Focado na prevenção de crimes, o Programa Rede de Vizinhos tem resgatado o senso comunitário por meio de uma estratégia de policiamento organizada entre a população e a Polícia Militar. São mais de 18 mil integrantes distribuídos em 261 redes na área de abrangência do 9° Batalhão de Polícia Militar. Os números correspondem às cidades de Criciúma, Forquilhinha, Nova Veneza, Siderópolis e Treviso.
Para o comandante do 9° BPM, o tenente-coronel Mário Luiz Silva, o programa tem como objetivo resgatar o cuidado mútuo entre os moradores. “Com o passar dos anos, as pessoas se encastelaram em suas residências em virtude de uma vida cotidiana muito dinâmica, trabalho, escola, filhos, faculdade. Tudo isso faz com que as pessoas parem pouco em casa e, quando param, entram em suas residências sem saber quem é o seu vizinho”, conta.
Quando as sociedades eram menores e menos tecnológicas, havia naturalmente a formação de uma rede de proteção. No entanto, essa proximidade acabou se perdendo nas últimas décadas. “Aliado a isso, as pessoas criaram muralhas em torno de suas casas justamente para se proteger do crime”, acrescenta o comandante.
Nesse cenário, como um resgate do sentimento comunitário, entra em cena a Rede de Vizinhos. Agora, utilizando a tecnologia por meio do aplicativo WhatsApp. O grupo é criado com moradores de uma ou mais ruas e é gerenciado por um policial militar. O único objetivo é a troca de informações sobre segurança pública.
O principal vigilante das nossas casas e do nosso patrimônio é o vizinho, e não o próprio estado, efetivamente, na figura das polícias é o vigilante, o protetor por excelência e quem está incumbido da missão de proteção ao cidadão. Contudo, as polícias, em especial as militares, não são onipresentes. Nesse contexto, a importância das outras formas de vigilância para colaborarem para a segurança pública.
- Mário Luiz Silva, comandante do 9°BPM.
O programa busca chamar a população para participar ativamente da prevenção ao crime. “A segurança pública é um cenário muito complexo que exige a participação de vários atores, do poder público, polícias e outros órgãos do Executivo, Legislativo, Judiciário e do cidadão. Ele também é protagonista da sua própria segurança”, ressalta Silva.
Somente em Criciúma, a Rede de Vizinhos conta com a participação ativa de aproximadamente 13,8 mil moradores em 196 grupos espalhados pela cidade. “É um programa institucional da Polícia Militar de Santa Catarina, inovador a nível de Brasil. Isso já vem se consolidando há aproximadamente cinco anos. Criciúma é referência em números de redes de vizinhos, das cidades de mesmo porte com mais de 200 mil habitantes, é a que possui a maior rede no estado”, salienta o comandante.
Prevenção ao crime
Na rede, os vizinhos trabalham em cooperação trocando informações úteis e unicamente sobre segurança. Qualquer atitude suspeita que chame atenção dos moradores pode virar assunto no grupo de WhatsApp. E, dessa forma, contribui para impedir que crimes aconteçam.
“Sem dúvidas, é importante na prevenção ao crime, quando tem formações preteridas ao crime acontecer, mas que dão indicativos de atitudes suspeitas. Também serve como repressão. Aquele marginal que está no curso de um delito, por exemplo, arrombando um veículo ou que está pulando um muro para praticar o furto e o proprietário é informado pelo vizinho que está do outro lado da rua", enfatiza o comandante.
A cada rede que se forma, a residência é identificada com uma placa ‘Rede de Vizinhos’. Isso é claro que coage o marginal ou, pelo menos, demove ele da tentativa criminosa porque sabe que naquele ambiente há uma organização da sociedade no combate ao crime.
- Mário Luiz Silva, comandante do 9°BPM.
O uso da tecnologia e a troca entre os moradores e a Polícia Militar se tornou fundamental para a resolução de crimes. O comandante cita como exemplo o caso do assalto ao Banco do Brasil, em Criciúma, no ano de 2020. “Algumas informações por onde os marginais passaram e por onde saíram da cidade foram extraídas da Rede de Vizinhos”, relembra.
Uma rede conectada
Para a presidente da União das Associações de Bairros de Criciúma (UABC) e da Associação de Moradores do Bairro Nossa Senhora da Salete, Andréia Zomer, o programa estabelece um contato ainda mais próximo da comunidade. “A primeira coisa que implantamos ao assumir a associação foi a Rede de Vizinhos, uma parceria que achamos muito importante junto à Polícia Militar. Quando a viatura está nos bairros, toda a vizinhança se sente mais segura”, disse.
Hoje, são várias as comunidades que contam com o policiamento comunitário por meio da Rede de Vizinhos. “Eles sempre estão presentes quando chamamos para reunião, tem o grupo de WhatsApp onde os vizinhos alertam uns aos outros quanto a indivíduos e movimentos estranhos dentro do bairro. Isso tem reforçado a segurança em Criciúma”, comenta.
Enquanto presidentes de bairro, nosso sonho é que em cada comunidade tivesse uma viatura comunitária. Porque esse contato, quando eles têm mais tempo e disponibilidade para estar no dia a dia da comunidade, faz toda a diferença.
- Andréia Zomer, presidente da União das Associações de Bairros de Criciúma (UABC).
A presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) e da Associação de Moradores do Bairro São Luiz, Nair Nazário, foi uma das pessoas que participou ativamente da implantação do programa na localidade, há aproximadamente cinco anos.
“Tudo começou fazendo reuniões de segurança junto com a Associação. Então, à época, o sargento que estava com a gente sugeriu que fizemos a Rede de Vizinhos, em que se coloca aquelas placas nas casas. Quando acontece alguma coisa suspeita, vê alguém passar, avisam no grupo”, conta Nair.
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Além do cuidado entre os moradores, o comércio também apostou na estratégia. No bairro São Luiz, os comerciantes da Avenida Santos Dumont e da Rua Carlos Pinto Sampaio criaram grupos da Rede de Vizinho para trocar informações e proteger seus negócios.
“Quando acontece alguma coisa, um comunica o outro. É para alertar, avisar e evitar o roubo e qualquer tipo de vandalismo. É nesse sentido que existe a Rede de Vizinhos”, afirma. “Hoje, ainda existe quem dá um jeito de cometer um crime. Mas, é bem menor do que era tempos atrás”, completa.
Como participar
Caso o morador sinta a necessidade de criar uma Rede de Vizinhos no bairro, o primeiro passo é mobilizar a comunidade e entrar em contato com a Polícia Militar. Para evitar que criminosos ingressem nos grupos, apenas pessoas sem antecedentes criminais podem participar. Além disso, basta ter um celular com acesso ao WhatsApp.
“Nesse programa, o policial militar é apenas um moderador. A mobilização deve ser da comunidade para não ser algo impositivo. Ela se inicia a partir da sociedade para o Estado, e não o contrário. Por isso é um sucesso”, ressalta Silva.
De acordo com o comandante do 9º BPM, é realizada uma reunião inicial com o policial militar que será o tutor daquela rede. Nesse encontro, os moradores conhecem o projeto e as regras do grupo. Não é permitido falar sobre outros assuntos a não ser segurança pública. Dessa forma, é possível manter a ordem e atingir o principal objetivo do programa: a prevenção de crimes.