“Nada mais faz sentido” – o verso mais repetido na faixa de abertura de Romã dita muito do clima que Sofia Freire canta nas nove músicas desde seu segundo disco. Fruto de parcerias da artista pernambucana com diversas poetisas tendo o universo feminino como tema, a jovem cantora e produtora criou uma obra contemporânea em som e em tema – não só pela mulher estar em pauta hoje em dia, mas porque há uma grande universalidade em suas letras no que diz respeito a sensações, pensamentos e até mesmo desesperos independente de gênero, idade ou geografia.
Explorando mais da ambientação Eletrônica introduzida em Garimpo, Sofia canta: “Respira fundo, as conversas estão rasas” e que “quanto mais eu falo, mais eu fico muda. Quanto mais eu ouço, mais eu fico surda” – tudo isso em Van Gogh, a melhor do disco, com o refrão: “Fosse eu Van Gogh/ria de uma orelha a outra/enquanto cortava a língua dessa gente louca”. Em um tempo de notificações insistentes de informações que você não pediu para receber, poucas músicas são tão precisas em sua liberdade poética na descrição do que é se comunicar hoje.
Se os assuntos fluem dentro de um mesmo universo, a estética das letras varia bastante de uma a outra, tanto pela métrica quanto pela escolha de palavras (a diferença na sequência Meu Bordado e Canção da Bruxa é a melhor ilustração desse argumento). Cabe ao som dar unidade ao todo, o que é feito com grande riqueza tanto na qualidade da produção (co-assinada por Sofia), quanto na variedade de ambientações, das mais mínimas e experimentais às mais volumosas e Pop (sendo Confronto o maior exemplo dessa última classificação).
Dessa forma, Sofia Freire monta um interessante panorama de seu processo de crescimento como mulher adulta (Garimpo começou a ser feito quando ela tinha apenas 15 anos, enquanto Romã sai antes de seu 21º aniversário), sendo ela – ou seu eu-lírico – uma figura de grande identificação por quem observa a vida com uma postura crítica através do olhar da sensibilidade.
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