David derrubou aquela regra do "ninguém é insubstituível".
Ele é insubstituível!
Feito em forma única. Não existe outro igual. Não existirá!
Estou triste por perdê-lo.
Mas, feliz e grato por ter tido a oportunidade de conviver com ele.
Das pessoas mais fraternas que conheci.
Homem culto, devorava livros.
Leal ao extremo. Era um leão na defesa dos seus amigos.
Quando soube que sua condição de saúde havia piorado, saí daqui cedo, fui visitá-lo, mas sem avisar.
Se avisasse, teria sido convencido por ele a não ir. Porque não queria que o vissem sofrendo.
Quando perceberam, eu estava batendo na porta.
Foi uma conversa boa, nada de baixo astral, lembramos passagens, falamos de amigos comuns, e rimos muito.
Vi que ele estava resistindo, num esforço hercúleo, mas voltei convencido que a situação não era boa.
Depois, ficamos trocando mensagens. Várias por semana.
Na última, faz uma semana, eu disse que estávamos rezando por sua recuperação e que já tinha assumido compromisso com umas três "promessas".
Ele respondeu: "pode assumir que eu vou pagar todas".
Ontem, a Kelly Mattos, jornalista da Gaúcha, companheira de microfone do David, que me passava os boletins médicos, advertiu: "situação piorou".
Disse que iria visitá-lo no sábado. Não deu tempo.
David Wagner Coimbra, filho da Dona Diva. Nascido no IAPI, bairro tradicional de Porto Alegre.
Recém formado, veio para Criciúma em 1986. Adorava a cidade.
Dizia que queria voltar a morar aqui.
De tanto ouvir isso do pai, o Bernardo anunciou, na última vez que nos encontramos, que pretendia morar um dia em Criciúma.
David foi um irmão que a vida me deu.
Dos melhores amigos que tive.
Sempre foi o mesmo David. Desde quando chegou na cidade, com poucas peças de roupa, secando as cuecas durante a noite atrás da geladeira, até os tempos em que passou a ser reconhecido como uma das maiores expressões do jornalismo e da literatura do sul do país.
Ele nunca mudou. Jeito simples, sorriso rasgado no rosto, bom papo, divertido, bem humorado. Sempre. Mesmo em momentos dificeis.
Faz um mês, ele fez 60 anos, e escreveu:
"Sessentão. Idoso. Mas, na minha cabeça, tenho outra idade. O corpo anda alquebrado de tanta luta, e na cabeça tenho entre 35 e 45 anos. O espelho confirma isso. Olho-me no espelho e vejo um cara bonitão, grisalho, experiente, com personalidade".
Com David não tinha conversa trivial, do tipo cumprir tabela. Era sempre inteligente, bom padrão.
Lá no Rio Grande os mais próximos sabiam que ele era gremista. Mas, ele nunca se abriu para o público, para consumo externo.
Só que para ver o quanto ele era gremista, quando fizemos um time de jornalistas aqui na cidade, chamado "Abraço", ele ficou responsável por providenciar o "uniforme".
Lá veio ele com 11 camisas do Grêmio.
Dos registros, duas fotos.
Numa delas (que a Janinha mandou), estamos com o pessoal do Jornal da Manhã, década de 90. Ele está com copo na mão e eu ao lado, Arthur no meu colo com a bola na mão.
Na outra (que tenho num quadro do meu escritório), eu e ele estamos indo jogar futebol em Florianópolis. Jornalistas daqui x Jornalista de lá.
David foi importante por ter implantado o jornalismo 24h no rádio de Criciúma, por ter sido editor moderno revolucionário na Zero Hora, cronista super respeitado, autor de mais de uma dezena de livros.
O melhor do David, no entanto, era o cidadão. A persona. O amigo.
Obrigado. Até um dia!