caso à parte. Na véspera, ele havia recebido pelo menos 130 prefeitos e 50 vices participantes do Comac-SC (há quem tenha contado mais) para um jantar em um hotel em São José. Ali estabelecera a fala direta com o público bem definido e suprapartidário que lhe dá suporte político para a reeleição. No palco, fez questão de pedir que prefeitos, vices, vereadores e servidores públicos levantassem as mãos para serem percebidos. Dirigiu-se especialmente aos servidores, dizendo que, na condição de bombeiro militar, sua eleição em 2018 era como se “um deles” tivesse sido alçado à cadeira de governador. Deu uma estocada, sem dizer nomes, em Gean Loureiro – apoiado pelo Psd do deputado estadual e ex-presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia.
– A turma do contra, que tentou me derrubar duas vezes, quer botar outro no meu lugar, como propaganda de margarina.
O espaço oferecido pelo Congresso da Fecam aos candidatos ao governador, embora sem estabelecer um debate direto entre os candidatos, ajudou a mostrar como se configura este primeiro momento da campanha. O confronto está estabelecido entre Moisés, Jorginho e Gean. Atentos e esperando que o trio saia chamuscado da troca de caneladas, Amin, Boeira e Tramontin apresentam-se como opções. Enquanto isso, Décio faz uma campanha à parte para fidelizar a esquerda catarinense.