Placebo é uma substância sem efeitos farmacológicos, mas que é percebida pelo paciente como eficaz.
Nos ensaios clínicos que testam medicamentos, vacinas ou outras intervenções, um grupo recebe o princípio ativo e o outro – chamado controle – recebe um placebo, para que os resultados observados não sofram influência dessas percepções.
A história do placebo está ligada à médica Elisha Perkins (1741-1799), que afirmava que muitas doenças podiam ser curadas tocando o corpo com hastes de metal, mais tarde chamadas "Varetas de Perkins".
Perkins justificava seus efeitos curativos através da formação de “campos magnéticos”.
Numa época de epidemia de febre amarela em Nova Iorque, Perkins foi para lá acreditando que poderia curar as pessoas com suas varetas magnéticas.
Não deu certo: ela foi infectada pelo vírus e morreu.
Outro médico, John Haygarth, resolveu tirar essa história a limpo.
Numa experiência considerada pioneira na avaliação do efeito placebo, Haygarth comparou o efeito das varetas de metal com varetas de madeira pintadas de metal em indivíduos com doenças reumáticas.
O resultado foi o mesmo.
Lembro disso quando vejo pessoas com as milagrosas pulseiras “magnetizadas”.
Ao contrário do placebo, nocebo é definido como uma substância inerte, mas que traz efeitos negativos a um paciente ou a um participante de uma investigação, geralmente por suas crenças ou expectativas negativas.
Para alguns, ser informado sobre os potenciais efeitos secundários de um comprimido ou procedimento é suficiente para provocar sintomas na vida real.
É um efeito comum na prática clínica, inclusive provocando discussões sobre até que ponto devemos informar – ou como informar – os pacientes sobre os efeitos adversos potenciais de determinado tratamento.
Numa avaliação, a droga finasterida, utilizada para tratar distúrbios prostáticos e calvície, foi administrada a dois grupos de pacientes.
A metade foi informada de que o medicamento poderia causar disfunção eréctil.
Os outros não receberam nenhuma explicação sobre possíveis efeitos colaterais.
Quarenta e quatro por cento dos participantes do primeiro grupo relataram que tinham sofrido disfunção erétil, em comparação com apenas 15 por cento no grupo não informado.
O efeito nocebo é um importante desafio na aceitação de medicamentos genéricos.
Apesar de bioequivalência, são percebidos como menos eficientes.
Chegamos às vacinas.
Pesquisadores do Centro Médico de Beth Israel, em Boston, analisaram os efeitos colaterais relatados por aqueles que faziam parte do grupo controle em diversos ensaios clínicos de vacinas.
Como acontece nesses estudos, esses indivíduos, na realidade, receberam apenas injeções de soro fisiológico – água com sal.
Escrevendo na revista JAMA Network Open, os investigadores descrevem que 35% das pessoas que receberam o placebo apresentaram efeitos sistêmicos, como dores de cabeça e fadiga.
Como esperado, aqueles que receberam a primeira dose de vacina tiveram mais probabilidade de sofrer efeitos secundários – cerca de 46%
No total, os investigadores calcularam que cerca de dois terços dos efeitos secundários comuns relatados nos ensaios de vacina contra a Covid são motivados pelo efeito nocebo, em particular dores de cabeça e fadiga.
O combate ao efeito nocebo depende de boa comunicação.
O cardiologista Bernard Lown dizia que "as palavras são a ferramenta mais poderosa que um médico possui, mas as palavras, como uma faca de dois gumes, podem mutilar assim como curar".