Final da década de 70. Eduardo Santos, funcionário do Banco do Brasil, agência de Criciúma, namorava a Gorete Rosso, de Araranguá.
Era minha carona segura todo domingo à noite.
Eu já estava de mala e cuia em Criciúma desde 1977, mas ia para Araranguá praticamente todo final de semana.
A “viagem" era sempre muito agradável. Conversa boa.
Mas, a parte marcante era quando o carro chegava no “topo" do Morro das Bananeiras, na Quarta Linha.
Lá de cima, tínhamos a visão de toda Criciúma.
E as nossas narinas sofriam!
Eram “invadidas" por um terrível cheiro de enxofre. Que parecia ovo podre.
Chegava a causar ardência no nariz.
Os depósitos de carvão amontoados ao ar livre, por vários bairros de Criciúma, provocavam isso.
Aproximadamente 65% do carvão extraído das minas subterrâneas na região carbonífera de Santa Catarina eram descartados como resíduo em depósitos de rejeitos a céu aberto.
Esse tipo de rejeito contêm minerais sulfetados, principalmente a pirita, que oxida e pode gerar drenagem ácida de minas, com diversos impactos ambientais e custos econômicos.
Com a chuva, a pirita entrava em combustão. E a "catinga" impregnava o ambiente.
Isso começou a mudar a partir de um evento organizado e coordenado pelo vereador Woimer Loch em 1980.
Primeiro encontro sobre Eco Desenvolvimento do Sul de Santa Catarina.
Woimer reuniu as maiores autoridades do estado e do país sobre meio ambiente.
Colocou foco na degradação ambiental da região.
O engenheiro Paulo Nogueira Batista veio representar o Governo Federal.
Era homem de confiança do presidente João Figueiredo, altamente qualificado, integrante de várias missões diplomáticas internacionais, um intelectual.
Ele ficou impressionado com o que viu.
Em sua palestra, “batizou" a região como “área crítica do Brasil” em relação ao meio ambiente.
Disse textualmente que era um dos locais mais poluídos.
Por sua sugestão, foi levado ao Presidente Figueiredo o pedido para oficializar a região carbonífera como uma das 10 áreas criticas do país.
O que ele queria, conseguiu. Chamar a atenção para o problema.
Do evento, saiu a “Carta do Sul”, que registrou as principais demandas aprovadas.
Só a partir daí que a degradação ambiental provocada pela mineração de carvão começou a ser tratada.
Não faz muito tempo. Apenas 41 anos.
Depois disso, passou a ter fiscalização e o assunto foi levado à Justiça.
Foi aí que entrou em cena o procurador Darlan Dias, do Ministério Público Federal.
Ele fez da recuperação ambiental a sua principal causa. Fez um trabalho brilhante.
Com muita persistência, determinação, estudo, e uma boa dose de ousadia.
Por sua provocação, saiu uma sentença histórica da Justiça Federal, determinando às carboníferas que recuperassem todo o passivo ambiental.
A sentença vem sendo cumprida até hoje.
Também por exigência do Ministério Público e da Justiça, as carboníferas acabaram modernizando a operação.
E aos poucos, foi mudando a imagem (e o cheiro) de Criciúma e região.
Mas, a culpa não era do carvão.
Era de quem tirava do subsolo e jogava o rejeito ao ar livre, sem nenhum cuidado.
Hoje, esteja no topo do Morro das Bananeiras, ou em qualquer outro ponto da cidade, as narinas não são mais invadidas pelo cheiro forte do enxofre.
Quanto ao Eduardo, casou com a Gorete, aposentou no Banco do Brasil de Criciúma por tempo de serviço, e os dois vivem hoje em Florianópolis.