Falar sobre Deus e sobre assuntos que permeiam tudo que envolve a religião é, definitivamente, um tabu. Discordar da crença de alguém apenas porque ela difere da sua, é não aceitar que há várias formas de se entender uma mesma divindade. Para falar sobre a teologia e explanar muitas das coisas que dizem respeito as religiões, o programa Do Avesso recebeu nesta quarta-feira, 13, o teólogo e professor de literatura argentino, Samuel Abreu.
Para Samuel, estudar sobre a fé e a religião é algo que o acompanha desde criança. Isso porque ele cresceu em uma família religiosa e, quando adolescente, decidiu ir mais a fundo para poder contrapor a religiosidade do sistema. “Eu queria buscar argumentos para mim mesmo”, confessou.
Segundo o argentino, a teologia parte muito de conversas, onde uma simples discussão com outra pessoa pode nos render diversas percepções. “O pessoal acha que a teologia é algo sobrenatural e estagnado, mas ela é apenas uma conversa sobre o que achamos de algo. Quando estimamos um juízo de valor do tipo ‘eu acho que Deus é isso’ você está fazendo teologia, e é na conversa onde tiramos nossas dúvidas e melhoramos nossas ideias teológicas”, afirmou Samuel.
Diálogos sobre Deus e sobre religiões são tidas como conversas sem fim, que seguem sempre se estendendo. Para Samuel, é exatamente assim que estas conversas devem ser, sem um final, já que não podemos definir Deus como uma única coisa e nada mais além disso, já que se trata de um Ser com múltiplas percepções.
E basta mudar de para perceber que Deus é uma coisa em um lugar, e algo completamente diferente em outro. O teólogo comenta que as percepções sobre Deus mudam de acordo com a cultura, que é o que nos ensina a ter uma noção sobre divindade, e que apesar de existirem muitas percepções, todas elas são válidas. “Eu tenho principio básicos cristãos que eu aplico em tudo na minha vida, como honestidade e empatia, mas não deixo isso transparecer em minhas aulas de literatura”, afirmou o professor.
Diferente do que muitas pessoas pensam, estudar teologia não é sinônimo de ser uma pessoa ativa em uma determinada religião. “A própria definição de teologia infere que você parece que precisa ser um pastor ou padre, mas você pode ser simplesmente uma pessoa comum que paga impostos e tenta questionar Deus e aprender um pouco mais dele”, destacou Samuel.
E a busca por um ser superior, muitas vezes, vem sob o desejo de sanar algum mal interno, alguma angústia atrelada a alma - e isso sim, é igual em todo lugar. “Em qualquer lugar do planeta você busca a divindade de alguma forma, tem gente que substitui a divindade e a religião pelo próprio ateísmo, e é aí que a ciência passa a agir como uma espécie de divindade. Mas no fundo, no fundo mesmo, as bases das crenças são todas as mesmas”, concluiu o teólogo.