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“Muita gente me diz que sou um milagre"

A frase é do morador de Imbituba, Luciano Martins, que permaneceu 184 dias hospitalizado para curar a Covid-19

Por Marciano Bortolin Imbituba, SC, 27/03/2021 - 10:02
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

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184 dias. 4.416 horas. Mais de seis meses. O que se pode fazer neste período? Para muitos, um sopro; para outros, uma eternidade. Para Luciano Martins, de 42 anos de idade, a luta pela vida. O morador de Imbituba, no Sul do estado, é uma das provas vivas de superação neste um ano de pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Segundo catarinense a ficar mais tempo internado, hoje o morador de Imbituba passa por uma série de tratamentos para se livrar das sequelas deixadas pela doença. Ele trilhou um longo caminho até aqui. E trilhou deitado, horas em um leito de hospital, horas na cama de seu quarto.

Mas para chegar ao presente, é preciso voltar ao passado, mais precisamente a abril de 2020, quando a  doença ainda era recente e pouco se sabia. Foi naquele mês que o gerente de logística de uma transportadora da família testou positivo. “Fui ao hospital e inicialmente diagnosticaram como sendo sinusite e me deram tratamento. Passaram-se mais alguns dias e no domingo eu retornei ao hospital à noite com febre de quase 42ºC e o médico fez o teste e me deixou internado com suspeita. Fiquei no hospital de Imbituba internado por cinco dias. Fui piorando, ficando sem ar, a febre tinha hora que controlava e tinha hora que não. Tinha muita dor de cabeça e após esses sintomas que foram agravando, veio o resultado e o hospital não tinha UTI na época. Alguns profissionais conversaram com a minha família, falaram que eu estava mal e que era melhor me transferir para outro hospital com o UTI porque talvez eu ia precisar. Alguns médicos amigos da família conseguiram a transferência para Tubarão. Chegando no leito normal eu apaguei. Entrei em coma e fiquei por 28 dias intubado”, conta.

O catarinense que ficou mais tempo internado para tratamento da Covid-19 é um xará do morador de Imbituba. Luciano Turatto, de Curtibanos e 45 anos de idade, ficou 188 dias hospitalizado, quatro a mais, dos quais, 172 foram em UTI.

“Que horas são? Que dia é hoje? O que está acontecendo?”

Martins lembrou que na internação, acabou perdendo a noção do tempo e a não ter certeza do que se passava ao seu redor. “Passamos a não ter certeza de nada dentro do hospital porque a sedação é muito grande. Quando eu saí da sedação, parecia que eu estava em uma festa rave. Eram muitas luzes em cima de mim, barulhos de máquinas e as pessoas me chamando, a enfermeira me acordando. Não consegui ‘sintonizar’ na hora. Passou mais algumas horas ou dias, não consigo distinguir, veio o médico dizer que eu estava na UTI e que eu tinha ficado 28 dias intubado”, diz.

Ele diz ainda que tem leves lembranças de sonhos. “Sonhava muito que tinham pessoas tentando me matar. Eu entrava na água, respirava dentro da água, pessoas atiravam em mim, mas não acertavam porque a água me protegia. Outro é que eu estava em um lugar muito doente, pessoas cuidando de mim e quando eu acordava já estava curado”, relata.

Um alívio que pouco durou

O alívio de ter saído da UTI durou pouco, porque logo Martins teve que retornar para tratar de infecções e bactérias. Apesar de não ter mais Covid-19, as bactérias eram relacionadas à doença. “Tive que fazer perfurações nos dois lados das costas para tirar o líquido nos pulmões. Viram que eu não tinha mais Covid-19 e me transferiram para a UTI normal, onde fiquei pouco mais de dois meses e meio fazendo todo o tratamento. Perdi todos os movimentos, pois usaram bloqueador muscular porque tinha muita força. Eu tinha febre todos os dias, dores no joelho mesmo sem movimentar a perna. Sete dias antes de sair do hospital me mandaram para um quarto normal porque eu estava melhor, apenas com uma bactéria. Então viram que eu poderia ir para casa, eu não queria sair do hospital, porque moro sozinho e teria que ir para a casa dos meus pais, tirar o conforto deles e tudo isso passava pela minha cabeça”, cita.

Ao receber alta hospitalar, outra preocupação surgiu na cabeça de Luciano. Morando sozinho, ele teria que voltar à casa dos pais, mas sentia que iria incomodar e tirar a privacidade do casal, porém, toda a família estava preparada para recepcioná-lo. “A família já estava preparada, eu não sabia. Prepararam uma recepção com conforto e estão fazendo tudo para mim. O meu irmão Cristiano que mais me surpreendeu, porque ele foi salva vidas, nunca trabalhou como enfermeiro e passou a cuidar de mim. Além disso, eu  cheguei em casa no dia 8 de outubro, aniversário dele e ele diz que este foi o melhor presente de sua vida”, recorda.

Tratamento

Ao chegar em casa, Luciano já iniciou as sessões de fisioterapia. “Miinha sobrinha, que é fisioterapeuta, começou a me atender, depois a prefeitura forneceu um profissional também. Faço tratamento psicológico a cada 15 dias, tenho nutricionista e tive fonoaudióloga. No começo usava fraldas e hoje ainda tomo banho com auxílio. Não tenho resquícios da doença em si, tenho do que ela provocou, essas sequelas. Caminho com ajuda, alimentação tem que ser na boca porque agora que estou começando a conseguir movimentar os braços”, conta.

Um dos tratamentos de Luciano Martins:

 

“Eu recebi uma benção de Deus”

“Tem muita gente que me diz que sou um milagre. Eu não fui um milagre, eu recebi a benção de Deus de prosseguir nesta vida”. A frase de Martins retrata um pouco de seu sentimento com relação à recuperação. Recuperando a fala, ainda com dificuldades para enxergar as palavras enviadas pelo Whatsapp, ele vai conquistando uma vitória por dia com esforço próprio e ajuda daqueles que o amam. “Milagre para mim é uma pessoa que recebeu um diagnóstico médico de cinco, seis meses de vida e se recuperou. Isso para mim é um milagre. Eu recebi uma benção de Deus. Muitos amigos, familiares que oraram por mim, pedindo que Deus me desse esta benção. Tenham fé, acreditem, seja qual for a religião, pois Deus é o mais poderoso e ele pode tudo. As pessoas, quando têm fé no seu pedido, conseguem a interseção de Deus e ajudar o próximo”, frisa.

Além de trabalhar na empresa da família, o imbitubense achava tempo para cursar a faculdade de Direito e concluir a graduação está entre os seus objetivos. “Falta um ano e depois que me recuperar irei voltar a estudar”, revela.

O pedido de quem sofreu com a doença

O país e o estado vivem o pior momento desde o início da pandemia, e o recado de Luciano é direto. “Vamos ter respeito, não vamos nos aglomerar., vamos ter respeito ao próximo. Se pode ficar em casa. Fique! tem que trabalhar? Trabalhe! Mas com todos os cuidados. Tudo vai ajudar. Tenha proteção, consciência no que está fazendo. Não vão em festas, como têm alguns fazendo. Em grande parte, quem está levando a doença para casa são os jovens. Levando para os mais velhos. Se os jovens só saírem para trabalhar e voltar, não vão afetar os mais velhos. É uma guerra invisível e temos que ter preparo mental e físico. Vamos ter respeito pelo próximo, não se aproximando, mantendo distância, usar álcool, máscara, se possível luva”, pontua.
 

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