Os quatro compositores que fazem parte do momento cultural que floresceu no Rio de Janeiro no final da década de 50 e se espalhou pelo Brasil, entrou nos EUA com o Concerto do Carnegie Hall em 62 e ganhou o mundo, se juntaram para celebrar 60 anos com o show Os Bossa Nova.
Nascida como a música típica da Zona Sul do Rio de janeiro, porque era aqui que se encontravam os jovens pretensos compositores – vindos de várias partes do Brasil – que bem antes de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto entrarem em cena, se encontravam para trocar ideias musicais nos bares, residências e praias da Zona Sul carioca buscando uma música que os representasse. Frequentes ouvintes do jazz americano, bolero mexicano, música francesa e dos impressionistas e das influências regionais de cada um, tirariam daí toda sua influência melódica e harmônica e buscariam na letra coloquial retratar seu cotidiano de amor, de praia, do Rio e da alegria de uma juventude que crescia numa época áurea do Brasil, na década de 50. Eram os trovadores modernos. Aqueles que falavam no ouvido da mulher, ao contrário da música popular brasileira da época que falava do sofrimento, da dor de cotovelo, dos porres no bar e de todo um cotidiano que não fazia parte daquela juventude.
João Gilberto, que timidamente os ia escutar no Bar do Plaza, acabou por frequentar essa turma e a sintetizar um jeito de tocar o samba sofisticado que todos eles procuravam. E aquela maneira sincopada de tocar, unida àquela voz suave, acabou por dar a forma final de um dos estilos musicais da Bossa Nova. O samba bossa nova.
E em uma de suas primeiras apresentações, Carlos Lyra, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça, no Clube Hebraica, foram batizados de Os Bossa Nova porque o diretor cultural do Clube não sabia como os chamar. Eles gostaram do termo e começaram a intitular de Bossa Nova aquilo que faziam.
De lá pra cá, muitas lendas foram criadas, a Bossa Nova ganhou vários pais e nenhuma mãe, mas indiscutivelmente se fez ouvir no mundo e só assim se firmou no contexto nacional.
Desses quatro, Carlos Lyra – carioca de Copacabana – que frequentava o Bar do Plaza onde se encontrava com João Donato – acreano que vinha da Tijuca, para ouvir Johny Alf – carioca de Vila Isabel – tocar àquelas harmonias sofisticadas que o colocaram como um precursor daquela música que ainda estava em formação. Carlos e Donato se juntavam a outros na calçada em frente ao Plaza, brincando de fazer arranjos vocais. Na mesma Copacabana, morava o capixaba Roberto Menescal, que frequentava o mesmo colégio de Lyra e que conta ele – quando soube que este já tinha uma música gravada – se aproximou para conhece-lo. Dalí por diante, começaram a tocar juntos e Menescal estimulado por Carlos começava a fazer solos inspirados em seu ídolo da época, Barney Kessel e nunca mais voltou à Escola. E foi nessa Copacabana, aonde também morava o então menino carioca Marcos Valle, com pais paraenses e descendente de alemães, que essa juventude – de origens distintas – se encontrou e junta criou uma música que por mais que o tempo passe, sempre será moderna e seguirá encantando o mundo, com suas diversificadas influências.
Além de alguns de seus clássicos, eles mostram um vasto e novo repertório de parcerias entre eles e de músicas instrumentais que provam que a Bossa Nova é muito mais que um samba sofisticado. É uma música com toda a cor desse Brasil imenso, com vários sotaques e diferentes personalidades e unida pela criteriosa e sofisticada melodia, harmonia e interpretação.