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Em meio à tempestade no Dnit-SC, governo Moisés já pagou 35% do dinheiro prometido para BRs

Por Upiara Boschi Edição 13/05/2022
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Uma das principais marcas da retomada do governo Carlos Moisés (Republicanos) após o fim dos processos de impeachment, em 2021, foi a decisão de aportar volumosos recursos estaduais em obras nas rodovias federais que patinavam sob gestão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, órgão vinculado ao Ministério da Infraestrutura. O acerto foi alcançado em uma histórica audiência pública no Senado, em agosto do ano passado, quando Moisés prometeu ao então ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) que seriam injetados R$ 465 milhões nas obras das BRs 470, 280, 163 e 285. O que se viu desde então, além dos costumeiros cortes orçamentários de recursos federais para estradas catarinenses, foi a constatação de que onde há obras é porque existe recurso do caixa estadual.

Até agora, o governo Moisés já pagou 35,6% dos valores prometidos ao Ministério da Infraestrutura. O pagamento só é feito após as medições de obra – ou seja, o valor só saí do governo estadual quando há obras. Foram R$ 165,8 milhões pagos nas quatro rodovias federais. A maior parte na BR-470, no Vale do Itajaí: R$ 107,3 milhões, mais de um terço do total prometido para os quatro lotes em obras na rodovia. Proporcionalmente, o maior repasse foi para a BR-285, no Extremo Sul, em fase final. Lá foram prometidos R$ 15 milhões e já aportados, ainda em 2021, R$ 13,4 milhões. A BR-280, no trecho entre Araquari e São Francisco do Sul, recebeu R$ 21,4 milhões dos R$ 50 milhões prometidos. A BR-163, no Estremo Oeste, foi  que menos avançou: recebeu R$ 23,4 milhões dos R$ 100 milhões oferecidos.

O desembolso mostra que a bronca dada por Tarcísio de Freitas em fevereiro teve algum resultado. Na época, em reunião com o Fórum Parlamentar Catarinense, ele admitiu estar insatisfeito com o ritmo das obras e falou em punir empresas e até demitir superintendente do Dnit-SC se não botasse “máquinas na pista”. As obras até apareceram, mas o superintendente do Dnit em Santa Catarina, Ronaldo Carioni, acabou sendo exonerado esta semana. Uma decisão que provocou surpresa no próprio ministério, onde a orientação desde a saída de Tarcísio para assumir a condição de pré-candidato a governador de São Paulo, era mexer o menos possível na estrutura. O novo ministro, Marcelo Sampaio, é concursado do ministério e era o braço-direito de Tarcísio e tem bom trânsito com o presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal).

Carioni estava em “aviso prévio” desde fevereiro, mas a queda aconteceu duas semanas após o estudo da Confederação Nacional dos Transportes (Cnt) que apontou o trecho catarinense da BR-163 como a pior rodovia federal do país em qualquer quesito. Justamente a rodovia em que os recursos disponibilizados pelo Estado foram menos utilizados proporcionalmente. O colega Evandro Assis, do Nsc Total, escreveu sobre os motivos da queda de Carioni, incluindo questões políticas. O Dnit-SC é um feudo do senador Jorginho Mello (Partido Liberal) desde que Dilma Rousseff (Pt) era presidente da República. Em 2021, entrevistado no Plenário da Som Maior na época em que havia polêmica sobre em que lotes investir os recursos estaduais destinados à BR-470, perguntei a Jorginho sobre a influência que ele teria no órgão. A resposta, veio ao estilo Jorginho.

– Meu pai me ensinou: valente, dinheirudo e influenciador, não desminta – disse Jorginho, adaptando um antigo ditado.

Carioni é funcionário de carreira do Dnit e sobreviveu em cargos de direção do Dnit aos governos de Dilma, Michel Temer (Mdb) e Bolsonaro. O órgão chegou a ser comandado em Santa Catarina por outro nome ligado a Jorginho, Vissilar Pretto. Ele caiu em 2017, quando Jorginho, na época deputado federal, votou a favor da abertura de processo contra Temer por causa das delações do frigorífico JBS. Logo as coisas se acomodaram, mas a influência permaneceu intacta.

Que as coisas não vinham bem no Dnit catarinense, não é novidade e nem se restringe ao período em que o senador passou a influenciar o órgão. Nos mandatos de Lula e no início do governo Dilma, o petista João José dos Santos enfrentava críticas semelhantes por causa das dificuldades de avançarem obras como a duplicação das BRs 280 e 470. Quem cruza o Estado pelas rodovias federais, salvo a mais do que honrosa exceção chamada BR-101, convive com estradas muito aquém das necessidades da sociedade catarinense e do setor produtivo do Estado.

O tema vai aparecer no horário eleitoral, tenha certeza. Moisés vai tentar capitalizar o investimento de dinheiro estadual nas obras federais, Jorginho vai ter que explicar – talvez desmentir – sua influência, todos vão dizer que Santa Catarina merece mais. E merece mesmo.
 

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