Quatro envolvidos na morte do delegado aposentado da Polícia Civil, José Tadeu Vargas dos Santos, de 66 anos, foram identificados e capturados. A informação foi confirmada na manhã deste domingo (8), durante uma entrevista coletiva promovida pelo órgão de segurança. O policial foi morto durante um assalto a um bar no bairro Capão Bonito, em Criciúma, na noite da última sexta-feira (6).
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Prisões e apreensão de veículo
"Nós conseguimos identificar e capturar quatro pessoas envolvidas, dessas, duas foram autuadas em flagrante pelo crime de latrocínio, ou seja, estavam presentes no local, participaram ativamente, executaram o crime e a investigação apontou a participação delas neste episódio. Os outros dois estavam auxiliando [os bandidos] a se esconderem e a realizarem a fuga", detalha Yuri Miqueluzzi, delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC).
O veículo utilizado no crime também foi apreendido e deve auxiliar na investigação. "A equipe da Polícia Civil trabalhou de forma incansável, apesar dos resultados começarem a aparecer no início e fim da tarde, é um trabalho que foi sendo acumulado para chegar nesta resolução", comenta Miqueluzzi, durante a entrevista coletiva, acrescentando que as diligências continuam.
Como o crime teria acontecido
O delegado afirma que há outras pessoas envolvidas no crime. "De forma resumida, os autores estavam em um veículo branco e chegaram ao local dos fatos, em uma área mais isolada de Criciúma. A intenção era realizar o roubo a um bar. Do carro, três pessoas desembarcaram com balaclavas, cada uma com uma arma de fogo", explica.
Algumas pessoas estavam no bar na hora do crime, entre elas, o proprietário do estabelecimento e Vargas. "Quando ele percebeu a ação dos bandidos, tentou impedir a consumação do roubo. Estava armado, sacou sua arma para tentar impedir, houve troca de tiros, ele fez disparos e os autores também. O delegado foi atingido na região abdominal e removido rapidamente ao hospital", conta Miqueluzzi.
Tão logo perceberam a situação, os três criminosos voltaram ao veículo e, aparentemente, um deles não conseguiu retornar. "Os outros dois embarcaram e foram embora. Um dos autores se embrenhou no mato e, muito provavelmente, foi quem realizou o disparo no delegado Vargas. Esse mesmo subtraiu a arma de fogo dele. As buscas foram realizadas na mata, mas, pela dificuldade, não foi possível localizar", enfatiza o policial.
Posteriormente, pela manhã, o órgão de segurança recebeu a informação de que uma pessoa teria saído da mata em uma área mais distante. "A partir daí, a polícia conseguiu identificar quem seria, foram feitas diligências nos endereços e conseguimos localizar. Depois desse vínculo, localizamos o segundo autor, que estava na companhia de duas pessoas que auxiliavam ele", ressalta Miqueluzzi.
Perfil dos autores do crime
As apurações seguem em cima dos demais envolvidos que ainda não foram capturados. "Os dois [autores que foram presos] já são amigos há algum tempo, trabalham na mesma atividade. Um deles tem histórico de tráfico de drogas e crimes patrimoniais e, o outro, não tinha, mas já monitorávamos a participação dele em ações criminosas recentes em Criciúma", afirma o delegado.
O primeiro envolvido identificado, com passagens pela polícia, é natural do Paraná e tem 31 anos. O segundo é criciumense e tem 25. "As informações preliminares, não é uma conclusão definitiva da investigação, mas, aparentemente, pelos indícios que foram coletados, o rapaz de Criciúma participou, mas quem realizou os disparos foi o outro, que já tem esse histórico criminal", pontua Miqueluzzi.
Os demais criminosos envolvidos, que não participaram da ação diretamente, mas ajudaram na fuga, também devem ser punidos. "Existe um tipo de pena que se chama favorecimento pessoal, não é um crime com uma condenação muito alta, mas serão, acredito eu, responsabilizados criminalmente por este fato", ressalta o delegado responsável.
Dinâmica dos fatos
Conforme a investigação, os três criminosos dispararam contra Vargas, ao perceberem sua ação no momento do assalto. "Diante da intervenção do delegado, de forma heroica, já que eles estavam armados e, mesmo assim, ele não subjugou, atuou de forma proativa, uma pessoa com sangue de polícia, naquele momento, no ímpeto, ele fez a defesa das pessoas que estavam lá", observa Miqueluzzi.
O delegado responsável pelo caso ainda afirma que diversos disparos foram efetuados. "Então, não foi um tiro de susto, foi algo realmente direcionado à vítima, para acertar, e que eles pudessem obter sucesso. Foi um disparo direcionado à vítima", analisa. "É uma situação bastante triste para a família Polícia Civil. Nós perdemos um amigo e um colega de profissão", acrescenta.
"É um ano que inicia nos chamando atenção"
As ocorrências registradas em Criciúma nos últimos dias chamam a atenção dos órgãos de segurança, mas, também, da sociedade. "Realmente, é atípico. Nós vínhamos de períodos com índices de criminalidade baixos, principalmente, de crimes violentos. É um ano que inicia nos chamando atenção. Dentro das nossas possibilidades, estamos fazendo diligências na tentativa de apontar as autorias", comenta o delegado regional da Polícia Civil, Vitor Bianco Júnior.
Para o delegado Yuri Miqueluzzi, existe aumento natural em virtude do período do ano. "O nosso estado acaba recebendo uma grande população nesta época, principalmente, na faixa litorânea. A criminalidade também migra para cá e o efetivo não sofre incremento, apesar da população aumentar. Então, existe uma tendência", enfatiza. "A gente está trabalhando para tentar diminuir isso, encontrar os autores e dar uma resposta para a sociedade", completa.
Mobilização entre os órgãos de segurança
Os dois delegados agradeceram a mobilização dos agentes que se colocaram à disposição. "A Polícia Civil demonstrou uma grande união desde sexta-feira à noite, incansáveis diligências, ontem [sábado], durante todo o dia, foi possível apontar alguns envolvidos, então, o nosso sentimento é de agradecimento. Eu, particularmente, perco um grande amigo, que nos deixa de forma tão trágica", lamenta Bianco.
"Nós tivemos uma grande mobilização da Polícia Civil neste episódio lamentável. Os policiais se prontificaram, de forma voluntária e espontânea, a virem até Criciúma, porque era um irmão nosso que foi tirada a vida. A gente sabe que é necessário estar presente, fazer corpo e trabalhar de forma ininterrupta para conseguir chegar pelo menos inicialmente em alguns dos autores", complementa Miqueluzzi.