Há menos de uma semana, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu elevar de 11,25% para 12,25% a taxa Selic, ou seja, um aumento imediato de 1%. Esse é um movimento bastante forte se tratamos de taxa básica de juros, principalmente se levarmos em conta que a expectativa do mercado há 12 meses era de estarmos hoje com uma Selic de algo em torno de 9% ao ano.
Além desse aumento já realizado, o próprio Copom deixou claro em seu comunicado que, mantidas as mesmas condições econômicas e fiscais de hoje, veremos mais duas altas igualmente intensas, de 1% por reunião. Confirmado esse cenário, e os aumentos previstos, chegaremos em março com a Taxa Selic no patamar de 14,25% de juros, algo inédito desde o período de setembro de 2015 a agosto de 2016, quando aconteceu o impeachment de Dilma Rousseff.
E vale ressaltar que a Selic é uma taxa definida, escolhida, praticamente imposta. Na prática do dia a dia há outros fatores definem o custo do dinheiro e, na situação atual de pouca credibilidade da gestão financeira do Governo Federal, os juros "de verdade" estão variando de 13,84% a.a. (vencimento em 6 meses) a em 15,43% (vencimento em 30 meses).
Em resumo, estamos num momento em que se endividar está muito caro e ficará ainda mais. E isso afeta, principalmente, pequenas empresas e famílias que já estão com problemas financeiros e, caso não encontrem solução, poderão quebrar.
Por isso estou muito preocupado com o Brasil e seus mais de 80% de endividados.
E nesse caos é momento de investir?
Tem uma frase que aprendi numa das primeiras aulas que tive sobre bolsa de valores, por volta de 2010 ou 2011: "Enquanto uns choram, outros vendem lenços".
Quando falo, repetidamente, no 60 Minutos, no Programa do Avesso, no Programa Adelor Lessa, nas palestras e cursos que o melhor investimento que existe é não precisar do dinheiro dos outros, é em cenários como esse que eu penso. É nessa hora que o investidor/poupador respira fundo e aproveita a tranquilidade de ter feito bem a lição de casa.
Como se a tranquilidade da alma não fosse suficiente, são momentos assim, nos quais há uma sensação de fim do mundo, de terra arrasada, quando se ouve ao longe os gritos de "corram para as montanhas!" que apresentam as grandes oportunidades de investimento, que podem representar os maiores ganhos da jornada do investidor.
Uma dessas oportunidades tem sido oferecidas pelo próprio Governo Federal, que, precisando de dinheiro para dar conta das despesas contratadas, se vê obrigado entregar retornos como estes abaixo, oferecidos na tarde desta terça (17).
Trocando em miúdos, ao investir em uma taxa de 15% ao ano, você dobra o seu dinheiro em cinco anos. Se quiser ser mais preciosista e descontar o imposto de renda, a dobra do valor acontece em seis anos.
E, se o Governo, que é o menor risco de calote, imagine quanto estão oferecendo os CDBs, LCIs, LCAs, Debêntures,...
Não é só na renda fixa
Muitas vezes esquecida, ou mal vista, a Bolsa de Valores também oferece oportunidades impressionantes em tempos sombrios como esses. E a explicação é bem simples e baseada em risco e retorno:
Se consigo garantir praticamente sem risco um retorno de mais de 15% ao ano no Tesouro, preciso que uma ação me entregue mais rendimento para compensar o risco sensivelmente maior que vou enfrentar.
E, como ações não contam com as taxas de juros da renda fixa, o retorno vem por meio de lucro e dividendos. Então, se uma ação custa R$ 50 e paga R$ 5 de dividendo no ano, é um retorno de 10%. Mas, como preciso de 20% para valer a pena o risco e a empresa não pode simplesmente "inventar" mais R$ 5 anuais de dividendos por ação, o que muda é a outra ponta, do preço, que precisa descer até R$ 25 para entregar o retorno buscado (25 x 20% = 5).
O exemplo acima, com desvalorização de 50% no preço de uma ação, é apenas ilustrativo (mesmo que possível), mas ser para explicar o que estamos vendo nos preços de ações de empresas estáveis e saudáveis, caindo 25% ou mais nos últimos 12 meses. Boa parte delas não vai quebrar, não estão em crise e muitas, por outro lado, seguem aumentando seus lucros. São apenas os investidores que tem sido mais exigentes.
E você? Está preocupado ou está investindo?