Adotar é um ator de amor. Com essa frase estampada em camisetas, o grupo de protetores independentes Unidos pelos Animais, de Criciúma, resgata, cuida e oferece uma nova chance para os bichos abandonados da região. São pelo menos 25 voluntários que unem suas forças pelo que acreditam.
A idealizadora do grupo, Maria Claudete Clemes, conhecida como Detinha Farol, se define como uma protetora da causa desde que nasceu. Porém, há pelo menos 20 anos, ela decidiu transformar a paixão em sua missão de vida. Ao longo desse tempo, alguns milhares de animais já foram resgatados.
“Sempre cuidava de animais, mas eu não tinha como dar o lar temporário. Mas, agora, eu sou aposentada, meus filhos já são casados e independentes, não tenho nada para fazer na vida, já estou com 60 e poucos anos, está na hora de fazer algo de bom. Eu resolvi alugar a casa, fazer um canil e isso já faz 20 anos”, conta Detinha. Hoje, são 125 cães de todos os tamanhos, cores e idades abrigados no espaço.
Há sete anos, a protetora decidiu unir forças em prol da causa e formar parcerias por meio das redes sociais. E, assim nasceu o grupo Unidos Pelos Animais. “Uma equipe maravilhosa onde uma ajuda a outra em tudo”, define.
Quase uma tonelada de ração por mês
Para alimentar mais de 100 cães, Detinha gasta 30 quilos de ração por dia, o que chega a quase uma tonelada do alimento por mês. São R$ 8 mil em despesas por mês que incluem, além dos custos da ração, gastos com clínicas veterinárias, água, luz, aluguel, produtos de limpeza.
“Eu não ganho isso. Um dia você compra fiado, no outro paga aquele fiado e compra fiado de novo. E, assim, você está devendo para todo mundo, mas os cachorros estão comendo, eles não querem nem saber”, brinca a protetora. Atender todas às necessidades dos animais não é tarefa fácil. Por isso, o grupo costuma pedir ajuda nas redes sociais.
Além de receber doações de insumos para os cães, outra forma de obter recursos é através de um Brechó Solidário, montado no bairro Pinheirinho. Todo valor do bazar é destinado para a causa animal. “Eu peço para os meus amigos roupas, sapatos, objetos, e a gente vende bem baratinho. E aí paga o aluguel, a água, paga a menina que ajuda e fica lá o dia inteiro. O que sobra vai para a ração”, afirma Detinha.
O amor e a adoção responsável
A voluntária do Unidos Pelos Animais, Marlete Simas dos Reis, acredita que a influência familiar foi o que motivou para que ela também entrasse nessa luta. “[Os animais] chegam de várias formas. Pedido de ajuda de quem viu e se sensibilizou ou nós mesmos, vimos e já procuramos fazer alguma coisa. Nossa prioridade é a esterilização para que a situação seja amenizada, pois são muitos animais em situação de abandono”, destaca.
Assim, com os recursos e tratamentos para os animais obtidos pelo trabalho voluntário, logo, os bichos ficam disponíveis para a adoção responsável. “Doamos mediante termo de responsabilidade devidamente preenchido com todos os dados do adotante e assinado”, explica Marlete.
Pessoas que têm interesse em adotar podem entrar em contato com os através das redes sociais (@unidospelosanimaiscri) ou grupos de doação de animais da região.
Uma nova chance para mais de 1,8 mil animais
Em Cocal do Sul, a ONG Rede do Bem realiza o trabalho voluntário de resgatar, acolher e dar o tratamento necessário aos bichos abandonados. Ao longo de três anos desde a sua criação, mais 1,8 mil animais - entre cães, gatos, cavalo, bode e até um ouriço - ganharam uma nova oportunidade.
A entidade foi criada por Edsania de Souza Tavares, após a fundadora resgatar um cachorro que levou um tiro e ficou paraplégico. “A partir deste crime, comecei a enxergar os animais com os olhos do amor, larguei uma carreira profissional de 28 anos para seguir com a missão do trabalho voluntário”, conta.
Para a criadora, o propósito da Rede do Bem é devolver aos pets tudo aquilo que lhes é devido. “Desde de que assumi o serviço de caridade, meu maior objetivo é trazer simpatizantes para o movimento, pois humanos mais ou menos não servem para causa nenhuma, por isso, me dedico integralmente, apresentando os resgatados como preciosidades, as jóias da tia Edy”, afirma.
Quando resgatados, eles são encaminhados para clínicas veterinárias e, posteriormente, levados para lares provisórios ou a própria casa de Edsania. Dessa forma, além do resgate, a ONG arrecada recursos para realizar tratamento, castração e socialização de todos os animais. Assim, quando eles estão recuperados e ‘prontos’, ficam disponíveis para adoção.
“70% dos animais resgatados são adotados, muitos saem da clínica para as suas famílias. A Rede do Bem resgata animais bandeira vermelha, aqueles animais que ninguém olha para eles, porque envolve clínica, cuidados, dinheiro. Resgatar um abandonado já é difícil, imagina um abandonado e machucado. É uma doação integral do meu tempo para a causa”, enfatiza a fundadora.
Parcerias que fomentam o bem
Devido à grande quantidade de animais que sofrem maus tratos e são resgatados, é difícil dar conta de tudo sem a ajuda de parceiros. Por esse motivo, além dos voluntários que cedem lares temporários, o trabalho de Edsania é feito em conjunto com a polícia e outras autoridades.
“Contamos com delegados hoje em dia bem atuantes na causa animal, todos os casos que registramos Boletim de Ocorrência, os responsáveis pelo ato são chamados para depor, o demais cabe o trabalho da Justiça. As leis estão aí para serem aplicadas, mas precisamos levar adiante o caso”, explica.
“Como somos muito ativos, cada caso nos marca de uma forma diferente e especial. Sempre costumo dizer que somos culpados pelo bem que não fizemos”
Um novo destino através do amor
Apesar de histórias tristes e de crueldade, muitos desses animais encontram o amor e o cuidado que precisam em novas famílias por meio da adoção. Os cães, Chloe e Udo, adotados por Amanda e Fabrício Cesconetto, sabem exatamente como é receber essa oportunidade.
Por meio do perfil da Rede do Bem no Instagram (@rede_do_bem_cocal_do_sul), o casal conheceu a história da Chloe, há quase um ano. “Vimos que ela já tinha passado por quatro ou cinco feiras de adoção e ninguém a adotava. Resolvemos dar uma chance para ela”, comenta Fabrício. Cinco meses depois, veio o Udo, outro cachorro resgatado pela rede do bem para fazer companhia à cachorrinha.
De acordo com o tutor, o fato de Chloe ser uma vira-lata pode ter sido o fator que dificultou a adoção. Já o poodle Udo, apesar de ser um cachorro de raça pura, tinha sequelas de uma doença grave que, muitas vezes, afastava os possíveis adotantes.
“Ele é um vencedor da cinomose. Mexeu bastante com a gente essa questão dele ter vencido porque, antes, nós tínhamos nossas duas cachorras que acabaram morrendo por causa de uma doença e queríamos que elas também vencessem. Aí, demos essa oportunidade para ele. Na verdade, foi mais uma oportunidade para nós convivermos com eles, é a alegria da casa”, enfatiza.