Em dezembro, é comum encontrar belas decorações natalinas em fachadas de lojas, praças de cidades, no ambiente de trabalho e nas próprias residências. A época de Natal desperta um espírito criativo em algumas pessoas. Em Forquilhinha, a casa de Célia Kulkamp virou atração há quatro anos. A caminhoneira, de 65 anos, tem orgulho em montar um grande presépio e abrir as portas da residência para os moradores visitarem.
Célia conta que a paixão de montar a maquete, que representa o nascimento de Jesus, veio de família. “O Natal, para nós, sempre foi muito sagrado. Eu sou de uma família de dez filhos, cinco homens e cinco mulheres e, quando nós éramos pequenos, só tinha a Sagrada Família e um pinheirinho”, conta. “Eu pensava ‘por que a mãe não faz alguma coisa decorada?’ E eu me cobrava daquilo. Hoje, eu faço todo ano uma coisa diferente”, comenta.
No decorrer dos anos, a decoração na casa da família foi aumentando. Célia comenta que os pais compraram um presépio grande, com peças bem trabalhadas que brilharam seus olhos na infância. Para ela e os irmãos, a maior felicidade era receber os presentes – que ganhavam apenas uma vez ao ano –, do Papai Noel. As suas melhores lembranças do Natal são essas. “Para nós era uma ilusão. Mas aquela ilusão que deixou essa lembrança tão boa”, ressalta.
“No dia 24, não chegava a noite para ganharmos um presentinho, que era o único presente que a gente ganhava. Depois a gente ia pra Missa do Galo, que começava à meia-noite. Meia-noite a missa começava, gente! Ali eu queria morrer! A gente dormia na igreja”, brincou Célia.
Decoração é feita com materiais reaproveitados
O presépio é aberto para visitação há quatro anos, mas os trabalhos de Célia começaram muito antes. Oito anos atrás ela resolveu tirar seu amor pela decoração natalina da cabeça e executá-lo na prática. Para a caminhoneira, o mais marcante da sua decoração é o fato de ela ser toda feita com materiais recicláveis: madeira, pedra, pinha, cano de PVC, até um cone que virou um pinheirinho e muito mais. Além de mais de três mil lâmpadas iluminando o cômodo.
“A gente tem que usar a criatividade para aproveitar materiais. Por isso, se torna um presépio natural. Já me disseram ‘Célia tu deveria cobrar, porque tu passa trabalho, tu gasta’, eu disse que não, eu tenho alegria que as pessoas vêm ver o meu trabalho. Porque é muito fácil fazer coisa bonita de coisa bonita, mas, fazer coisa bonita de aproveitamento, não é fácil”, ressalta.
Para todo esse processo, ela recebe muita ajuda. A filha, os netos e funcionários também têm seus papéis na montagem do presépio. “Há uns três anos atrás eu fazia sozinha, mas, agora, a minha filha e minha neta também me ajudam. Meus outros netos fazem a parte da madeira e depois peço pros funcionários lavarem tudo. Eu pego a caminhonete cheinha de barba de velho, boto tudo aqui na sala e espalho por tudo”, detalha a forquilhinhense.
Depois de toda a “bagunça” espalhada pela sala, começa o trabalho. Como Célia é caminhoneira e trabalha durante a semana, ela usa as horas vagas para focar no projeto. O processo é feito de cima para baixo, ela inicia pelo mezanino, que é o mais trabalhoso e vai descendo. Além do trabalho “braçal”, pensar em algo diferente para todos os anos também é difícil. A mulher faz questão de não repetir o mesmo presépio.
Crianças se divertem e aproveitam o espaço
A ideia de receber admiradores dentro de casa surgiu através de novenas da igreja. Os encontros aconteciam em diferentes casas do bairro e o encerramento era feito na casa de Célia. Até o Papai Noel marca presença no último dia, fazendo as crianças irem pra lá empolgadas. A última visita foi da neta de 11 anos e seus colegas da escola.
“Veio a sala todinha com três professores, quando eu liberei pra eles subirem lá em cima para olhar de cima para baixo, pensa na alegria das crianças! Era foto pra tudo quanto é lado”, conta Célia. “Enquanto que eu tiver saúde e estiver andando eu vou continuar trabalhando e fazendo o presépio também”, conclui.