Há pouco passei alguns dias em Santiago, capital do Chile. Cheguei na noite de domingo e fui embora na manhã de sexta-feira. Fiquei lá basicamente durante uma semana útil. Mas foi o suficiente para eu sentir uma diferença gigantesca de impressão entre o início e o fim da viagem.
Domingo, passadas as 22h (horário local, uma hora mais cedo que em Brasília), chovia bastante e eu estava em um país que fala espanhol, idioma que tenho pouca familiaridade se comparado com inglês. Do aeroporto Arturo Merino Benitez, pegamos um taxi para nosso hotel, localizado no centro da capital. Nossa primeira impressão foi nada boa…
Imagine a cena: a chuva deixava a noite mais escura do que já seria normalmente. A cidade, ao contrário da fama insone de Nova Iorque, dormia. O taxi para de repente numa rua, na avenida principal da cidade, em uma calçada povoada apenas por moradores de rua. Ele aponta para algum lugar e diz “ali está o hotel”.
Olhamos para fora e vimos grades, pichação, portas de aço grosso estilo presídio e mais grades. Ele afirmou que era ao lado do café. Mas que café? Descobrimos apenas dois dias depois que atrás de um dos escudos havia sim um café, ao lado de uma loja de biscoitos. Voltando ao hotel, ele estava realmente ali. Mas não havia identificação visível e para chegar era preciso acessar uma galeria comercial. Mas a galeria era fechada com grade. Entramos no hotel, antigo e com uma iluminação fraca, o que parecia aumentar o cansaço.
Como você pode ver, a primeira impressão que tive da tão bem falada Santiago não foi das melhores. Foi horrível, na verdade. Comecei a maldizer mentalmente meus pais e alguns amigos que me “venderam” o destino como lindo, moderno, “a São Paulo que deu certo”.
Acontece que todos com quem falei, inclusive depois de voltar, e conheciam o lugar haviam estado lá antes das manifestações de 2019. E com quem eu conversava durante a estadia lá explicava que o que eu via de feio e depredado era efeito do clima criado desde então.
Mas, afinal, o que eu achei?
Apesar da primeira impressão desconfortável, os dias seguintes foram mudando a minha concepção do lugar, cada dia mostrando mais elementos diferentes daqueles do começo.
A segunda-feira não colaborou muito, já que era feriado e a cidade seguia dormente. Muito cedo pegamos o rumo de Farellones, uma vila localizada pouco antes do Valle Nevado. Esse começou bem por conta da neve que caia com força, já possibilitando uma das experiências esperadas, que era o contato com a neve. Por outro lado, a mesma neve, junto ao fluxo aumentado do feriado, acabou aumentando consideravelmente o tempo de trajeto. Mas foi um dia interessante, fechado no Restaurante Giratório, que gira lentamente no 16º andar de um prédio, movendo a vista enquanto você janta.
Já na terça-feira, dia seguinte ao feriado, não choveu, alguns negócios abriram, outros não. Nesse da caminhamos pela cidade pela primeira vez, conhecemos a vizinhança do hotel, que concentra marcos históricos como o Palacio de la Moneda (hoje centro administrativo do Governo), vimos Santiago de cima no Sky Costanera, localizado no maior arranha-céu da América do Sul, onde foi possível identificá-la como a metrópole que é, e estivemos na vinícola Concha y Toro. Um dia melhor que o anterior.
Na quarta-feira fomos a Valparaíso e Viña Del Mar. Esse programa em si não foi destaque, do começo atrasado em uma hora, até a quebra de expectativa causada. Mas o pós, no Teleférico, vendo a cidade de cima de outra perspectiva, com as luzes noturnas, e os diversos bares reunidos no Patio Bellavista, semelhante ao Armazém Rita Maria, de Florianópolis. Pra fechar o dia, um leve terremoto (de verdade… olha aqui), só pra ter mais um check na lista.
Seguindo o mesmo ritmo, quinta-feira foi o dia do Valle Nevado e de praticar snowboard. Como não nevava, as estradas estavamo limpas e a chegada ao complexo, que fica depois de Farellones, foi bastante rápido e tranquilo. O dia estava ensolarado, a neve estava boa, tudo estava de acordo. Chegamos pouco antes das 17h de volta ao hotel e vimos, aí sim, uma cidade viva. O comércio todo aberto, as pessoas enchendo as ruas. Era a dinâmica que eu imaginava e pensei que não veria mais.
No dia seguinte, de volta ao aeroporto, voltamos para casa.
Mas e o cenário?
Vencido o primeiro impacto, a visão dos prédios também foi ficando cada vez mais leve. Foi necessário um esforço, é verdade, mas ao “relevar” os efeitos das manifestações, era possível ver como existem praticamente duas Santiagos. Uma antiga, clássica, com prédios preservando sua identidade, ao lado de imponentes edifícios novos, espelhados, de formatos inovadores, retratando estarmos em 2022.
Além disso, a sensação de estar numa cidade como Santiago e ter ao fundo o cenário permanente das Cordilheira dos Andes é algo que eu não imaginava ser tão marcante.
Como cheguei à capital chilena, talvez não voltaria. Como saí de lá, já conto os dias para o retorno.