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A difícil missão de Carlos Moisés

Por Adelor Lessa 06/05/2020 - 07:12 Atualizado em 06/05/2020 - 07:38

Junho de 1996. Governador de Santa Catarina era Paulo Afonso Vieira, eleito em 1994.

No dia 13 de junho, o governador Paulo Afonso envia à Assembléia Legislativa um Projeto de Lei que resultaria na emissão de títulos no valor de R$ 605,1 milhões, destinados ao pagamento de precatórios (dívidas judiciais).
Os precatórios de Santa Catarina somavam apenas R$ 35,4 milhões à época (referentes ao exercício de 1994 a 1996).

O episódio ficou conhecido como o Escândalo dos Precatórios, ou Escândalo das Letras.
A rigor, foi uma manobra para fazer caixa, tendo como base uma autorização presente na Constituição de 1988, que autorizava Estados e municípios a emitirem títulos financeiros para quitar os débitos judiciais acumulados.

Isso gerou uma CPI e depois um processo de impeachment encaminhado na Assembléia Legislativa para a cassação do mandato de Paulo Afonso.

O vice de Paulo Afonso era o ex-prefeito de Criciúma, José Augusto Hülse.

Na reta final do processo de impeachment, políticos e empresários importantes do Estado, do chamado andar de cima, bem de cima, procuraram José Hülse para tratar da sua posse.
Paulo Afonso seria cassado e ele assumiria como governador.
Não pediram nada.
Ele não precisava se posicionar a favor do impeachment. Apenas, que soubesse que iria acontecer.

Hülse não aceitou. Não permitiu nem que a conversa fosse concluída. E se posicionou em público pela preservação do mandato de Paulo Afonso.

Dois dias depois, o pedido de impeachment foi derrubado na Assembléia por diferença de 2 votos. Apenas dois votos.

Nos tempos de hoje, o governador Carlos Moisés está em vias de enfrentar processo semelhante.
CPI foi instalada ontem na Assembléia, com ampla maioria da oposição, para apurar a polêmica operação de compra dos respiradores, com pagamento antecipado de R$ 33 milhoes, e outras denuncias agrupadas.

Em paralelo, deve ser protocolado até sexta-feira o pedido de impeachment.

Não se trata de comparar os casos, nem as denúncias.
Nao é o caso de comparar se um é mais grave que o outro.

O foco é a circunstância política de cada momento.

Paulo Afonso teve a seu favor um partido forte, o MDB, o maior do estado à época, e em crescimento.
Um partido articulado, que fez violento movimento de pressão na Assembléia.
Era um exército em defesa de Paulo Afonso.

Eu estava lá no dia da votação do impeachment.

Galerias lotadas, pressão, ambiente de guerra. Vidros quebrados.
Deputados choravam.

E Paulo Afonso foi salvo por 2 votos.

A pergunta agora é: Moisés terá movimento semelhante a seu favor para conseguir impedir o impeachment?

O seu partido é novo, o PSL, está em formação.
Moises não articula, não mobiliza, e ninguém faz isso por ele.
Dos 40 deputados da Assembléia, não tem apoio explícito de 10.
E ainda tem a vice-governadora, Daniela Heinert, rompida com ele.

Ambiente ruim. Disparou o sinal de alerta, e de perigo a vista.

Governador terá que provar a lisura nos procedimentos e atos do seu governo, e politicamente mudar o seu jeito de ser e de fazer.
Terá que aprender a se relacionar, se articular e buscar apoios

Missão posta. E a partir de agora, cada minuto que passa, o risco aumenta

Enquanto isso, o estado tenta se levantar de uma crise que é filha da luta contra o coronavírus.
Torcendo, rezando para Santo Expedito, que nao tenha uma segunda onda do vírus.

 

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