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Não adianta lavar pelo lado de fora!

Texto publicado no Toda Sexta

Por Adelor Lessa 11/12/2021 - 09:42 Atualizado em 11/12/2021 - 11:00

Araranguá, 1988, eleição para prefeito. Histórica.
O que aconteceu naquela eleição, a cidade jamais esquecerá.

Neri Garcia, MDB, funcionario do Banco do Brasil, era o favorito.
Dau Guizzo, PDS, dono do cartório, o adversário.

Nei era tão favorito que Dau, antes de sair candidato, tentou ser vice dele.
Mas, o MDB estava tão seguro que foi com chapa pura.
O vice de Neri foi Paulo Cesar Maciel da Silva, um grande empresário, sócio da maior construtora.

As primeiras pesquisas indicavam vitória de Neri por algo em torno de 2 mil votos de vantagem.
Para a cidade, considerando o colégio eleitoral, uma “goleada".

Neri era o típico “boa gente”. Bem relacionado, simpático, filho que toda mãe queria ter.

Dau, um jovem, 36 anos, filho mais novo do maior político da história da cidade e do Vale. O ex-deputado Afonso Guizzo.
O maior “patrimônio" de Dau era o legado do pai e o sobrenome.

Mas, o que ajudava, também incomodava.
As pesquisas mostraram que o sobrenome Guizzo enfrentava algumas resistências, exatamente pela “continuidade”. Sempre os mesmos.

Entrou em campo o outro grande vencedor daquela eleição. Everaldo João.
Foi o marqueteiro, produtor e chefe da campanha.

Ele concluiu que as áreas de influência de Afonso Ghizzo já estavam naturalmente com Dau. Não precisava usar o sobrenome.
Everaldo decidiu então usar apenas o apelido. Dau. 
E assim foi em todo o material de campanha. 

Guizzo foi usado apenas com os correligionários, à boca pequena.
A vitória consagrou Everaldo.

Mas foi uma eleição disputada casa a casa, voto a voto.
No dia da eleição, a cidade virou praça de guerra.

Na apuração, uma urna de Mato Alto foi anulada. Tinha mais votos do que eleitores cadastrados.

No final, vitória de Dau por apenas 54 votos. Foi 37,63% votos para Dau, 37,39% para Neri.

O MDB passou a ver a urna do Mato Alto como “salvação da lavoura”.

Os emedebistas faziam contas e mais contas, e apostavam tudo que iriam virar a eleição naquela urna.
O pessoal do PDS dizia que a diferença iria aumentar.

Disputa passou a ser feita no judiciário. A cidade parou até a decisão em última instância.
Decisão final: impugnação da urna foi confirmada. Vitoria de Dau sacramentada.

A partir dai, entraram em campo os operadores da pacificação. Era preciso acabar com aquela clima de guerra. A cidade precisava retomar a vida normal.

Mas, quando surgiram sinais de resultado da “operação”, e as primeiras bandeiras brancas eram hasteadas, veio a campanha de out door que foi como jogar álcool na fogueira.

“Desejemos a todos 54 votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo”.

Mais de uma centena de placas em todos os cantos da cidade.
Por onde andasse, encontraria pelo menos uma.

Para o pessoal PDS, apenas uma “brincadeira”. Uma mensagem que consideravam “bem humorada”, aproveitado o fato do momento.

Para todo o MDB, foi uma provocação desrespeitosa. Coisa de quem ao invés pacificação, queria era tripudiar.

A cidade dividiu de vez.

Dias depois, Dau assumiu a governo. Mas não foi para a prefeitura. 
Fez diferente de novo.

Instalou provisoriamente o seu governo no colégio Murialdo, de uma congregação religiosa, o maior da cidade.
Enquanto isso, mandou dedetizar o prédio da prefeitura.

O pessoal do MDB ficou mais indignado ainda. Entendeu que foi mais uma provocação.

Dau aproveitou para determinar limpeza geral, lavação e pintura do prédio.

Um dia qualquer da semana, os trabalhadores estavam lavando as escadarias do Paço. 
Era sujeira de anos. 
Estavam lá empenhados, esfrega e esfrega.
Até que um cidadão contribuinte, passando no outro lado da rua, gritou:

- “Ei, ei, olha aqui ó”.

O pessoal que estava na limpeza queria terminar de uma vez e não estava interessado em qualquer tipo de conversa.
Mas, ele continuou chamando, e de tanto insistir, um deles parou.

- “Fala meu, estamos trabalhando”.
- “Estou vendo, mas não adianta”.
- “Como assim, não adianta? O que não adianta, e por que?”.
- “Não adianta limpar aí fora, a sujeira está lá dentro”.

O cidadão disse o que queria, e seguiu o seu caminho. E a conversa correu a cidade em minutos.
Foi mais lenha jogada na fogueira.
Um aditivo “graúdo" no ambiente de guerra. Que continuou por muito tempo.
Uma eleição que tem capitulo certo (ou capítulos) na história política da cidade e da região.

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