Mais de cem ciclistas participaram, na noite desta terça-feira, 23, de um protesto. Eles, que lutam por uma ciclovia na principal avenida da cidade, reforçaram o apelo na Centenário, perto do local do acidente que tirou a vida de um jovem de 13 anos. No fim da tarde, o adolescente pedalava pelo canteiro da Centenário - como fazem todos que usam bicicleta ali, já que não há uma faixa apropriada para bicicletas -, ele acabou se desequilibrando e caindo na pista dos ônibus, sendo atropelado por um amarelinho. Morreu no local.
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"Essa luta que a gente vem fazendo, a gente vem brigando, os amarelinhos não respeitam o ciclista, sabemos que tem ciclista que é errado, mas às vezes o motorista passa muito corrido. Um vento pode derrubar o ciclista", reclamou o ciclista Rudinei Fernandes, tio da vítima e também ciclista. "O menino talvez tenha se descuidado. Ele começou a pedalar, meu sobrinho tinha comprado uma bike para ele. Temos o Grupo do Pedal, um grupo grande, com em torno de 130 ciclistas. A gente pede à prefeitura uma ciclovia, o que a gente vem pedindo. Com essa pandemia a gente deu uma parada", contou.
Para Rudinei, esse episódio voltou a provar a necessidade de uma ciclovia na Centenário. "As pessoas não têm mais onde andar. Nessa avenida de dez quilõmetros, ida e volta, era para ter uma ciclovia já. Era para o prefeito ter feito isso. Uma tragédia na nossa família", relatou. "Vamos continuar lutando. Não queremos perder vidas. Hoje é o meu sobrinho. Amanhã pode ser outro, um pai de família. É muito triste. A gente quer mais segurança. Que o prefeito veja com carinho", completou.
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Como chegar nos lugares?
Para o ciclista Adriano Rosso, que também encorpou o protesto desta terça, a luta pela ciclovia precisa continuar. "Infelizmente perdemos mais uma vida. Estamos lutando pela nossa ciclovia", apontou. Ele lembrou a campanha que a prefeitura faz pelo uso dos parques, que contam com faixas internas para bicicletas, mas registra a dificuldade para chegar nesses locais. "Como a gente vai chegar nesse parque? Vamos voando, colocar a bicicleta no carro? E quem não tem carro? Quem tem a bicicleta para brincar com o seu filho, como faz?", indagou. "Vamos perder mais vidas por causa de uma ciclovia? A eleição está aí, vamos nos mobilizar. É vida importante que estamos perdendo. Hoje perdemos a vida de uma criança", protestou.
Adriano lembrou do passeio realizado pelos ciclistas em janeiro, que reuniu mais de mil participantes entre Criciúma e Balneário Rincão em janeiro, e que outro seria realizado em março, pela Centenário, para assinalar o pedido da ciclovia. "Fizemos um passeio até o Rincão com mil ciclistas. Infelizmente veio essa pandemia e parou tudo. Vamos em cima, vamos ver o que vai dar", reforçou.
Cada vez mais ciclistas
Para Lilian Manoel, integrante da comissão local do movimento "Ciclovia, já", que promoveu o passeio ciclístico de janeiro, o número de ciclistas aumenta a cada dia em Criciúma, o que justifica o investimento. "A gente não queria que isso acontecesse. Já foi feito o pedido há tempo pela ciclovia. Cada dia vem aumentando, mais pessoas aderindo ao ciclismo. Muitos indo para o serviço de bike, eu também, é perto. E às vezes é preciso acontecer uma tragédia para alguém tomar uma providência. Infelizmente", frisou. "Estamos há muito tempo pedindo por essa ciclovia", lembrou.
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A união dos ciclistas foi destacada por Lilian. Em poucos minutos, logo após saberem do acidente desta terça, eles já estavam mobilizados e com o protesto organizado na Centenário. "Somos muito unidos. Em questão de minutos a gente vai, comunica, somos todos muito parceiros, unidos. Foi falado que aconteceu o acidente, em minutos estávamos aqui", observou. "Soubemos logo em seguida no grupo, todos nos mobilizamos. Tinha pedal hoje, tinha treino, foi cancelado, viemos pois é o momento de a gente se unir e estar presente nessa causa", salientou.
Os ciclistas vão voltar a procurar as autoridades municipais para tentar acelerar o projeto da ciclovia. "A gente pretende retomar o projeto, falar com as autoridades, tentar tomar providências o quanto antes. Não precisar acontecer eleição primeiro. Acredito que dá tempo de isso sair do papel, pois já tem projeto, já foi prometido e só estamos na espera. Está na hora de colocar o projeto em ação", completou Lilian.
Projeto está arquivado
É de 2012 o projeto que consta na prefeitura, de construção de uma ciclovia na Centenário. Ele prevê 11 quilômetros de espaço para trânsito das bikes, desde o Bairro Nossa Senhora da Salete até os arredores do Pinheirinho.
"O projeto aqui em Criciúma vem há tempo. Está arquivado na prefeitura. O grupo começou a se mobilizar no fim do ano passado, fizemos alguns passeios, uma movimentação grande em janeiro, com 700 a 800 ciclistas, saímos daqui e fomos até o Rincão. Tínhamos outro previsto para 22 de março, estava tudo preparado, na Centenário, é onde estamos reivindicando ciclovia", comentou Sandra Rosso Nesi, também do "Ciclovia, já" e uma das organizadoras do protesto desta terça.
Sandra lembra que, na realidade urbana de Criciúma, falta lugar para as bicicletas. "A gente não pode andar em calçada, calçada é lugar de pedestre. Na via do carro é perigoso. Tem um projeto na prefeitura que seria aqui, no meio dos coqueiros. A princípio seriam cortados alguns coqueiros. Tivemos que parar por conta dessa pandemia, não conseguimos fazer a mobilização do dia 22 de março", citou. "Teve um grupo que já foi na prefeitura, já conversou com prefeito, engenheiros, vereadores também. Fomos participar de uma tribuna livre na Câmara, um debate com eles. Deixaram o horário aberto para a gente", comentou.
Para Sandra, falta muito respeito com os ciclistas. "O pessoal não respeita, os motoristas não respeitam, muitos caem de susto. Não tem respeito. Em cidades como Ermo, Turvo tem ciclovia, aqui em Criciúma não tem. Eles querem que a gente pedale em parque. Como vamos chegar lá se tem que passar em avenida?", questionou. "Criciúma é uma cidade polo, precisa ter uma ciclovia decente, para que isso não aconteça novamente. Ciclovia já, ciclovia agora, ciclovia combina com Criciúma", finalizou.
Prefeitura não se manifesta
A prefeitura de Criciúma ainda não se manifestou sobre o acidente com morte nem a respeito do projeto da ciclovia. Em nota, o município informará nas próximas horas sobre o andamento do projeto das ciclovias para a cidade que estão programadas dentro do Fonplata 1 e 2 que estão em execução.