Durante os primeiros dias de fevereiro uma pálida notícia dava conta de que um vírus estava matando no interior da China. E nós dissemos: e daí?
E daí que, alguns dias passados, a notícia tomou outro tom: esse vírus que está matando na China poderá ser exportado para outras partes do mundo. E nós dissemos: isto é lá para os asiáticos.
Antes de terminar o mês, a Itália botava a boca no trombone para reclamar o número crescente de pessoas que morria, diariamente. E nós dissemos: isso é lá com os italianos; há um oceano de 10 mil quilômetros a nos separar.
E o mês chegava ao fim com a notícia de que, no Brasil, em São Paulo, aquele vírus mal vindo, fazia a primeira vítima brasileira. E nós dissemos: Opa, a coisa está ficando danada!
E a mídia dava a enfadonha notícia: essa praga vai matar muita gente e estará em nosso meio até o mês de abril, com certeza. E nós duvidamos.
E o ministro da Saúde nos mandou ficar em casa, mandamento este repicado pelo nosso governador e pelo nosso prefeito: e, já no dia seguinte, as vias públicas esvaziaram. O medo generalizou e começamos a ver, muito amiúde, pessoas transitando usando uma máscara. Mas poucos dávamos fé de que aquela pandemia pudesse durar até meados de abril.
E o que será do comércio?
E o que será da indústria?
E o que será do taxista? E do restaurante? E da Livraria? E do barbeiro? E do feirante? E da padaria? E da escola? E de tudo?
Pois o comércio fechou, a indústria parou, o taxista foi pra casa, o restaurante fechou e tudo parou. E daí concluímos: se tudo parou, o empregado será despedido. E o empregado foi despedido, pois não havia trabalho para o empregado trabalhar.
E os brasileiros começamos a nos acostumar com a paralisia geral e a nos perguntar: e agora? Como retomar as atividades? Há casos e casos de comerciantes que já fecharam seus negócios, de indústrias que estão parando, de inadimplências se sucedendo.
E aí voltamos a ouvir: terminará ao final de abril, os ônibus voltarão a rodar, as escolas a receber seus alunos, os restaurantes alimentando seus comensais costumeiros, a turma se reunindo na praça, enfim, ao final de abril tudo voltará à normalidade. Até os governantes nos emprenhavam os ouvidos com a fixação de datas para o retorno às atividades.
E o governante foi se autodesmentido e adiando a abertura - Deus sabe pra quando - abril foi embora, já estamos entrando na segunda dezena de maio e as perspectivas continuam sombrias.
A desinformação foi o ponto alto dessa quarentena que deixou de ser quarentena e se transforma em semestrena e ninguém sabe quando vai parar.
O desencontro de ordens e informações até se justifica: por mais que qualquer país quisesse resolver o problema a verdade é que nenhum deles, nem ninguém, estava – ou está – preparado para enfrentar uma pandemia desse tamanho.
A contabilidade do estrago é tão imensurável que somente o tempo dirá qual terá sido o tamanho do prejuízo.
E a infodemia que atormenta a cada um de nós, diuturnamente, eivada de informações de médicos e médicos, de cientistas e cientistas, de políticos e políticos, de curiosos e curiosos parece que já está mais robusta do que a própria pandemia causadora desse caos, não imaginável até o fechamento do ano da graça de 2019.
Dio Madonna, se pelo menos soubéssemos até quando!
E que todos comecemos o dia como queremos termina-lo! Bom dia!