Fui para o calçadão de Araranguá no sábado, 3 de abril, para fazer um programa especial na rádio Som Maior FM sobre o aniversário da cidade. 141 anos.
Araranguá, “cidade mãe" de Criciúma.
Durante o programa ouvi prefeito, vereador, empresários, profissionais liberais, líderes da comunidade.
Entre eles, o médico Eloir Ribeiro, diretor da Unimed local.
De repente, ele lembrou do Juca Lessa. Meu pai.
Trabalharam juntos na década de 70 para o Funrural.
É o fundo de assistência ao trabalhador rural, que encaminhava ônibus para cidades pequenas levar médicos e dentistas para as localidades distantes da área urbana.
O ônibus era pintado de verde, modelo antigo bicudo, adaptado para ser um ambulatório.
O meu pai começou como motorista, mas depois de anos de trabalho com os médicos e dentistas, acabou técnico em enfermagem. E começou ali a principal atividade da sua vida profissional.
Ele se realizava com aquilo. Atender as pessoas, levar saúde, recuperar vidas.
Se estivesse ainda por aqui, na ativa, tenho certeza que o “seu" Juca estaria na frente de batalha na luta contra o coronavírus.
Seria mais um neste exército de anjos que se entrega todos os dias para salvar vidas.
Anjos sem asas.
Heróis de branco.
Contra um inimigo desconhecido estão arriscando suas próprias vidas.
São pais, avós, filhos, tios, irmãos, que cumprem o juramento de “salvar vidas”.
Todos paramentados, que parecem astronautas pelas roupas de proteção que tem que usar.
E são pessoas que tem sentimentos.
Sofrem, estressam, cansam, choram. Mas, tem que estar sempre fortes, prontos para atender o próximo paciente.
Os depoimentos que ouvimos são arrebatadores. Derrubam qualquer um.
Tem que ter uma força extra para suportar toda aquela pressão.
Uma boa parcela da população não tem a menor idéia de tudo o que acontece dentro dos hospitais.
Na rua, há um verdadeiro “bombardeio” de informações, que foi e continua sendo enorme.
No meio, uma carga de notícias falsas que são usadas para manipular as pessoas. São as fake news.
E como tem !
Os profissionais da saúde ainda tem que enfrentar tudo isso quando terminam as suas cansativas jornadas ao refazer a conexão com o mundo externo.
Tem que testemunhar discussões estéreis, em verdadeiras guerras de torcida de políticos.
E ver muitas pessoas que insistem em se aglomerar.
Ouvem quem diz que a crise da pandemia não é tudo isso, que os números são mentirosos, que é coisa da mídia.
E milhares morrendo todos os dias.
É desanimador. Frustrante. Irritante. Causa indignação.
Mas, o pessoal da saúde vence o cansaço, as noites não dormidas, a privação de ver suas famílias.
Respira fundo, não se deixa contaminar, não desiste, dá a volta por cima e segue na missão.
Esse pessoal é demais!
Merece muitas homenagens. Nunca será demais reconhecer o que estão fazendo.
Tudo que venha a ser feito por eles será muito pouco para expressar o quanto os profissionais da saúde, de limpeza e alimentação que estão em linha de frente são importantes em um momento tão difícil.
Uma época tão sombria, em que eles se tornaram luz!
E tem que ter paciência para esclarecer, contar o que é fato, e mostrar.
Faz poucos dias um empresário foi a um dos hospitais que atende pacientes de coronavirus.
Até ali, era dos negacionistas mais radicais, com discursos ácidos, acusando a mídia de estar produzindo uma neurose coletiva com objetivos escusos.
Foi recebido por dois médicos que o levaram por todos os setores.
Uma hora depois, ele saiu de lá chorando. Copiosamente.
Confessou que não tinha noção do que acontece lá dentro.
Não esperava ver o que viu.