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A preocupação em relação à aparente normalidade

Pneumologista Renato Matos questiona mudança de decreto dois dias após governador criticar maior flexibilização

Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 22/04/2020 - 13:06 Atualizado em 22/04/2020 - 13:06
Foto: Arquivo / 4oito
Foto: Arquivo / 4oito

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É recebida com cautela pelo pneumologista Renato Matos a nova flexibilização estadual do isolamento social. Nesta quarta-feira, 22, shoppings, galerias, centros comerciais, academias, bares e restaurantes estão aptos na recepção de clientes. No sábado, o governador Carlos Moisés (PSL) havia decidido de que não haveria a reabertura desses segmentos e, dois dias depois, determinou o contrário.

"Essa decisão foi tomada não em cima de dados técnicos diretamente. Ouvimos no sábado o governador colocando que os modelos escolhidos para orientação de que não haveria espaço para uma abertura adicional. Dois dias depois, sem que tenhamos um número diferente, houve uma abertura mais intensa. Certamente não foi uma decisão técnica. O ministro da Saúde não tem se manifestado porque ele está esperando números", alerta Renato.

Para o pneumologista, a reabertura pode passar a mensagem equivocada para a população de que o vírus não é mais um perigo para a saúde pública. No último boletim divulgado pela secretaria estadual de Saúde, Santa Catarina tinha registrado mais de 1 mil casos e 37 óbitos por Covid-19. Nesta quarta-feira, Arroio do Silva e Cocal do Sul registraram o primeiro óbito da doença nos municípios. 

"O que preocupa, mais do que qualquer outra coisa, é que essa abertura passe para a população a ideia de que o problema já terminou, a vida voltou ao normal. Essas medidas de afastamento social têm que ser feitas. Acho muito difícil em um bar a pessoa ficar com máscara ou a dois metros de outra pessoa. É uma situação muito complicada. Com a vida normal as pessoas vão voltar a viajar a São Paulo a negócios, pode trazer mais vírus pra cá", aponta o médico.

Outra ressalva feita por Renato é sobre as linhas de crédito que o governo estadual e federal ainda derrapam, sem que o dinheiro chegue para a população que mais precisa. 

"Ficamos contentes por um lado, porque a sociedade estava solicitando isso, sem muitos dados. Por outro lado o governo se exime de responsabilidades, 'o comércio está aberto, a situação está normal, não precisa mais auxílio econômico'. Precisa sim, essas medidas, que sim salvam vidas imediatamente, estão demorando a chegar à população que realmente precisa. Não vou abrir o consultório, não me sinto seguro. É bom que as pessoas mantenham cuidado, observem ao máximo as medidas. Ainda não é uma situação tranquila. Não é só questão de higienização, o vírus está dentro do pulmão das pessoas, 40% transmitem a doença antes de serem sintomáticas", pondera.

Para concluir, o pneumologista lamentou os movimentos que tentam descredibilizar o combate à Covid-19 e, em cima de fatos inverídicos, minimizam os impactos que o coronavírus traz à saúde pública. No domingo houve manifestações em todo o Brasil pedindo a quebra da quarentena, com apoio do presidente Jair Bolsonaro, inclusive com pedidos para fechamento do congresso nacional e a volta do AI-5, decreto autoritário da época da ditadura militar.

"Tem me incomodado muito nessa fase a mistura de ciência com política. Pessoas que não têm o mínimo conhecimento técnico e em função de convicções políticas, fazem as afirmações mais absurdas possíveis. Quando houve a polarização política na época da saída do PT, nunca imaginei que a coisa ia chegar a esse nível. Que uma ideologia política levaria as pessoas a fazerem tantas coisas sem pé nem cabeça. As coisas ficam muito claras: o perigo dessa polarização que estamos vivendo. A saúde pública correndo um perigo imenso em função disso, na hora em que todos deveríamos lutar no mesmo sentido, no caminho que a ciência coloca, mas em funções de crenças políticas as pessoas estão trabalhando em sentido contrário", finalizou Renato. 

Tags: coronavírus

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