Em entrevista ao programa Cá Entre Nós, como parte do Projeto Elas, a médica ginecologista Beatriz Milanese destacou a importância da conscientização sobre a saúde íntima feminina. A especialista, que atua há mais de 23 anos na área, enfatizou que dor pélvica, seja ela aguda ou crônica, não deve ser normalizada e sempre exige investigação médica.
Segundo Beatriz, em entrevista à jornalista Maga Stopassoli, as dores pélvicas são divididas em agudas, com menos de seis meses de evolução, e crônicas, persistindo por mais de seis meses. Elas podem estar relacionadas a diversas condições, incluindo infecções urinárias, ginecológicas, e doenças sexualmente transmissíveis, muitas vezes subdiagnosticadas no Brasil.
"Toda dor do umbigo para baixo em mulher, cíclica ou não, deve ser investigada. Pode existir mais do que uma causa na mesma mulher. Infecções urinárias, infecções ginecológicas, infecções que geralmente são causadas por doenças sexualmente transmissíveis, e que são subdiagnosticadas no Brasil. Por quê? Porque a maioria delas são bactérias que, apesar de serem sexualmente transmissíveis, são silenciosas por algum tempo", expõe a especialista.
Ela especialista alertou sobre a normalização da dor pélvica, especialmente a cólica menstrual intensa, que pode ser indicativo de endometriose, uma doença comum que afeta muitas mulheres. Ela criticou a cultura que minimiza o sofrimento feminino, chamando atenção para a necessidade de não somente reconhecer, mas tratar a dor com a seriedade que merece.
Ouça a entrevista na íntegra (o texto continua a seguir):
A importância da prevenção e diagnóstico precoce
A doutora Beatriz Milanese enfatizou a importância da educação sexual e do uso de preservativos para prevenir infecções que podem causar dores pélvicas.
Desmistificando tabus, ela defendeu a responsabilidade individual no cuidado com a própria saúde e a importância de buscar ajuda médica diante de qualquer sintoma incomum. A médica também destacou a necessidade de um diagnóstico precoce, que pode evitar o agravamento de doenças como a endometriose.
A médica detalhou os desafios enfrentados no diagnóstico e tratamento de dores pélvicas, incluindo a falta de um exame físico adequado e a dependência excessiva em exames de imagem, que nem sempre identificam todas as condições, como certos tipos de endometriose.
"Existem mais de 20 causas de dor pélvica, então a gente tem que cercar por todos os lados. Existem as causas gastrointestinais também. É muito comum a associação de problemas ginecológicos com intestino ou síndrome do intestino irritável ou intolerância à lactose, e, às vezes, a paciente tem duas causas diferentes para a dor dela", explicou.
No que tange ao tratamento cirúrgico, a médica abordou as inovações na área, como a cirurgia robótica, que, apesar de não estar disponível universalmente, representa um avanço significativo na precisão e recuperação dos procedimentos.
Ela destacou a importância de uma equipe especializada e experiente para garantir o sucesso das intervenções, evitando múltiplas operações que podem resultar de cirurgias incompletas.
"Mulheres, dor não é normal. Não aceite um profissional dizer que não tem nada, se tem dor, procure outra opinião. É por isso que eu queria falar desse assunto. Porque é um assunto que é recorrente. No meu consultório, eu faço cirurgia videolaparoscópica, robótica. E meu carro chefe é endometriose. É a doença que eu mais atendo no consultório. Há mais de 23 anos na cidade. Não muda. A maioria das pacientes vem com diagnóstico já muito tardio".