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Chocolate e Prêmios Nobel

Por Dr. Renato Matos Edição 31/12/2021
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Em outubro de 2012, Franz H. Messerli, médico da Universidade Colúmbia, nos EUA, publicou no New England Journal of Medicine um provocativo artigo: “Consumo de chocolates, função cognitiva e ganhadores de prêmio Nobel”.

Como o vinho tinto, o chocolate possui altos níveis de flavonoides. 

O seu consumo teria hipoteticamente correlação com melhor desempenho cognitivo (relativo aos processos mentais de percepção, memória e raciocínio), além dos propagados (mas não comprovados) benefícios sobre o sistema cardiovascular.

O autor partiu da premissa que o número de prêmios Nobel ganhos por um país poderia servir como um marcador da função cognitiva superior de seus habitantes.

Para permitir a comparação entre países, padronizou o número de laureados por 10 milhões de habitantes, até a data do estudo.

Buscando em sites especializados, conseguiu o consumo per capita de chocolate nos países estudados. 

Na mosca: a correlação linear entre o consumo de chocolate e vencedores de prêmios Nobel foi de 0,79, numa escala de zero (sem correlação) a 1 (correlação perfeita).

A Suécia foi um país fora da curva. Pelo modelo de regressão, deveria ter 14 ganhadores, mas teve 32.

Para justificar o achado, o autor usa uma explicação pouco científica: como Alfred Nobel era sueco e o comitê que define a premiação se reúne em Estocolmo, poderia haver aí um “viés de patriotismo”.

O estudo inclui estimativas curiosas: seriam necessários 0,4 quilos adicionais de chocolate por pessoa por ano para acrescentar um prêmio Nobel a um país.

Levando-se em conta apenas o local de nascimento, o Brasil ganhou apenas um prêmio, com Peter Brian Medawar (1915-1987), nascido no Rio de Janeiro, mas educado desde a adolescência na Grã-Bretanha, onde desenvolveu as pesquisas sobre transplantes e sistema imunológico que lhe renderam o Nobel de Medicina em 1960.

Levado a sério na época por algumas publicações, o trabalho do Dr. Franz Messerli serve, hoje, como exemplo caricatural em aulas de estatística por ser uma grosseira interpretação entre correlação e causalidade.
O número de prêmios Nobel se relaciona com a qualidade do ensino, o investimento em ciência, a valorização dos pesquisadores, as condições de vida, entre outros.
Coincidentemente, onde se come mais chocolate.

Lembre-se disso quando escutar que o uso de algum medicamento, em determinado lugar, está associado a menor mortalidade.
Correlação não significa causalidade.
Significa apenas que duas coisas variam juntas na mesma direção.

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