Cao Cancelier se suicidou? Inacreditável. Inimaginável.
Fiquei chocado, emocionado, consternado, derrubado.
Conheci o professor Luiz Carlos Cancelier de Olivo, até hoje reitor da UFSC, nos tempos de estudante. Éramos jovens idealistas, partilhamos sonhos de um mundo melhor.
Ele era apenas o Cao. Uma das pessoas mais doces que conheci. Fraterno, amável, bom de papo. Nunca levantou a voz, nem perdeu controle.
Para ele, não havia crise sem solução. Tudo poderia ser resolvido no dialogo, no convencimento.
Fizemos movimento estudantil juntos. Ele era da UFSC, eu da FUCRI. Montamos chapas, disputamos e vencemos eleições para União Catarinense de Estudantes.
Fomos parceiros na militância política, quando engrossamos a luta pela redemocratização do país.
Conheci Brasilia e o Congresso Nacional com ele. Fomos participar de um estágio universitário na Câmara dos Deputados, com outros dez estudantes do estado.
A vida separou nossos caminhos.
Ele seguiu mais um tempo na política, eu peguei o caminho do jornalismo. Os dois casaram, tiveram filhos, e cada um fez seu projeto de vida. A partir, encontros casuais. Mas, um sabia da vida do outro.
No ano passado, Cao foi eleito reitor da UFSC pelo voto direto. Para os seus amigos da época do movimento estudantil, foi a vitória de uma geração.
Ele fez toda a escada na universidade, degrau a degrau. Estudante, movimento estudantil, DCE, professor, mestre, reitor.
Fui na posse. E lá vi o mesmo Cao. O conciliador.
A cerimonia acontecia, quando estudantes invadiram o auditório em protesto, com palavras de ordem, tocando “bumbo”, e subiram ao palco. Quando os seguranças seriam acionados para retirá-lo, Cao não deixou. Passou a negociar com eles. Ali, em cima do palco, diante de todo mundo. Falando baixo, calmo, ouvindo.
Fechou acordo, os estudantes desceram, e a cerimônia foi concluída.
Não vou entrar no mérito do processo que corria na polícia federal em que ele estava arrolado, porque não me cabe. Não conheço o assunto, não sei o que tem lá. Acredito que ele se mostraria limpo, liso, que não desviou nada.
Mas, prefiro focar no Cao que conheci. Cidadão de origem simples, nascido em Tubarão, que foi para Florianópolis estudar jornalismo e virou reitor da maior universidade do estado, uma das mais importantes do país. Que tinha orçamento semelhante ao das maiores cidade do estado.
Ele poderia chegar a ministro, governador, prefeito da capital. Mas, terminou estatelado no chão do shopping. Ele não merecia isso!