Um filme que se passa inteiramente dentro de um ônibus e debate as construções de utopias. Assim será o filme Partida, com a direção de Caco Ciocler. O ator conversou com a Rádio Som Maior no programa Do Avesso desta terça-feira, 16. Além do seu filme, Partida, Caco falou sobre sua carreira e o momento em que a arte se enfrenta com a pandemia do novo coronavírus.
Caco conta com mais de 15 personagens na bagagem e com aproximadamente 25 anos de carreira. “Personagens são como como os filhos: a gente gosta de todos, educa todos, sabe a importância de todos, mas a gente tem preferência por características de um, de outro, nenhum é perfeito, mas o conjunto é o que conta”, relembra.
O filme se chama Partida e aborda questões psicológicas e políticas. A ideia surgiu um ano antes do início das filmagens, quando planejava como comemoria um réveillon. “Eu estava tomando banho e tive a ideia de passar o réveillon com o Mujica. E a gente queria algo que não fosse muito caro e perto e pensei ‘Porque a gente não passa o réveillon com o Mujica?’, porque ele mora em um local muito humilde e rural, mas as pessoas comentam que ele recebe as pessoas que vão lá”, explica o diretor.
No início, os colegas de Caco acharam a ideia um pouco maluca, mas em 2018 a ideia que era para festejar o réveillon se tornou um filme. “O filme se baseia em uma atriz que resolve se candidatar a presidente da República e percorre a longa trajetória para se encontrar com Mujica”, explica. “Ela decide se candidatar pelo temor daquele momento político”, completa.
A ideia inicial era de se passar dentro de um carro, porém a equipe foi aumentando, incluindo cenas e personagens e então surgiu a ideia de o filme se passar dentro de um ônibus. “Então vi também a necessidade de incluir outras vertentes políticas na jogada”, comenta.
O longa conta com uma premissa política, devido ao momento em que se passa, já que foi gravado em 2018 com as eleições presidenciais. Ele também conta com uma temática intelectual. “Uma fatia de um microcosmos da sociedade brasileira. Porque naquela época a gente só brigava com as pessoas, com a família e nos grupos de WhatsApp. Então a ideia era colocar todas essas pessoas em um ônibus para ver o que se surgiria quando esse embate finalmente se esgotasse”, explica.
Conforme Caco, o filme também pode ser considerado um jogo entre ficção e realidade. “Ele é também sobre como é a construção das utopias, as crenças e a busca concreta das utopias. Hoje quase dois anos depois, por causa da pandemia, e hoje ganhou uma expansão sensacional”, enfatiza.
O filme será lançado na próxima quinta-feira, 18, nas plataformas digitais em meio a pandemia. Para o diretor, o coronavírus também serviu para reforçar o papel da arte. “Nesse aspecto eu sinto que a arte ganhou. As pessoas estão sentindo vontade de arte de novo”, respalda.
Para ele, são nesses momentos, como o da pandemia, em que surgem novas formatos de arte. “A arte nasce nos intervalos das certezas. A arte fala de um lugar da incerteza, da insegurança, da subjetividade do ser humano e com a pandemia as pessoas voltaram a sentir a necessidade de consumir arte. Não produto cultural, mas sim arte”, finaliza.