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A briga mais difícil do Neném do Varandas

Texto publicado no Toda Sexta

Por Adelor Lessa 04/12/2021 - 08:18 Atualizado em 04/12/2021 - 08:19

A história vencedora de Manoel Luiz Farias, o Neném do Varandas, não tem apenas começar cedo, trabalhar muito, acreditar nos sonhos, surpreender, superar, vencer crises, ser movido por ousadia e coragem.
Tem muitos casos que fogem ao roteiro tradicional. Como a “guerra contra as garotas”.

Neném tinha aberto o Varandas, década dos anos 90, no centro de Criciúma, ao lado do Banco do Brasil, local estratégico. Movimento ótimo, clientes de A a C.
Como diferencial, era o último a fechar, entrava madrugada adentro.

Isso chamou a atenção. Por várias razões, e interesses.

Numa noite qualquer, parou uma van na frente, desceu um grupo de mulheres, que se espalhou pelo restaurante.
Em princípio, apenas mulheres bonitas, bem arrumadas.
Mas, não demorou muito para ficar evidente que eram “garotas de programa”, enviadas ali para tirar vantagem do sucesso do Varandas.

Neném ficou agoniado.
Ao mesmo tempo em que elas iriam consumir, e fazer consumir, poderiam afugentar boa parte da freguesia.
Além disso, dariam uma “marca” ao local, que ele não queria.
E a partir daí, travou-se uma das suas mais difíceis batalhas.

Neném decidiu barrar a entrada das garotas.
De repente, no meio da noite, saia do balcão, esbaforido, a passos largos, toalha branca no ombro (ou na mão), e ia retirando as garotas.

Veio o movimento de reação.
A “chefe" das garotas acionou advogado.
Era muito conhecida na cidade pela “casa" que mantinha na região do bairro Primeira Linha, onde recebia empresários graúdos e algumas das principais autoridades.

A “empresária da noite" sustentava que a atitude de Neném era preconceituosa e cravada de ilegalidade. 
Como se tratava de local público (aberto a todos), ele não tinha o direito de “selecionar" o acesso.
E agora?

A empresária tinha a seu lado um dos principais advogados da cidade. Que, para servir a sua cliente, sustentou bem a tese sob ponto de vista jurídico.

Mas, o advogado também era amigo do Neném (e cliente do Varandas). Decidiu, por isso, trabalhar por um entendimento.
Começou sustentando aos dois, que é sempre melhor um acordo razoável, ou até um mal acordo, do que uma briga de desdobramentos imprevisíveis, com prejuízos certos para ambos.

De um lado, estava o Neném tentando “blindar” o Varandas, o negócio da sua vida. 
Do outro lado, a empresária da noite, buscando ampliação da área de atuação para as suas "profissionais do sexo".

Teve boletins de ocorrência registrados na polícia, denúncias no Ministério Público, Polícia Militar acionada várias e várias vezes, processos judiciais.

Mas, o advogado insistia (e acreditava) no acordo.

Depois de muito insistir, começou a colocar frente a frente, no seu escritório, Neném e a empresária da noite.
A primeira conversa foi para cada um colocar o que estava entalado na garganta. 
Tipo lavação de roupa suja. 
Cada um disse tudo o que queria e pensava.
Nenhum sinal de acordo. Mas, era o previsto.
O objetivo era “quebrar gelo”.

A partir da segunda reunião, começaram a conversar.

Ela: “Mas Neném, eu que levo clientes pra ti, eu preciso trabalhar e colocar a meninas pra trabalhar, estás ganhando dinheiro nas minhas costas, deverias me agradecer”.

Ele: “Não, não. Não é assim. O restaurante tem um nome, uma marca, eu construí um nome, minha família está lá dentro”.

Ela: “O teu restaurante é o único no mundo que tem garotas de programa jantando numa mesa, e ao lado tem famílias, com pais e filhos também jantando, e todos convivendo sem problema nenhum”.

Ele: “Vocês podem ir lá jantar, não tem problema, o que vocês não podem é acertar programa no meu restaurante. Faça isso lá fora. Não posso proibir que vocês entrem para jantar, mas não posso admitir que namorem ali e acertem os programas ali. Isso causa constrangimento. O casal ou a família que vê isso, nunca mais vai volta”.

Ela: “Aponte uma situação de constrangimento que tenha sido criada por uma das meninas que vão lá”.

Ele: “Os clientes quando reclamam, reclamam pra mim. Mas, muitos simplesmente vão, não voltam mais, e lá fora falam para amigos e parentes, e isso vai minando minha freguesia”.

Conversas e conversas, mas sem fumaça branca.
Nenhuma perspectiva de acordo.
E quase todas as noites, o Neném ficava “espantando" as garotas.

Até que um dia, Neném sugeriu: “faz um local pra ti, aqui no centro, que seja até mais reservado”.
E deu-se a luz.
A empresária alugou um imóvel também na área central, próximo do Varandas, e se deu muito bem.
E o Neném consolidou seu restaurante.

Manoel Luís Farias, o Neném do Varandas, que viveu 64 anos, e deixou muitas histórias para se contar.

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