O decreto n° 539/21 assinado por Clésio Salvaro - e divulgado nas redes sociais do prefeito - rendeu críticas contundentes do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Criciúma e região (Siserp). A determinação do prefeito de um chamado "lockdown" aos servidores públicos, desde que eles abdiquem do salário, não foi bem vista pela presidente do Siserp, Jucélia Vargas. Na avaliação da sindicalista, trata-se de um decreto nulo, pois os servidores têm garantida a prerrogativa de licença por dois anos, e uma atitude "irresponsávavel e demagoga", de um "prefeito que quer mídia e holofote".
No vídeo divulgado nas redes de Salvaro no fim da manhã desta quarta-feira, o prefeito disse que "fazer lockdown com a geladeira cheia é fácil". “De tanto perguntarem, assinei o decreto de lockdown no Paço Municipal. Sem remuneração. Não quer vir trabalhar, não tem problema. Quer se cuidar, ficar em casa, não tem problema, mas não vai receber salário", continuou Salvaro.
Jucélia contra-ataca o prefeito. Segundo a sindicalista, não está em questão não querer trabalhar, mas sim o temor do avanço da pandemia em Criciúma - a exemplo de todo o Estado. "Não é um decreto com fundamento. Nenhum servidor quer não ir trabalhar. As pessoas estão apavoradas com o SUS em colapso. As pessoas estão morrendo porque não tem UTI. Estão morrendo porque não podem ser entubadas", disparou.
A sindicalista cita o estatuto do servidor, que garante prerrogativa de licença por até dois anos sem remuneração. Segundo Jucélia, o sindicato não tomará nenhuma atitude contra o decreto 539. "A gente não vai fazer absolutamente nada, porque isso é apenas um prefeito que quer mídia e holofote. Não tem cabimento nenhum o que ele está assinando. Mais uma vez mostrando a falta de responsabilidade dele com a população e servidores. Fechando os olhos para o momento critico da cidade, como se as pessoas só não quisessem ir trabalhar", apontou.
Em Criciúma, os serviços municipais são feitos presencialmente, inclusive para pessoas em grupo de risco "todos trabalhando com os cuidados necessários, à exceção das gestantes", de acordo com resposta repassada pela prefeitura. A medida desagrada ao sindicato. "Alguns (servidores) de grupo de risco estão sendo afastados com ofertas de banco de horas ou férias. Muitos estão se sacrificando por não querer perder direito. Muitas pessoas hipertensas continuam trabalhando, como uma servidora que ia trabalhar na medida do possível, hipertensa, e que positivou e teve um quadro de piora. Os nossos servidores estão à mercê como toda a população", lamentou Jucélia.
No vídeo divulgado nesta quarta-feira, Salvaro descarta a possibilidade de um lockdown na cidade - apenas assinou um decreto que permite aos servidores se afastarem, desde que abdiquem da remuneração. Na avaliação da presidente do Siserp, não é questão de falar ou não em lockdown, mas de medidas que desafoguem a superlotação do SUS no município. Em entrevista ao Ponto Final, da Rádio Som Maior, na terça-feira, o secretário de Saúde de Criciúma falou sobre os problemas enfrentados nos hospitais do município.
"Nos últimos dois dias os números estão aumentando no Centro de Triagem e, o que é pior, o aumento de casos mais graves. Para se ter uma ideia, 34% dos pacientes (nos centros) foram positivos. Pessoas que chegam no local, faz-se o teste e muitas têm agravamento e saturação baixa. Quando se tenta encaminhar para os hospitais e UTIs, elas estão lotadas. Estamos no pior momento de pandemia, uma situação muito grave", disse Casagrande.
No município, no boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura na terça-feira, constavam 253 pacientes internados no município - 53 em UTI. Neste mês de março, foram 36 óbitos por Covid-19 em Criciúma - média superior a dois por dia. "As medidas que estão sendo tomadas são insuficientes. Coloca em risco a vida dos nossos profissionais de saúde. Estão cansados e estafados de trabalhar muitas horas por dia porque o número de pessoas que procuram o SUS é muito grande", lamentou Jucélia Vargas.
"Ninguém quer pegar licença para ficar em casa brincando, rindo e vendo televisão. Estamos todos preocupados com a vida. As pessoas em grupo de risco estão protegidas pela lei e têm que trabalhar remotamente. Os que não estão no grupo de risco vão continuar trabalhando. É um decreto estapafúrdio e infundado. Está com a assinatura dele (Salvaro), da irresponsabilidade", disparou. "Acho que o prefeito não está muito bom das ideias", concluiu Jucélia.