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Livro marca os 120 anos de nascimento de Antonieta de Barros

Jeruse Romão retrata, nas 312 páginas da obra, com anexo e cronologia, e 53 imagens, todos os espaços pelos quais Antonieta circulou até a sua morte

Por Redação Florianópolis - SC, 25/07/2021 - 21:15
Foto: Divulgação
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Quando se comemoram os 120 anos de nascimento da ex-deputada estadual Antonieta de Barros, a primeira parlamentar mulher de Santa Catarina e a primeira deputada negra eleita no Brasil, assim como os 84 anos do livro “Farrapos de Ideias”, uma coletânea de artigos publicados no Jornal República, foi lançada a primeira biografia “Antonieta de Barros: professora, escritora, jornalista, primeira deputada catarinense e negra do Brasil”, da professora Jeruse Romão.

“É uma obra presente, atual, com manifestação de ex-alunos, que traz a história de quem já foi lembrado em documentários, trabalhos acadêmicos, que é nome de ruas, de medalhas, de túnel e escolas, mas precisava deste movimento, uma materialidade, um documento escrito para as futuras gerações de quem foi Antonieta de Barros.”professora e autora do livro "

A professora retrata, nas 312 páginas da obra, com anexo e cronologia, e 53 imagens, todos os espaços pelos quais Antonieta circulou até a sua morte, em 1952, com 50 anos. Tudo isso com registros sobre o contexto histórico de uma época ainda mais racista e machista, ressalta a educadora, feminista e militante negra, que aproveitou o isolamento social da pandemia da Covid-19 para se dedicar a escrever o livro. Ela explica que seu interesse por Antonieta iniciou ainda quando criança. Na casa dela, em Florianópolis, quase todos os seus irmãos eram batizados com nomes iniciados em J. O quase é porque, no meio de todos eles, havia uma Antonieta que chamava a atenção.

Ela lembra que sua mãe e tia eram professoras normalistas e essa mulher, famosa, começou a ser um nome importante em sua casa. “São muitos encontros, aproximações, e eu sabia, lendo biografias de mulheres negras do mundo e me perguntava o motivo de não haver uma biografia sobre a Antonieta. Para se contar a história de Santa Catarina, do Movimento Negro, da Educação, tinha que passar por ela.” Jeruse acrescenta que a ideia surgiu quase sem querer. Ela escrevia um artigo sobre a trajetória da educadora e deputada quando pensou em uma abordagem diferente sobre o assunto.

Foram quase três anos de pesquisas e entrevista. Durante esse período, o grande desafio foi, de fato, encontrar materiais sobre a trajetória de Antonieta de Barros porque o acervo sobre a deputada é pouco organizado no Estado e houve um incêndio nos arquivos da Assembleia Legislativa em que muito material de sua história se perdeu. Além disso, houve muita dificuldade em recuperar arquivos nos acervos públicos de Santa Catarina: alguns dizem não ter nenhum documento sobre ela, enquanto outros, de acordo com Jeruse, são desorganizados, dificultando a pesquisa.

Diante disso, a professora entrevistou antigos alunos de Antonieta, destacando a história oral no livro. Também encontrou familiares da deputada, sobrinhos-netos que falaram sobre ela e revelaram um acervo com objetos pessoais, como taças e um álbum de fotografias. Para Jeruse, o maior legado de Antonieta de Barros é a defesa que ela fez da educação como um direito de todos. “Ainda estamos longe de desconstruir a desigualdade na educação, precisamos de muitos políticos para trazer um pouco mais aqueles excluídos para cima. A educação é a solução, uma ferramenta de potencia”, defende a autora.

O livro

A educadora e ativista do movimento negro, Jeruse Romão, destaca que no dia 11 de julho de 1901, apenas 13 anos após a “abolição da escravatura”, nasceu em Florianópolis Antonieta de Barros, uma criança negra, que em 1934 se tornaria a primeira deputada de Santa Catarina e a primeira deputada negra do Brasil. Ela lembra que a cidade na época era pequena, uma das capitais de menor população, não tinha energia elétrica, calçamento, transporte, esgoto e acredita-se que nasceu em casa, de parteiras. Era terceira filha da Catarina e Rodolfo.

Ela é alfabetizada cedo, em escola particular, graças ao empenho de sua mãe, que mesmo pobre, trabalhando como lavadeira e doméstica, investiu na educação de seus filhos. Aos 17 anos, em 1918, ingressou na Escola Normal Catarinense e, desde lá, anunciava sua trajetória de jornalista e escritora, quando organizou sua primeira publicação de cunho estudantil, a revista manuscrita “A Graciosa”, e também se destaca sendo a presidente do Grêmio das normalistas. Tinha apenas 19 anos quando protagonizou esses feitos. “Identificamos a adesão à educação, sua verve de jornalista e sua verve política, como a organizadora do grêmio.”

Na década de 30, celebrou, por meio de sua coluna Farrapos de Ideias, no Jornal República, as conquistas das mulheres pelo direito ao voto, dizendo que o decreto consolidava uma realidade que ela já conhecia, qual seja a da presença das mulheres nos bastidores da política. Candidata pelo Partido Liberal Catarinense, Antonieta consagrou-se a primeira deputada eleita em Santa Catarina e a primeira deputada negra eleita no Brasil. Repetiu o feito na década de 1940, desta vez pelo PSD.

Jeruse destaca que seus mandatos foram em favor da educação “como um direito humano e de todos”, sendo uma defensora atuante do magistério, da educação superior para as mulheres, do acesso da juventude empobrecida ao ginásio e à universidade, não deixando de pautar também direitos para os jornalistas e o funcionalismo público.

De acordo com pesquisas feitas pela autora do livro, Antonieta de Barros, em entrevista ao jornal carioca “A Noite”, em 1933, diz que entrou na política a convite do seu partido, o que dá ideia de que ela já era filiada à legenda. “O que não nos surpreende, pois muitos ex-alunos dela eram filhos de ex-deputados." Na entrevista, ela diz que aceitou o convite por querer combater o bom combate.”

A autora conta ainda que pelos jornais pesquisados foram encontrados reportagens da participação de Antonieta nos comícios pelo estado. Na época ela sofreu atos de racismo e alguns homens escreviam que com a eleição de uma mulher, aconteceria que os homens passariam a usar saias e as mulheres calças. “Havia muito preconceito. Estamos falando de 1934, mas ela superou as adversidades. Ingressa no Parlamento, onde temos poucos relatos, devido ao incêndio, onde boa parte da memória se perdeu. Temos alguns discursos e, por um dia, ela chegou a ser presidente da Alesc, era secretária da Mesa na ausência do presidente e do vice.”

Autora

Jeruse Romão nasceu em Florianópolis, no dia 24 de dezembro de 1960, filha da professora Zulma Silva Romão e de Bernardino Romão. Formou-se em magistério e no curso de Pedagogia, frequentando o mesmo prédio no qual Antonieta de Barros foi professora e diretora, a sua época com outro nome, Colégio de Aplicação e Faculdade de Educação (Faed), respectivamente. É fundadora do Núcleo de Estudos Negros (NEN), organização que a partir de 1986 passou a atuar a serviço do Movimento Negro de Santa Catarina.

Na década de 1990, enquanto assessora parlamentar na Câmara de Vereadores de Florianópolis, trabalhou para elaboração da resolução que criava, no âmbito da Casa, a Medalha Antonieta de Barros. Em 2004, na condição de coordenadora do Fórum de Mulheres Negras, propôs que se criasse na Assembleia Legislativa de Santa Catarina o Programa Antonieta de Barros (PAB), do qual foi a primeira coordenadora.

Entre 2002 e 2005 foi assessora da Unesco para o Ministério da Educação. Enquanto integrante do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), estruturou uma ação que selecionou 60 mulheres negras para a frequência do curso de Pedagogia EAD, também denominado Programa Antonieta de Barros.

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