Maior referência do e-commerce mundial, a Amazon anunciou no início de março um desdobramento de ações no fator de 1 para 20, o que significa que o investidor que tiver 10 ações num dia irá acordar com 200 ações no outro. O evento está programado para acontecer em 3 de junho e terá como base a posição acionária do dia 27 de maio.
Esse tipo de movimento não é nenhuma inovação de Jeff Bezos. É algo até bem comum de acontecer, principalmente no Brasil.
Aí você pode estar se perguntando...
Afinal, o que é desdobramento?
Desdobramento de ação, ou split, acontece quando uma ação é dividida em várias partes. É como tivéssemos uma pizza de 8 pedaços e a dividíssemos em 16 pedaços. A pizza segue do mesmo tamanho, com o mesmo peso e tal.
Se contar por unidade, cada fatia passa a representar 1/16 da pizza, uma redução de 50% no valor se comparar ao 1/8 da distribuição anterior. Esse foi o susto de muitos acionistas. Mas o que acontece, nesse caso, é que quem tinha uma fatia agora tem duas e, por consequência, segue dono de 1/8 da pizza.
Agora vamos transportar esse raciocínio para ações, mas transformando a pizza num montante de R$ 10.000 e as fatias em ações da empresa XPTO3, com valor de R$ 100 cada. Sendo assim, eu tenho 100 ações (lote padrão na B3) da XPTO (100 x R$ 10 = R$10.000).
Em dado momento, a assembleia da companhia decide aprovar um desdobramento de 1 para 4 das ações. Então no dia definido para a mudança, a ação começa o dia valendo R$ 25, 75% menos que no dia anterior, mas o número de ações está 4x maior. Assim, considerando o capital e a participação acionária, não mudou nada. Seguimos com R$ 10.000 investidos na XPTO, mas agora temos 400 ações, ou 4 lotes.
Se a XPTO3 fosse composta por 100.000 ações, teríamos antes do desdobramento 0,1% da empresa. Após o desdobramento, a empresa passaria a ser composta por 400.000 ações e, por consequência, nossas 400 ações passariam a representar... os mesmos 0,1% da empresa.
Mas, se não muda nada, por que desdobrar ações?
A catarinense Weg, que desdobrou suas ações no fator de 1 para 2 em 2021, em seu comunicado ao mercado, afirmou que o objetivo desse movimento foi de "ampliar o acesso de investidores às ações emitidas pela Weg, bem como diversificar a base acionária e aumentar a liquidez das ações".
Para explicar melhor, precisamos tratar de uma particularidade nossa. No Brasil o padrão é negociar de 100 em 100 ações, os chamados “lotes”. Para negociar menos que isso é preciso colocar um F ao lado do ticker, transformando a nossa XPTO3 em XPTO3F. E, por ser uma alternativa ao “normal”, a liquidez nesse mercado é sensivelmente menor, resultando em maiores diferenças entre preços de compra e venda.
Sendo assim, quando uma ação está a R$ 100, significa na prática que é preciso desembolsar R$ 10.000 para comprar um lote dela, o que torna esse segundo valor o “real” da ação se você quiser jogar na “Série A” da B3. Essa condição é o oposto das bolsas dos EUA, por exemplo, onde é possível comprar ações fracionadas. Um exemplo é a ação da varejista (e mais um monte de coisa) Amazon, que negocia por volta de US$ 3.500 (cerca de R$ 19.250) por ação, mas você pode comprar 0,0001 ação, que custaria US$ 0,35 (menos de R$ 1,93).
Agora ficou mais simples, não?
A Weg desmembrou suas ações para que um lote tivesse o preço reduzido de R$ 7.400 para R$ 3.700. Com o lote mais barato, pequenos investidores, com menor poder aquisitivo, podem investir na empresa. Esses novos investidores aumentam o volume de negociação dos papéis, o que os torna mais atraentes para os grandes investidores, como fundos de investimento e traders. Aumento de interesse normalmente resulta em aumento de valor.
Presta atenção!
Agora que você sabe como funciona e pra que serve um desmembramento, não se assuste nem se empolgue. A ação (e a empresa representada por ela) estão tão caras ou baratas quantos estavam antes.
A pizza é a mesa... Só fatiaram mais pra aumentar o acesso.