Motoristas de aplicativo protestam por mais segurança em Criciúma na tarde desta quarta-feira, 3. A manifestação surgiu após a morte de Vagner Francisco, de 28 anos de idade, na noite de terça-feira, em Balneário Rincão. O motorista saiu de Criciúma para uma corrida no Rincão por volta das 20h30. Após compartilhar o destino da corrida em um grupo de Whatsapp, prática comum entre os motoristas como medida de segurança, a vítima não mandou nova mensagem de que tinha concluído o trajeto, o que acendeu o alerta nos companheiros. O homem foi encontrato morto dentro do próprio carro na manhã desta quarta-feira, na rodovia Antônio Pedro Cândido.
Ainda na noite de terça-feira, os motoristas iniciaram uma mobilização via redes sociais na busca pelo colega.
Os mais de 50 motoristas se reuniram por volta das 14h no estacionamento do Parque das Nações Cincinato Naspolini, no bairro Próspera. Com faixas e balões pretos em sinal de luto e pedidos de respeito e mais segurança, eles saíram em direção à AVenida Centenário. Mas não sem antes entoar a oração do Pai Nosso. Inicialmente eles pretendiam ir até o local onde o corpo do motorista foi encontrado, em Balneário Rincão, mas definiram por seguir até o bairro Pinheirinho.
“Segurança quase zero”, denunciam motoristas
A falta de segurança é apontada pelo presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Sul Catarinense (Ampasc), Robson Cechinel. “Segurança quase zero. Enquanto o passageiro sabe quem é o motorista, o contrário não acontece até o início da viagem. Neste tempo de pandemia, a insegurança é maior ainda, devido a obrigatoriedade do uso de máscaras.”, revela.
As duas hipóteses levantadas pela investigação da Polícia Civil são de homicídio ou latrocínio. No começo da tarde desta quarta, cerca de 50 motoristas de aplicativo iniciaram a manifestação em Criciúma, no Parque das Nações. Lorison Donato Estaviski, motorista de aplicativo presente no protesto, falou com a reportagem do 4oito e cobrou mais atenção das autoridades para a segurança dos trabalhadores.
"A criminalidade cresce dia a dia e o poder público não está preocupado, creio eu. Já morreram vários motoristas de aplicativo e não resolveram os casos. Da mesma forma que quando morre um policial e eles vão lá e conseguem capturar, porque não fazem o mesmo com o motorista do aplicativo? É um pai de família, filho, esposo, trabalhador e ser humano. O valor da vida está sendo apagado. Nós não estamos na rua porque queremos, estamos porque precisamos trabalhar e temos família para sustentar", disse o manifestante.
Segurança é o mesmo pedido de José Carlos Neves, motorista de aplicativo há quase três anos. "O que mais falta para nós é a segurança, é o que a gente mais debate no nosso grupo. Não nos sentimos seguro com o aplicativo e nem com a polícia, a gente não se sente seguro com ninguém", disse. Ele falou que os colegas da vítima vão conversar com a família para entender as circunstâncias do crime. "Vamos conversar com a família para entender como foi", salienta.
Sobre a morte do motorista na noite dessa terça-feira, Cechinel fala que a Ampasc entrou em contato com Uber e com o 99, mas ambas ainda não haviam retornado. “Queremos saber se esta viagem era por um desses aplicativos ou não. Nossa associação é contrária a práticas de corridas por fora dos aplicativos (PF), pois não tem segurança alguma para o motorista. Se já pelos aplicativos é inseguro.
Problema recorrente
Presente na mobilização, o motorista, Nei Lopes, que atua na função desde que os aplicativos chegaram à Criciúma já sentiu na pele a insegurança. “Em fevereiro, a pessoa tentou me roubar em uma viagem, tentou me esfaquear, entramos em uma briga corporal, consegui frear, bateram na traseira do meu carro e a pessoa saiu correndo. A minha sorte é que era uma pessoa sozinha senão teria acontecido alguma coisa comigo. Eu não estaria aqui. Uma semana a gente fica traumatizado. Desconfia de todo mundo e aí vai se acostumando. Não com a situação, mas vai se adaptando porque precisa daquilo ali. Dificuldade de emprego. Quando você não tem disponibilizado de um emprego melhor vai fazer Uber”, disse.
Lopes reforça ainda mais a falta de segurança. “A gente é refém da insegurança. Prestamos um serviço onde infelizmente ninguém olha por nós. As reclamações de passageiros são inúmeras, mas não olham o que a gente passa. Com a carreata buscamos, primeiro fazer uma homenagem ao nosso amigo, comover a sociedade”, pontua.
Terceiro caso
Essa é a terceira vez em menos de um ano que motoristas de aplicativo cobram mais segurança em Criciúma. No dia 25 de outubro, manifestantes saíram em carreata pela cidade em homenagem a Clovis da Silva Barbosa, morto em Içara enquanto trabalhava. No dia 17 de fevereiro deste ano, trabalhadores foram até a Delegacia da Polícia Civil pressionar pela prisão de uma mulher que tentou assaltar um motorista de aplicativo durante uma corrida, na qual o homem reagiu e acabou ferido com uma facada na orelha.
No caso da tentativa de assalto, a mulher depôs à polícia e foi encaminhada ao presídio Santa Augusta em flagrante por tentativa de roubo. Em outubro do ano passado, dois homens tiveram a prisão decretada pelo latrocínio em Içara.