Criciúma Esporte Clube, o Tigre, faz hoje 75 anos.
História bonita, de muitas lutas, dificuldades e vitórias. Grandes vitórias.
Nasceu como Comerciário, até que o presidente Antenor Angeloni fez a mudança.
Ele queria que o time fosse de toda a cidade, e não apenas de uma parte.
Ele estava certo. O efeito da sua “obra" foi sucesso.
Eu comecei a trabalhar na imprensa de Criciúma como setorista do Comerciário.
Era 1977.
O estádio Heriberto Hülse era pequeno, acanhado.
Osvaldo Patrício de Souza, comerciante tradicional, era o presidente.
Ele e um grupo de amigos, apaixonados, contavam moedas para manter o time na ativa.
Comerciário usava camisa azul.
Os seus torcedores o chamavam de “bacharel”.
O estádio não tinha iluminação e por isso os jogos de meio de semana eram à tarde.
E muita gente “matava" o serviço.
Uma lembrança daquela época era um torcedor fanático andando pelas ruas, com visível aditivo alcoólico, anunciando, aos gritos:
“é hoje, bacharel!”.
Ele passava pela praça Nereu Ramos, seguida pela rua Desembargador Pedro Silva e só parava no Heriberto Hülse
No campo, conheci com a camisa azul o primeiro grande centroavante.
Arrisco em dizer, o maior de todos que passou por aqui.
Ademir Patrício, o Pezão.
Jogava muito.
Quando arrancava da intermediária na direção do gol, a bola grudava no seu pé. Não era fácil pará-lo.
Fazia gol de todo jeito.
Teve um jogo que ele fez seis gols.
Foi contra o Operário de Mafra, numa quarta-feira à tarde, no Heriberto Hülse.
O Comerciário ganhou de 9 x 0.
Mas, o gol que ele nunca esquece é aquele que não entrou.
Foi contra o Brusque, também no Heriberto Hülse, em outra quarta-feira à tarde.
Chovia naquele dia.
Na metade do segundo tempo, Pezão recebeu a bola no meio de campo e arrancou na direção do gol adversário.
Passou por um, pelo segundo, mais o terceiro, e tirou a bola do goleiro.
Gol aberto, tocou para dentro e saiu para comemorar.
De repente, ouviu que a torcida começou a rir e apontar para o gol adversário.
Olhou para trás e viu que a bola havia parado numa poça d’agua que se formou praticamente na linha.
Quando pensou em voltar para completar o gol, o zagueiro chegou antes e tirou a bola de lá.
Mas, aquele lance ficou na memória.
Dias depois, jogo contra o Internacional de Lages.
Cruzamento na área. Goleiro do Inter esperou a bola chegar nas suas mãos.
Seria uma jogada tranquila.
Mas, Ademir correu. Previu que a bola iria parar na mesma poça. Antes do goleiro.
Ele foi “encontrá-la”, e fez o gol.
A torcida foi à loucura.
Até hoje, Pezão conta tudo nos mínimos detalhes. E abre sorriso de orelha a orelha.
Porque aprendeu naquele dia a jogar com a poça.