Sindicato e relatos de professores da rede municipal de educação divergem do posicionamento da secretaria de Educação de Criciúma sobre os riscos das aulas presenciais às crianças, adolescentes e profissionais. Os números estão aí: em pouco mais de duas semanas de aula, 4% dos servidores das escolas, entre professores, diretores e funcionários, foram testados positivos para a Covid-19.
Segundo dados da secretaria de Educação, 25 alunos e 79 servidores (9 de equipe diretiva, 54 professores, 16 funcionários), em um contexto de 20,2 mil estudantes e 2 mil colaboradores, testaram positivo para o coronavírus desde o dia 17 de fevereiro, quando começaram as aulas. Na avaliação da presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Criciúma e região (Siserp), Jucélia Vargas, o governo age de forma irresponsável.
"Os governantes e o olhar de quem está dizendo que as aulas são essenciais parecem fora da realidade que estamos vivendo. Não tem uma escola que não esteja positivando professores, funcionários e até alunos com suspeitas. Está um verdadeiro caos nas escolas municipais. É medo e pressão psicológica. E o governo troca diretor, deixa sem professor... Cada dia um afastamento ou outro por conta de positivo de professor ou alguém da família", disparou Jucélia ao Ponto Final, da Rádio Som Maior, na última quinta-feira.
De acordo com a sindicalista, professores que testaram positivo, inclusive, estão sendo cobrados para manter o trabalho presencial. "Temos relatos de professores que testaram positivos e como são assintomáticos foram mandados para a escola. Estamos muito preocupados com essa situação, a falta de responsabilidade do secretário de Educação. Ele fica andando de escola a escola só dizendo que sente muito e que não queria que fosse assim", sustenta.
Um educador da rede municipal que não quis ser identificado, com medo de ser prejudicado, contou à reportagem que na escola em que trabalha, três colegas foram diagnosticados com o coronavírus e tiveram que ser afastados em ação da diretoria, contrariando a determinação que teria vindo da gerência de educação e da vigilância sanitária, de mantê-los nas escolas por não terem sintomas.
Este mesmo educador relatou que é muito difícil manter a disciplina entre os alunos, aproximadamente 20 em uma sala. "Tiram a máscara, se aglomeram nas oportunidades que tem. Mas nós temos que controlar isso. E é impossível porque precisa ter consciência e colaboração", afirmou. "Algumas realidades são diferentes. Mas o risco dentro da escola é enorme", alerta.
No entanto, a avaliação da secretaria de Educação é diferente. Para o secretário Miri Dagostim, os protocolos vem sendo seguidos e o percentual de contaminados nas escolas é considerado "aquém". "Atendo quatro a cinco escolas por dia, os pais deixam as crianças e elas obedecem marca no piso, fazem a higienização, tudo certinho. Elas levam educação para casa, orientam o pai de como se fazem as coisas na escola. A criança educa o pai em casa. Está muito positivo", afirmou Dagostim.
De acordo com dados da secretaria, 90% dos alunos frequentam as aulas presenciais. Segundo Miri Dagostim, na segunda-feira houve uma queda nesse índice. "No fim de semana a imprensa assusta um pouco e fica todo mundo naquela situação de medo. Tem momento que tu pensa 'nós vamos morrer tudo'. Temos que aprender a conviver com isso (a pandemia). Só uma diretora tem 151 alunos, escola no Laranjinha, ela respondeu 101 mensagens dos pais depois do Jornal Nacional", disparou o secretário.
As aulas são mantidas presencialmente com sustentação do Ministério Público, que as classificou como essenciais enquanto outras não-essenciais, que, na avaliação da promotoria apresentam mais riscos de contaminação, são mantidas pelos poderes municipal e estadual.
O Sisperp indica que há 66 casos subnotificados de professores contaminados pelo coronavírus e outros 71 em alunos, uma somatória de 171 incluindo-se professores e funcionários - estariam aí casos de assintomáticos que não foram afastados. Segundo Jucélia, há o temor de professores para fazer denúncias. "Na Afasc tem denúncia de uma sala com 20 alunos e só uma professora. Mas ela não pode falar, porque se fala demite, é assim que eles fazem", concluiu.
Dagostim responde às acusações e sustenta que todas as diretrizes programadas pelo Plano de Contingência estão sendo cumpridos.