Se eu falar para você de Magazine Luiza, você pensa em geladeira, eletrodoméstico ou bolsa de valores?
Até pouco tempo atrás, além de grande destaque do varejo nacional, a Magalu era o Messi da Bolsa de Valores brasileira. Os investidores, desde os mais iniciantes até alguns analistas com tempo de estrada, repetiam o mantra: quem será a próxima Magalu?
Essa adoração pelas ações da empresa eram motivadas pela meteórica valorização de suas ações, tiveram seu preço valorizado em 68.725% novembro de 2015 a novembro de 2020. Sim…. Você não ouviu errado. Quase 70.000% em cinco anos. Ou, em outros termos, uma multiplicação de 687 vezes do dinheiro investido.
Se no lugar de comprar um iPhone 6 por R$ 3.500,00, preço em 2015, o investidor hipoteticamente tivesse investido esse dinheiro em ações da Magazine Luiza e sacado em novembro de 2020, teria que saber o que fazer com os mais de R$ 2 milhões que sobrariam limpos na mão depois de pagar o Imposto de Renda sobre o lucro.
O termo hipoteticamente pode ter passado despercebido antes, mas é importantíssimo no raciocínio que estamos construindo aqui. Porque, na vida real, no cotidiano do investidor, seja ele iniciante ou experiente, ao mesmo tempo que não existe bola de cristal, existe o fator humano, com suas ansiedades e incertezas.
Pouca gente investiu em ações da Magalu em 2015, por diversos motivos. Havia poucos CPFs na Bolsa naquele ano, eram 557 mil, pouco mais de 10% dos 5,3 milhões registrados na última pesquisa da B3. Além disso, o Brasil passava por momentos turbulentos economica e politicamente, que culminaram no Impeachment da presidente Dilma Rousseff no ano seguinte.
E, não menos importante, a própria empresa enfrentava uma situação crítica em 2015, em meio a um processo de reestruturação que, anos depois, se mostrou bem sucedido e levou aqueles que acreditaram (ou apostaram) nessa recuperação, a lucros impressionantes. Mas, com certeza, não de 68 mil por cento.
Vários investiram depois de 2015 e outros vários resgataram seus investimentos antes de 2020. Afinal, você não faria ao ver que seu dinheiro multiplicou 100 ou 200 vezes? O nome disso é “realizar o lucro”.
Mas por que eu estou contando essa história?
Para incentivar você a buscar empresas em situação complicada, mas com grande possibilidade de recuperação e, assim, ficar milionário com um golpe de sorte? Não! Pra isso eu indico mais a aposta na Mega Sena, que tem um custo menor, já que uma aposta de R$ 5 pode lhe render R$ 50 milhões, ou seja, valorização de 1.000.000.000%.
A história da valorização astronômica das ações da Magalu é, na verdade, uma armadilha para os entrantes da Bolsa de Valores. Esse tipo de coisa não acontece o tempo todo e, quando acontece, não é previsível. Só se tem certeza olhando pra trás, depois que aconteceu. E, ao olhar pra frente, não se sabe o que vai acontecer.
Mas eu te digo o que aconteceu...
Depois do BOOM do e-commerce motivado pelo isolamento da pandemia, a empresa, que era vista como empresa tech, comparada à Amazon, por exemplo, passou a ser avaliada como empresa de varejo, o que muda muito os critérios de precificação de ações. Além disso, com a alta da Selic, que escalou de 2% a 13,75% ao ano em poucos meses, o publico-alvo da varejista passou a ter mais dívidas e comprar menos itens não essenciais.
Por isso, desde o pico de 6 de novembro de 2020 até 6 de novembro de 2023, três anos passados, as ações de Magalu se desvalorizaram 95%. Usando o mesmo exemplo, aqueles R$ 3.500,00 teriam retornado ao investidor R$ 175. Não são 175 de lucro… São 175 que sobreviveram.
Com isso, a lição de hoje é calma!
Principalmente no começo, não é raro que as primeiras ações investidas tenham uma grande valorização. O importante é ter em mente que isso pode mudar e, principalmente, que você não é o novo gênio do mercado financeiro.
Paciência e calma não fazem mal ninguém.