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Uma justa homenagem a quem criou raízes em Criciúma

David Coimbra, um dos maiores jornalistas do Sul do país, tem sua memória eternizada em uma rua que leva o seu nome na cidade 

Geórgia Gava e Stefanie Machado Edição 26/08/2022
David Coimbra, um dos jornalistas mais importantes do Sul do Brasil/ Foto: Arquivo 4oito
David Coimbra, um dos jornalistas mais importantes do Sul do Brasil/ Foto: Arquivo 4oito

A vista de Criciúma nunca mais será a mesma. “Conseguimos perenizar a presença de David Coimbra em um ponto elevado da cidade”, descreve Nei Manique, amigo e um dos idealizadores da homenagem que eterniza o nome do jornalista em uma rua da Capital do Carvão - onde cultivou raízes durante muitos anos. 

A lei que cria a Rua Jornalista David Coimbra, no bairro Operária Nova, foi publicada no Diário Oficial desta quinta-feira (25) e, o local escolhido, não foi à toa. “É como se ele estivesse olhando para Criciúma”, completa Manique. 

É na vista proporcionada pela Avenida Luiz Lazzarin, à esquerda, em um dos pontos mais altos de Criciúma, onde a Rua Jornalista David Coimbra ficará localizada. A mobilização dos amigos próximos do profissional foi para que, de alguma forma, ele ficasse materializado na história da cidade. E assim foi. Por unanimidade, a Câmara de Vereadores aprovou a lei e, tão logo, ela foi sancionada pelo prefeito Clésio Salvaro.

Agora, o gaúcho, que por anos fez morada em Santa Catarina, tem uma rua com o seu nome. “Esta homenagem que a gente escolheu fazer, busca eternizar a presença dele e o seu amor por Criciúma. É algo que nós entendemos como um ato de sinceridade e singeleza. Não é uma rua muito importante, mas fica na parte alta do Operária Nova, onde se tem uma visão muito bonita da cidade”, detalha Nei. 

Esta homenagem que a gente escolheu fazer, busca eternizar a presença dele e o seu amor por Criciúma", Nei Manique, amigo de David Coimbra. 

“A gente ainda não digeriu, essa é a verdade”

Por quase uma década, Coimbra lutava contra um tumor em estágio avançado no rim. Mais tarde, o profissional descobriu que o câncer havia se espalhado para outras partes do corpo. Ainda, foi em busca de novos tratamentos nos Estados Unidos durante a batalha contra a doença. Ele morreu em 27 de maio de 2022, aos 60 anos. 

O jornalista gaúcho deixou a esposa, Márcia Camara, com quem tem um filho, Bernardo. Em seu último trabalho, fazia parte do quadro de colunistas da GZH e Zero Hora, de Porto Alegre. 

David Coimbra, a esposa, Márcia Camara e o filho do casal, Bernardo/ Foto: Arquivo Pessoal

A iniciativa da homenagem veio das pessoas próximas ao jornalista. “Eu procurei o prefeito, em nome dos colegas dele. Expressei a nossa dificuldade de conviver com a ausência de um amigo tão querido. Um baita profissional. Ainda não digerimos, essa é a verdade. A gente gostaria muito que ele tivesse a sua história de vida e a sua relação com Criciúma eternizadas”, acrescenta Manique. 

Eu procurei o prefeito, em nome dos colegas dele. Expressei a nossa dificuldade de conviver com a ausência de um amigo tão querido", desabafa Nei Manique, amigo de David Coimbra.

Coimbra não poupava elogios a Criciúma - cidade onde alavancou sua carreira dentro do jornalismo. Os amigos próximos garantem que ele sonhava em voltar a morar na Capital do Carvão. “Essa homenagem é pelas inúmeras oportunidades em que ele falou do município, da paixão por aqui, do time e das pessoas, sempre de maneira muito positiva”, enfatiza Nei. 

Chopes cremosos e um encontro entre amigos, das coisas que David Coimbra tanto gostava/ Foto: Arquivo Pessoal

Ricardo Fabris, jornalista e vice-prefeito de Criciúma, também participou ativamente da vida de Coimbra, como amigo e colega de profissão. “A homenagem é justa, porque o David é gaúcho, porto-alegrense, mas criou no coração dele um amor muito forte pelo município. É difícil as pessoas criarem raízes onde não é a sua cidade natal. Ele conseguiu isso”, frisa. 

A homenagem é justa, porque o David é gaúcho, porto-alegrense, mas criou no coração dele um amor muito forte pelo município", frisa Ricardo Fabris, amigo do jornalista. 

Acima de tudo, uma grande pessoa 

Leal, amigo e irmão. Assim, Adelor Lessa, jornalista, define David Coimbra. Os dois foram parceiros de longa data, por mais de 30 anos. Dividiram histórias, trabalhos, projetos, amizades e vínculos familiares.

“A gente se fez amigo rápido, pela proximidade, pelo jeito de ser. Era um amigo meu e da minha família. Viu nascer os meus filhos, que o chamavam de tio quando eram pequenos”, relembra. “Ele era uma pessoa maravilhosa, leal, verdadeiro e com um coração imenso. Brigava pelos seus. Não se encontra outro David Coimbra por aí. Não existe outro”, acrescenta. 

Ele era uma pessoa maravilhosa, leal, verdadeiro e com um coração imenso. Brigava pelos seus. Não se encontra outro David Coimbra por aí. Não existe outro", lembra Adelor Lessa, amigo do jornalista gaúcho. 

Entre os amigos, um fato sobre David Coimbra é unânime: devorador de livros. “Ele era um grande jornalista. Mais do que isso, um intelectual, um grande escritor e cronista. Antes de ser jornalista, sempre gostou de ler. Isso, com certeza, contribuiu para o seu estilo e atividade profissional”, enfatiza Lessa. 

Adelor Lessa e David Coimbra, respectivamente. Amigos para uma vida toda/ Foto: Arquivo Pessoal

[o texto continua após o áudio]

Em 2019, Coimbra relembrou momentos importantes de sua trajetória, em especial, no Sul Catarinense, durante o Programa Adelor Lessa. Abaixo, confira a entrevista na íntegra:

Por anos, a jornalista Nadia Couto morou junto a Coimbra e Ulisses Job em Criciúma. Os três profissionais dividiam um apartamento. A proximidade garantiu boas histórias para recordar. "O David era um jornalista muito talentoso, talento forjado no amor à literatura – ele era um leitor voraz desde muito jovem. Por isso também escrevia tão bem, o que lhe rendeu vários prêmios de literatura e de jornalismo”, lembra. 

O David era um jornalista muito talentoso, talento forjado no amor à literatura – ele era um leitor voraz desde muito jovem", evidencia Nadia Couto, amiga de Coimbra. 

Na Capital do Carvão, o profissional atuou em diversos veículos de comunicação. “Ele contribuiu muito com o jornalismo local, regional e estadual, e também levou o nome de Criciúma para fora, pois escreveu muitas crônicas falando da cidade. Essa homenagem é tão importante. O David amava o município, onde tinha alguns amigos-irmãos, com quem nunca perdeu o contato", pontua Nadia. 

Um profissional excepcional

Além de uma pessoa inigualável e um grande amigo, David Coimbra também se tornou um dos jornalistas mais admirados do Sul do país. E o profissional começou sua carreira justamente aqui, em terras criciumenses, onde passou por veículos como Jornal da Manhã e Rádio Eldorado. 

O jornalista gaúcho expandiu a sua carreira em Criciúma/ Foto: Arquivo Pessoal 

Fabris teve a oportunidade de conhecer o jornalista em meio à cobertura dos jogos do Criciúma. “Ele trabalhava no Diário Catarinense e eu no Jornal Estadão, nós cobríamos o esporte. Íamos para o campo à pé, ali do Centro ao antigo Fórum. E aí, conseguimos conversar, criamos uma relação de amizade e começamos a sair juntos. Foi assim que a gente criou um vínculo”, relembra. 

Profissionais do Jornal da Manhã. Com o copo erguido, está David Coimbra e, ao lado, Adelor com Arthur Lessa no colo/ Foto: Arquivo Pessoal

Um dos amigos mais longevos de David Coimbra foi Ulisses Job, fotojornalista de Porto Alegre. Os dois se conheceram quando tinham 12 anos, na capital do Rio Grande do Sul. Parceiros de peladas, boas conversas, festas e, mais tarde, de trabalho, os profissionais criaram um forte vínculo, especialmente, quando moraram juntos em Criciúma. 

À esquerda da foto, David Coimbra e, ao seu lado, o fotojornalista Ulisses Job/ Foto: Arquivo Pessoal

“Eu conheci o David e mais sete amigos, mas ele era o mais próximo. Em Porto Alegre, frequentavámos a casa dele, conhecemos a mãe, dona Diva, e o restante da família. Íamos juntos para os bares e, nesses locais, ele sempre levava caneta, papel e quando não tinha papel, ele escrevia no guardanapo algumas coisas que vinham à mente”, conta Job. 

Dos papos e tragos de David Coimbra com os amigos/ Foto: Arquivo Pessoal

Um exímio escritor e amante da literatura - como já descrito -, Coimbra foi exemplo para muita gente. “Nós jogavámos muito futebol na época em que nos conhecemos, porque alguns não trabalhavam ainda. Eu era um. Jogava o dia inteiro. E o David também. Às vezes, ele dizia que não iria porque tinha que ler alguns livros. Era um cara aficionado por ler e sabia falar muito bem”, lembra o fotojornalista. 

Era um cara aficionado por ler e sabia falar muito bem", Ulisses Job, amigo de David Coimbra. 

Ulisses Job veio para Capital do Carvão a convite de David Coimbra. Desanimado com o trabalho que exercia em Porto Alegre, não pensou duas vezes. “Vim para Criciúma, comecei a vender assinaturas do Diário Catarinense, daí eu conheci o Ezequiel de Passos, fotógrafo. Foi onde começou a minha carreira”, conta. 

Reunião entre amigos de David Coimbra e, entre eles, jornalistas de Criciúma/ Foto: Arquivo Pessoal

À época, Job morava com Coimbra e Nadia, no Edifício Visconde de Ouro Preto, nº 1001. “Mil e uma histórias aconteceram nesta trajetória com o David. Os dois me incentivaram a fazer uma faculdade e, aí, surgiu a Satc. Sou da primeira turma, mas me formei na segunda. Moramos juntos cerca de três anos”, enfatiza, saudoso, o amigo-irmão. 

Mil e uma histórias aconteceram nesta trajetória com o David", Ulisses Job, amigo de Coimbra. 

Agora, com a homenagem - mais do que justa -, David Coimbra jamais será esquecido no município que tanto lhe acolheu. “Sempre que nós quisermos lembrar dele, de uma maneira física, nós certamente estaremos olhando para o alto também. Para onde escolhemos o local que possa simbolizar a sua paixão pela cidade”, finaliza Nei Manique. 

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