"Tem muita gente passando fome. Eu sou diarista, estou desempregada". O alerta da diarista Zélia Freitas, moradora do Bairro Metropol em Criciúma, esteve entre as inúmeras falas cercadas de preocupação das mais de 150 pessoas que promoveram uma reunião improvisada, sem entidades organizando nem liderando, na manhã desta terça-feira, 7, na Praça Nereu Ramos.
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Entre lojistas, comerciantes e comerciários e populares, todos sublinhavam a preocupação com as dificuldades financeiras resultantes da suspensão das atividades comerciais, em meio à pandemia de coronavírus e aos decretos de isolamento social. "Não tem ônibus. As lojas fechadas. Eu paguei carro para vir aqui para ir na lotérica, eu moro no Metropol. As lojas fechadas. Se a gente não paga as lojas vai para o SPC. E daí? Como fica? O governo não tem pena dos pobres", reforçou Zélia.
Ouça, no podcast, o desabafo da diarista e a entrevista com o deputado federal Ricardo Guidi, que acompanhou o ato:
Lojistas se mobilizam
Um comerciante, que identificou-se como Sandro*, e que mantém estabelecimento na Rua Henrique Lage, reforçou o coro da reclamação. "As contas já estão chegando desde o dia 18, quando paramos. Queremos abrir as portas, cabeleireiro, dentista, cozinheiro, todos podem abrir ou trabalhar tomando as medidas de higiene que tem que ter. E porque nós não? A gente equipa a loja, põe álcool gel, máscara, e vamos trabalhar. É o que temos a fazer agora. Tentar movimentar, senão vai chegar mês que vem e não vamos conseguir pagar nossas contas", reclamou.
Sandro* lembrou que o comércio já está demitindo trabalhadores. "Fechamento de portas já está ocorrendo, demissões já estão ocorrendo, crediário ninguém vem pagar. Ao lado da minha tem uma loja que está fechando. E eu não quero que isso aconteça, eu sobrevivo do comércio. Mais duas semanas parados, o que fazer?", observou.
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Uma nova reunião está marcada pelos lojistas para acontecer às 16h, novamente na praça. "Isso mesmo. Nós iremos nos encontrar aqui para tirar algumas diretrizes, ver o que conseguimos fazer, uma luz, algo nesse sentido. A situação está insustentável para nós, pequenos comerciantes. O sentimento foi brotando naturalmente, a dor é igual para todos", completou o lojista.
A PM orientou os lojistas a não realizar qualquer novo movimento no Centro, pois o decreto de isolamento social segue em vigência.
Achar uma saída
O deputado federal Ricardo Guidi (PSD-SC) acompanhou o movimento na praça. "É um movimento importante, uma vez que estão se organizando e expondo as suas necessidades, as suas preocupações. Temos visto vários setores abrindo, trabalhando normal, alguns setores com muita aglomeração", sinalizou.
Para Guidi, é necessário encontrar uma saída negociada para a crise. "O governo, pelo que a gente tem visto, está seguindo uma lógica adequada, mas eu entendo que deva ampliar um pouco mais, esses lojistas estão precisando abrir, e são uma das poucas classes impossibilitadas de trabalhar. Eles tem funcionários, precisam honrar suas folhas de pagamento, isso vai gerar um problema muito grave, funcionários sem receber, lojistas que não vão honrar seus compromissos, fazendo com que o negócio tenha que fechar. Isso vai gerar um problema social e sanitário muito grave", destacou. "Tem que ser melhor discutido um caminho, uma maneira de evitar as aglomerações e que pudesse dar condições para o comércio cumprir seus compromissos", completou.
Desobediência civil
Crítico da postura do Governo do Estado em relação à pandemia, o deputado estadual Jessé Lopes (PSL) segue defendendo a derrubada dos decretos do governador Carlos Moisés (PSL). "Eu fui convidado de última hora, de pronto eu aceitei o convite para apoiar. Desde o início eu tenho me colocado contra esse decreto autoritário, que impede as pessoas de trabalhar com os devidos cuidados", acenou. "Estamos a ponto de ter aqui uma desobediência civil, as pessoas precisam pagar suas contas, seus aluguéis. O governador não vai pagar essa conta deles. Eles estão prestes a abrir as lojas passando por cima das medidas, eles não aguentam mais", referiu o parlamentar.
"Nosso projeto que revoga o decreto deve passar na CCJ. Eu vim dar meu apoio, vim protestar e dar meu apoio", reforçou. "Eles estão dispostos a reabrir as lojas", comentou.
O deputado criticou, também, as medidas recentes que o Estado vem tomando em relação à flexibilização. "Tudo tapa furo, de forma remendada. Nada que vai resolver os problemas. Não resolve com leis, resolve com dinheiro. A forma de resolver é deixar eles voltarem a trabalhar. O Estado está negando, negligenciando", afirmou.